FHC vetará verba extra de R$ 5 bi do Orçamento









FHC vetará verba extra de R$ 5 bi do Orçamento
Recursos tinham sido incluídos pelo Congresso, para emendas e aumento do mínimo

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá vetar esta semana a reserva de R$ 5 bilhões que os parlamentares haviam criado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2003 com o objetivo de garantir verbas para um reajuste real ao salário mínimo acima da inflação e para cobrir novos gastos feitos por meio das emendas dos parlamentares. Com isso, o Congresso terá de rever as prioridades que serão propostas pelo governo para o primeiro ano da nova administração se quiser aprovar as emendas do Congresso e corrigir o mínimo acima da inflação.

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guilherme Dias, disse no final de semana ao Estado que recomendou ao Palácio do Planalto o veto à reserva incluída na LDO de 2003 pelos congressistas por causa do quadro mais apertado da arrecadação no próximo ano. "Não há margem para trabalhar com folga o próximo Orçamento e o Congresso tem competência legal para rever as prioridades que vamos propor", enfatizou ele. Diante do quadro de incertezas que pairam sobre o Brasil, o governo preferiu arcar com o ônus político de vetar a brecha que poderia facilitar um aumento real do salário mínimo bem acima da inflação.

A estratégia do governo é jogar a decisão de um aumento acima da inflação para depois de outubro, quando estará eleito o novo presidente. Além do ajuste adicional nas contas públicas no ano que vem, decorrente da decisão de incrementar a meta do resultado das contas públicas para 2003, de 3,5% para 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), o novo governo contará com R$ 2,8 bilhões a menos na arrecadação por causa da redução da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e da correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A isso soma-se o fim das receitas de concessões, que antes acrescentavam cerca de R$ 7 bilhões ao ano à União.

Propostas - O projeto da LDO, aprovado no Legislativo no início do mês, será sancionado nesta semana. É com base nele que o Executivo elaborará a proposta do Orçamento de 2003, que terá de ser enviada ao Congresso até o final de agosto. Como não há possibilidade de veto parcial do dispositivo da Lei de Diretrizes que prevê a reserva de R$ 5 bilhões, esta será a primeira vez que a proposta orçamentária será encaminhada aos congressistas sem verbas livres nem para financiar as emendas individuais dos parlamentares, consideradas um direito sacramentado dos deputados e senadores.

Por meio da prerrogativa constitucional de emendar a proposta orçamentária, os congressistas brindam seus redutos eleitorais com despesas de interesse municipal e estadual. Para assegurar somente as emendas individuais, seria necessário R$ 1,188 bilhão - cada deputado e senador pode incluir no Orçamento R$ 2 milhões em despesas. Também ficarão descobertas as emendas estaduais e regionais, que costumam somar cerca de R$ 5 bilhões para projetos defendidos pelos governadores e lideranças políticas regionais.

"O governo não deu aval ao acordo feito entre os partidos políticos que resultou na aprovação da reserva de R$ 5 bilhões na LDO", ressaltou Dias. Na prática, os parