FHC usa censo para valorizar seu governo e cacifar Serra









FHC usa censo para valorizar seu governo e cacifar Serra
Presidente destaca dados sobre queda da mortalidade infantil

Uma hora e meia depois de divulgado o Censo 2000, o presidente Fernando Henrique Cardoso usou os dados da pesquisa para valorizar as realizações de sua gestão no governo.

O presidente não mencionou o nome do ex-ministro da Saúde e pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, mas destacou a queda da mortalidade infantil como um dos dados que mais o impressionaram na pesquisa.

""A década de 90 não foi perdida. A década de 90, em termos sociais, foi uma década que acelerou o processo de mudança social do Brasil", resumiu FHC.

O presidente insistiu que as políticas públicas de seu governo estiveram voltadas para os mais pobres. Reconheceu, porém, que a distribuição de renda continua desigual no país. "Nós reduzimos a exclusão social no país e ponto. Estamos, sim, combatendo a desigualdade social", afirmou.

"Claro que temos sempre a questão do copo: quando podemos ver se está cheio ou vazio", disse o presidente, usando como metáfora um copo com água que estava sobre a mesa. "Se olho para baixo, está cheio de água. Se olho para cima, não há nada."

O presidente falou por mais de uma hora sobre as realizações de seu governo durante cerimônia, no Palácio do Planalto, na qual mostrou slides com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na presença dos ministros Pedro Parente (Casa Civil), Guilherme Dias (Planejamento), Euclides Scalco (Secretaria Geral) e João Roberto Vieira (Secretaria de Comunicação).

Paradoxo
Após elogiar o trabalho do IBGE, definindo-o como independente, discordou dos dados relativos à renda e ao consumo. ""Os dados de renda não batem com a quantidade de consumo", observou o presidente.

Na sua opinião, é necessário realizar uma análise mais profunda da variação de renda no país. Para o presidente, o consumo de produtos como automóveis, geladeiras e microondas é elevado, se comparado com o nível salarial declarado.

"Parece que há alguma coisa de ilógico: ou não se consumiu tanto ou não se ganhou tão pouco. É preciso sair desse paradoxo."

A assessoria do IBGE informou que não se pode fazer uma leitura direta dos dados de consumo e rendimento, pois, enquanto a renda é pessoal, o consumo é domiciliar. Ou seja, no consumo de bens de um domicílio entra a renda de mais de uma pessoa.

FHC também insistiu, no pronunciamento, em que o combate à desigualdade de renda é um processo. "Espero estar vivo daqui a dez anos -queira Deus- para ver o Brasil nos próximos dez anos, em parte em consequência do que se plantou nessa década de 90, de início de governo", acrescentou ele, que completa 71 anos no próximo mês.

Dos resultados apresentados no Censo, FHC destacou os dados que indicam a redução da mortalidade infantil. Na sua opinião, isso se deve à medicina preventiva, que promoveu vacinação em massa, e ao aumento da rede de saneamento básico. Os dados registram 29,6 mortos a cada 1.000 bebês nascidos vivos.

"O dado da mortalidade é decisivo para o julgamento da qualidade de vida", disse FHC.

O presidente do IBGE, Sérgio Besserman, disse, durante o anúncio do Censo, ontem no Rio, que não tinha como comentar a situação de renda no país. "Os brasileiros não vão mudar seus votos por causa do Censo, mas podem fundamentar os votos."


Economia sofrerá "estresse" com PT, diz Piva
Presidente da Fiesp ressalta diferenças com partido, mas diz que "país não vai acabar" com vitória de Lula

Um dia depois de o PT ter se reunido com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o presidente da entidade, Horacio Lafer Piva, 44, afirmou à Folha que a vitória do pré-candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, irá gerar "um estresse na economia num primeiro momento".

Segundo ele, nada comparado a outras épocas. "É possível imaginar um constrangimento no Brasil com a vitória do Lula, mas o país não vai acabar", afirmou.

De acordo com Piva, o fato de o PT ter visitado a Fiesp não significa que os empresários venham a apoiar sua candidatura. Ele deixou claro que há ainda muitas divergências entre os empresários e o partido.

Folha - O que significa a ida do PT à Fiesp?
Horacio Lafer Piva - Toda vez que o PT vem aqui acham que isso significa uma espécie de alinhamento da Fiesp ao PT. Por que não é alinhamento com o PSDB quando o José Aníbal [presidente do PSDB" ou o [Antonio" Kandir vêm aqui? Por que não ocorre o mesmo com o Ciro [pré-candidato Ciro Gomes, do PPS" com quem já falei várias vezes?

A Fiesp está conversando com todos os candidatos, mas nós não somos ingênuos. Nós sabemos onde há consenso e onde não há consenso entre as propostas. Nós lemos o programa do Ciro Gomes e nos preocupamos com o tratamento a ser dado por ele à dívida pública. Nós desconhecemos a profundidade das propostas do Garotinho pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho". Nós conhecemos o José" Serra, a competência dele, a atenção que ele dá a um tema que é muito caro para nós, que é a política industrial, mas não discutimos ainda esse tema em profundidade com ele. E recebemos o programa do PT, com que temos pontos de aderências e claros pontos de rejeição.

No documento do PT, por exemplo, logo de cara o título fala em ruptura. Nós temos dito sempre aqui que precisamos desatar o nó, e não romper o nó. Falar em ruptura é como jogar gasolina em fogo. Nós somos absolutamente contra a estatização, e o documento do PT ainda fala em estatização. Somos absolutamente contra a volta do Estado empresário.

O que queremos dos candidatos é saber qual é o novo modelo econômico que estão propondo. Se esse novo modelo for ingênuo, corremos o risco de um colapso econômico.

Folha - O sr. considera o programa do PT ingênuo?
Piva - Não, mas algumas colocações necessitam de uma explicitação maior. O PT fala, por exemplo, em taxar a riqueza. Isso me lembra o imposto sobre as grandes fortunas. Em todos os lugares do mundo, esse imposto sempre teve baixa capacidade de arrecadação.
Não dá para ser contra a Alca [Área de Livre Comércio das Américas", como defende o PT. O Brasil não pode prescindir de fazer negócios com os Estados Unidos e com a União Européia. A Fiesp não vai vestir qualquer camisa.

Folha - Os empresários reclamaram dessa presença do PT na Fiesp?
Piva - Eu tenho aqui todo o espectro de apoio, desde Serristas convictos a Lulas históricos. É claro que as pessoas mais chegadas ao Lula ficam mais satisfeitas em ver o Lula aqui, e é claro que as do outro lado ficam mais insatisfeitas. Agora, eu não fico fazendo contas de quantos reclamaram e de quantos não reclamaram. Nós sabemos onde estão as nossa diferenças e as nossas convergências. Nós somos capitalistas. Nós respeitamos as leis de mercado.

Folha - O PT ainda assusta?
Piva - Eu não digo que assusta, mas há avanços que espero que consigamos fazer com as conversas ao longo dos próximos meses. Dizer que já existe uma enorme semelhança de idéias, não existe.

Folha - E se o Lula ganhar as eleições?
Piva - Se o Lula ganha, você terá um estresse num primeiro momento, mas o Brasil não ficará fora do circuito internacional durante a gestão Lula. O Brasil já aceitou o desafio da associação global competitiva. É possível imaginar um constrangimento no Brasil com a vitória do Lula, mas o país não vai acabar.
Não acho, no entanto, que esse estresse teria a dimensão de outras épocas. Se é ou não o melhor candidato, isso é uma outra coisa que só o tempo vai mostrar.

Folha - O sr. acha que essas recentes denúncias de uma suposta propina na p rivatização da Vale do Rio Doce podem afetar a candidatura de José Serra?
Piva - O Serra pode colher um pouco os frutos dessas denúncias, Garotinho pode subir para o segundo lugar, mas o que importa não é o curto prazo, e sim o médio e o longo prazo. O Serra está começando a andar por aí agora. É cedo para qualquer prognóstico.

Folha - E se o Garotinho passar o Serra?
Piva - Qual é tamanho dessa rede evangélica que apóia o Garotinho? Serra é um sujeito muito preparado. Isso não me preocupa.


Serra simula que não é governo, diz Lula
Petista diz que pré-candidato tucano foge de ligações com o governo de Fernando Henrique Cardoso

O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou ontem uma definição política da campanha do pré-candidato do PSDB, José Serra.

"É uma situação grave: ele está tentando passar para a sociedade que não é candidato do governo", disse. "Não sabe se é oposição ou governo. Tem de assumir com ônus e bônus."

Em tom de conselheiro, o petista disse que ser candidato do governo não é ruim e fez outra recomendação ao tucano: "Pessoalmente, gosto do Serra, mas ele tem de esquecer o trololó, as intrigas e futricas, como diz Fernando Henrique, e decidir". Deixou também um alerta carregado de ironia: "Se ele for bater no governo, o governo vai escolher outro".

A possível saída da disputa do pré-candidato do PSDB, desejo manifestado no momento por componentes do PFL, também foi alvo de comentário, durante entrevista ontem ao "Programa do Jô" (Rede Globo). "Estão querendo dar uma rasteira no Serra. E é gente de dentro", disse.

Ao ser convidado para um debate entre todos os pré-candidatos, que seria realizado em breve, Lula pediu a Jô que adiasse o encontro para junho, depois da definição de todos os candidatos pelas convenções partidárias.
O petista ainda sonha com um acordo com os pré-candidatos Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB), o que mudaria o cenário da disputa deste ano. "Vamos deixar para depois", disse o petista sobre a mudança da data. A emissora ainda não definiu se aceita a proposta de adiamento.

Lula estranhou uma pergunta, gravada, feita por Ciro e apresentada pelo programa. "Eu passo a vida falando bem do Ciro...", disse, ao ser questionado sobre a origem dos recursos para o projeto "Fome Zero", que faz parte do programa de governo petista.

Mas a noite era mesmo de muita cordialidade. Na sequência, o pré-candidato já acentuava que sonhar não era proibido e disse que apostava na aliança com o ex-governador do Ceará.

"Sonhar não é proibido, até o Enéas pré-candidato do Prona" sonha", emendou Jô Soares. No início do programa, o apresentador fez piadas com o caso da cobrança de propina na privatização da Vale do Rio Doce. Lula não comentou diretamente o assunto, embora tenha feito críticas ao programa de privatização.
Amanhã, às 17h, o o grupo New Yorkers for Lula (Nova-Iorquinos por Lula) pretende reunir pelo menos cem pessoas em frente à sede do banco Morgan Stanley Dean Witter (MSDW) para protestar contra o comportamento dos banqueiros em relação à pré-candidatura petista.


PFL cria factóide ao lançar Maciel à Presidência
Isolado pelos ex-aliados da base governista (PSDB e PMDB) e sem opção na sucessão presidencial, o PFL criou ontem um factóide, espalhando rumores sobre eventual lançamento do vice-presidente da República, Marco Maciel, como candidato à Presidência.

Consultado, o vice descartou, e os pefelistas admitiram: estão mesmo sem rumo e ainda torcendo por uma improvável substituição do pré-candidato do PSDB, José Serra, que possibilitaria a eles aderir à opção governista.

Na avaliação do PFL, a troca é difícil, mas não impossível, apesar de o PSDB ter reafirmado seu pré-candidato, após o acirramento de divergências entre os partidos.

A hipótese da substituição de Serra depende, segundo pefelistas, do desempenho do tucano nas próximas pesquisas de intenção de voto e do mercado financeiro, que tem demonstrado preocupação com a possibilidade de vitória do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Esses são os principais "fatos novos" que o PFL diz aguardar até 6 de junho, data marcada para que a Executiva Nacional defina a posição do partido na sucessão.

Caso a pré-candidatura de Serra seja mantida até lá, o PFL deverá formalizar a decisão preliminarmente tomada de não apoiar nenhum candidato a presidente e liberar o partido nos Estados para que façam as alianças mais convenientes para eleger governador, senadores e deputados.

Isso significará que o PFL e o PSDB estariam juntos em vários Estados. O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), fala em 15 Estados. O presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), diz que o número é menor, mas o levantamento ainda não foi fechado.

Qualquer que seja a quantidade dessas alianças, a cúpula pefelista tenta desvincular esses acordos locais de um apoio nacional a Serra, mesmo reconhecendo que o partido dará palanques ao tucano.


PPS contraria Ciro e elege nova Executiva
Presidenciável afirma, em Brasília, que denúncias contra Serra são "coisa para delegado de polícia"

Apesar da resistência do presidenciável Ciro Gomes, o PPS realiza hoje, em Brasília, reunião de seu Diretório Nacional para a eleição da nova Executiva do partido.

De acordo com pessoas próximas a Ciro, o ex-ministro preferia que a eleição não fosse realizada para evitar que ela se transforme em um novo capítulo na disputa interna que o pré-candidato vem travando com o presidente da legenda, senador Roberto Freire.

Embora negue motivações políticas para a proposta de cancelamento do encontro, o líder da sigla na Câmara, João Herrmann (SP), era um dos defensores da idéia. "Acho apenas que ela [a eleição] era inoportuna por causa da energia [que será] gasta", declarou. "Mas quando ia defender essa idéia recebi a convocação para a reunião", completou.

No dia 18 de abril, a Frente Trabalhista que dá sustentação à candidatura de Ciro -formada por PDT, PTB e PPS- cancelou, na última hora, pré-convenção conjunta que sacramentaria publicamente a coligação. Sem acordo sobre a escolha do pré-candidato do grupo ao governo do Rio Grande do Sul, os partidos realizaram encontros separados.

Depois da crise gerada pelo conflito no Sul, PTB e PDT decidiram isolar o PPS e lançar juntos candidatos em todo o país. Diante do racha, Ciro demonstrou preocupação em reunir hoje, novamente, os integrantes de seu partido.

Para não agravar as disputas internas, o ex-ministro teria desistido também da idéia de tentar articular a eleição de integrantes mais alinhados à sua candidatura para a Executiva.

Adversários do presidenciável dentro da sigla argumentam, entretanto, que ele não obteria, ainda que quisesse, placar favorável na votação. Atualmente, apesar do pouco poder efetivo de que dispõe na campanha de Ciro, Freire controla a máquina partidária do PPS.

Deverão ser eleitos hoje entre 11 e 21 integrantes para a Executiva, escolhidos entre os 105 membros do Diretório Nacional da legenda.

A previsão do partido é a de que não haja disputas internas pelas vagas. Já estão definidos os nomes do presidente -o próprio Freire- e do presidente de honra -Salomão Malina.

Membros do PPS dizem ainda que Ciro e Herrmann, hoje, respectivamente, primeiro e segundo vice-presidentes da Executiva, serão reconduzidos aos cargos.

Manifestações contrárias a Ciro e a Freire não estão descartadas durante o encontro. Mas o partido já tem o discurso ensaiado caso elas realmente ocorram. Serão todas classificadas como posições isoladas dentro da legenda.

Há hoje descontentamento de setores do PPS em relação às posiç ões adotas por Ciro -como a recente busca de uma aliança com o PFL- e também quanto à grande proximidade entre o presidenciável e o PTB. Diante disso, Freire já ameaçou publicamente não dar ao pré-candidato a legenda para que dispute o Planalto. Embora praticamente ninguém no partido acredite nessa possibilidade, não estão descartados discursos com esse teor na eleição de hoje.

Brasília
Sobre as denúncias que estão atingindo a pré-candidatura de José Serra (PSDB), Ciro foi direto: ""Poupem-me desse assunto porque isso é coisa para delegado de polícia", declarou. "Não tenho nenhuma afinidade com a falta de escrúpulos com que o Serra se comporta na política."
As afirmações foram feitas no fórum de discussão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.


Garotinho distribui livreto pago pelo Rio
Presidenciável entrega cerca de cem folders com propaganda do governo fluminense em evento em SP

Cerca de cem exemplares de um livreto de 46 páginas, ilustrado com fotos e textos com a descrição das ações do ex-governador do Rio Anthony Garotinho nos três anos de sua administração, foi distribuído ontem São Paulo, em evento na Eurocâmara.

Segundo a legislação eleitoral, o ex-governador não pode usar material impresso com dinheiro público em campanha.

De acordo com a assessoria do TSE, mesmo que o livreto não configure propaganda fora de hora -não há alusão à candidatura do então governador à Presidência-, não poderia ser usado para divulgar seus atos no governo depois de sua saída da administração, dia 5 de abril, por ter sido impresso com dinheiro público.
O ato burla o artigo 73, da lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, que diz ser proibido fazer ou permitir uso promocional em favor do candidato, partido político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços custeados pelo poder público.

Caso um partido ou parlamentar entre com recurso contra o uso por Garotinho por conta disso, o TSE só poderá apreciar a ação depois do registro oficial das candidaturas, pós convenções, que acontecem no próximo mês. Sendo aceito o recurso, as penas vão desde o pagamento de multa de até 5 a 100 mil Ufir até a cassação do registro do candidato.

O livreto, com o logotipo "30 anos em 3", lembrando o "50 anos em 5" do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), foi impresso pela agência Internad, no Rio, em dezembro do ano passado.

Feito em papel couchê em quatro cores, o livreto traz textos relatando as obras e ações do governo de Garotinho. Depois do logo "30 anos em 3", o título é: "As conquistas que fizeram o Estado do Rio avançar como nunca".

A agência é uma das cinco que prestam serviços ao governo fluminense, com contrato até setembro do próximo ano.

Segundo o sócio-diretor da agência, Albano Alves Filho, foram impressos 3.000 exemplares. "Foi encomendado um folder [livreto" como prestação de contas do governo", contou.

Alves Filho não soube informar o valor cobrado pelos 3.000 livretos. Também disse não lembrar para qual evento era destinada a distribuição dos exemplares.

Segundo a assessoria do atual governo do Rio, o material foi impresso para ser distribuído pelo então governador no início deste ano, em evento no Teatro Municipal, na capital. Também foi gravado um vídeo.
Foram impressos além dos 3.000 exemplares em português, outros mil em inglês, francês e espanhol, de acordo com a assessoria. O valor pago foi de R$ 120,4 mil. Ainda segundo a assessoria, não há nenhum exemplar no arquivo do governo.


Senadores votam em 1º turno contra verticalização
Emenda terá que passar por outra votação na Casa

O Senado aprovou ontem, em primeiro turno, uma proposta de emenda à Constituição para anular o efeito da resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que proíbe a coligação nos Estados entre partidos adversários na eleição presidencial. O projeto aprovado pelo Senado garante autonomia aos partidos para estabelecerem alianças livremente.

Ao contrário do entendimento da Justiça Eleitoral, os senadores consideraram que o "caráter nacional" dos partidos, determinado pela Constituição, não implica vinculação de alianças.

Para o presidente do TSE, Nelson Jobim, a verticalização não impede que os partidos usem outros artifícios, como coligações brancas (apoio informal) nas eleições regionais.

A proposta foi aprovada ontem por 60 votos favoráveis, 4 contrários e 2 abstenções. Ela precisa ser analisada em segundo turno no Senado -provavelmente em até duas semanas, segundo líderes do governo. Depois, ainda será apreciada pela Câmara, em comissões e no plenário.

Para que a proposta tenha efeito prático nas eleições deste ano, ela deveria entrar em vigor antes das convenções partidárias, que serão realizadas a partir do dia 10 de junho. Até 5 de julho, prazo final para o registro das candidaturas, as coligações precisarão ser oficializadas na Justiça Eleitoral.

Para o senador José Agripino (PFL-RN), a tramitação não será rápida o suficiente. "Não há tempo para que a proposta seja votada no segundo turno e tramite na Câmara", disse.

De acordo com o senador Roberto Saturnino (sem partido-RJ), não haverá pressa na Câmara para examinar a questão. "Na Câmara essa proposta não tem a mesma unanimidade."

Alguns senadores criticaram a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de não julgar a constitucionalidade da verticalização, em uma ação proposta pelo PC do B, PT, PL, PSB, PPS e PFL.
O Supremo concluiu, por maioria, que o TSE apenas interpretou a lei e não formulou uma regra nova para as eleições.

"Estamos resgatando nossa competência, que foi usurpada pelo TSE e que o STF deixou de corrigir", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM).

O senador José Fogaça (PPS-RS), relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, afirmou que a verticalização transforma os diretórios regionais dos partidos em "bestas de carga que carregam as contradições das cúpulas nacionais". "A coerência de um partido político não se mede por uma situação eleitoral."

Se a emenda constitucional da verticalização for promulgada a tempo de vigorar nestas eleições, a sua validade poderá ser contestada no STF (Supremo Tribunal Federal).

Pela Constituição, as leis que alteram o processo eleitoral devem ser aprovadas um ano antes para valer naquela eleição. Os ministros do Supremo terão que decidir se essa norma se aplica também a emendas.


Artigos

Os bons (ou maus) companheiros
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Começo de onde Delfim Netto terminou sua coluna de ontem. Dizia o deputado:
"Na minha opinião, essa mudança será muito mais profunda com José Serra do que com Luiz Inácio Lula da Silva. Como de costume, o tal "mercado" está mal informado...".

Como sou mais moderado e conservador que Delfim, não vou tão longe. Mas sou forçado a admitir que, se Serra aplicar as teses que defende ao menos nas conversas reservadas, estará mais para Arlette Laguiller, a candidata trotskista à presidencial francesa, do que para Lionel Jospin, o social-democrata com o qual o PFL comparou o tucano brasileiro.

Por que, então, como lembra Delfim, o mercado se agita quando Serra tem dificuldades?

Simples: vale, para o mercado, o surrado ditado popular "diz-me com quem andas e te direi quem és".
Com quem anda Serra? Com a quase totalidade do empresariado industrial, inclusive (ou principalmente?) com os iconoclastas do Iedi, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.

Em quem apostava o poderoso banqueiro Olavo Setúbal mesmo quando havia várias hipóteses de candidaturas governistas? Adivinhou: em José Serra.

A chamada grande impre nsa tende, quase toda, para Serra, ainda que, felizmente, de forma menos escancarada na comparação com suas escolhas em pleitos anteriores. Até esta Folha, que fez da independência um formidável ativo (talvez o seu principal ativo), é acusada insistentemente de "serrista".

Já cansei de dizer que não é assim, mas e-mails com essa suposição continuam chegando em cachos.
O espaço não permite continuar com a lista. Mas acho que basta para mostrar que, ao contrário do que diz Delfim, o mercado não está "mal informado" sobre Serra. Apenas aposta no instinto de preservação de seus companheiros de viagem.

Talvez se engane, talvez não.


Colunistas

PAINEL

Erro de prioridade
FHC aproveitou o caso Ricardo Sérgio para chamar a atenção de José Serra. Está preocupado com o centralismo do presidenciável, que não delega tarefas a auxiliares e, com isso, emperra a campanha. Para ele, o tucano tem de cuidar é do eleitor.

Pé na estrada
A partir de agora, Serra, na visão de FHC, precisa ter mais contato com o eleitorado em suas viagens, deixando em segundo plano o "tititi" político. Pimenta da Veiga passará a cuidar da agenda do pré-candidato.

Aliado incômodo
Pré-candidato ao Senado, Jader Barbalho (PMDB) quer subir no palanque de Serra no Pará. O tucano, que ajudou a elegê-lo presidente do Senado, mandou dizer que não aceita.

Turbulências regionais
As cúpulas de PSDB e PMDB estão preocupadas com os acertos regionais entre as siglas, dos quais o caso Jader é um dos mais difíceis. Teme-se que, sem os acertos nos Estados, os governistas do PMDB cheguem à convenção do partido sem uma margem segura para aprovar o apoio a José Serra.

Tudo a ver
Um site religioso tem feito muito sucesso em Brasília, principalmente no PFL: no endereço www.catholic-forum.com/saints/saintj44.htm descobre-se que há um José Serra santo, beatificado em 1988 pelo papa. Trata-se de um missionário espanhol que viveu no século 18.

A conferir
Carlos Augusto Montenegro (Ibope) previu, em conversa com tucanos, que Serra vá cair nas próximas pesquisas e ser ultrapassado por Garotinho.

Otimismo tucano
Numa reunião em sua casa com parlamentares, José Aníbal (PSDB) pintou um cenário cor-de-rosa para Serra. Para o tucano, Ciro teria atingido seu teto eleitoral e Garotinho não teria mais como crescer.

Pito banqueiro
A Câmara Americana de Comércio de SP condenou ontem os bancos americanos que aumentaram o risco Brasil devido à possibilidade de vitória de Lula. Segundo a Câmara, os compromissos firmados pelo Brasil no exterior serão cumpridos mesmo em um governo do PT.

Desinformação e predação
"As indicações de parâmetros de risco feitos por alguns bancos mal informados (...) devem ser creditados ou ao desconhecimento (...) da economia brasileira ou a uma especulação de natureza predatória", diz a nota da Câmara, assinada por Paulo de Albuquerque, diretor do comitê de economia da entidade.

Recorde absoluto
A tentativa do "profissional" PFL de criar um factóide lançando a candidatura presidencial de Marco Maciel durou duas horas. Às 11h, o nome do vice foi ventilado para a sucessão. Às 13h, o pefelista pernambucano desautorizou Inocêncio Oliveira.

Empate técnico
Ao saber da "candidatura" Marco Maciel, o deputado federal Alexandre Cardoso (PSB) lançou um concurso para descobrir quem tem o sorriso mais bonito: Serra ou o vice?

Palavra moderada
Em resposta a um ofício de Suplicy (PT), Paul O'Neill, secretário do Tesouro dos EUA, enviou uma carta em que suaviza o teor do que disse em fevereiro, no Fórum Econômico Mundial, quando culpou a corrupção pelos juros altos no Brasil.

Visitas à Folha
Marcos Mendonça, secretário de Estado da Cultura, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Adélia Adaime Lombardi, assessora-chefe de comunicação da secretaria.

Ricardo Gonçalves, presidente da Parmalat Brasil, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Afonso Champi, gerente de comunicação da empresa, e de Inês Castelo, sócia-diretora da Máquina da Notícia.

TIROTEIO

De Valdemar Costa Neto (PL), sobre FHC ter dito que não se recorda se Luiz Carlos Mendonça de Barros falou ou não com ele sobre o suposto pedido de propina no leilão da Vale:
- Trata-se de um típico caso de memória seletiva.

CONTRAPONTO

Cochilo cultural
O governador Albano Franco (PSDB-SE) participou, no último dia 17, da inauguração do teatro Tobias Barreto, em Aracaju (SE). Na tribuna montada no palco, o governador aproveitou para anunciar o início de um ciclo de peças teatrais que seriam encenadas como parte da comemoração.
Franco começou a ler a lista de peças, que lhe foi passada pelo cerimonial. No meio da leitura, soltou a pérola:
- Uma das atrações infantis é a peça "O Mágico de Ó Zê".
O governador se referia a uma peça baseada no livro de Frank Baum, que gerou o famoso filme de 1939 de Victor Fleming.
Na platéia, formada por políticos de todos os partidos, como o prefeito Marcelo Déda (PT), houve um burburinho. O governador levantou a cabeça. Ele próprio percebeu a gafe:
- Como eu estava dizendo, a peça "O Mágico de Oz"...


Editorial

MARCHA LENTA

Já não faltam evidências de que a atividade econômica está fraca. O IBGE apurou que a produção da indústria brasileira caiu 0,8% de fevereiro para março. Dentre muitos, esse é o sinal mais nítido de debilidade da produção, por sua abrangência nacional.

É importante situar o resultado de março dentro da trajetória recente da produção industrial. Sob o impacto da elevação da taxa de juros e do racionamento de energia, a produção industrial caiu bastante entre junho e outubro do ano passado. A seguir, entre novembro e janeiro, quando ficou claro que o fim do racionamento era iminente, a produção teve alta rápida, voltando ao patamar "normal" de antes do início do racionamento. Já em fevereiro deste ano, completada a "normalização", a produção teve nova alta, porém modesta.

Esperava-se para março mais um incremento da produção, até por tratar-se do primeiro mês após a efetiva suspensão do racionamento. Mas os números divulgados ontem revelaram desempenho débil generalizado entre os setores da indústria. A pior performance foi a da produção de bens de capital -que reflete as decisões de investimento, especialmente sensíveis à oferta de crédito (que segue estagnada) e às expectativas.

A decepção produzida pelo resultado da indústria em março tende a reforçar a onda de ceticismo surgida nas últimas semanas. Essa piora das expectativas quanto ao desempenho da economia teve início com a decisão do Banco Central de não reduzir, em abril, a taxa de juros básica, frustrando a aposta de que haveria corte.
Todos sabem que as decisões de comprar e de produzir são muito influenciadas pelo que se espera do futuro. A previsão média do mercado de que o PIB crescerá mais de 2% neste ano está assentada na suposição de que os juros cairão progressivamente nos próximos meses, chegando perto de 16,5% em dezembro.

O Banco Central se reúne no próximo dia 22 para voltar a deliberar a respeito da taxa de juros básica. O mercado hoje projeta que a inflação fechará o ano com alta muito próxima de 5,5%, taxa que representa o limite superior definido pela política de metas de inflação -e os agentes privados não têm demonstrado maior preocupação diante dessa perspectiva. A depender do grau de rigidez antiinflacionária que revelar, o BC poderá sancionar, ou começar a reverter, a piora das expectativas sobre a atividade econômica.


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05/09/2002


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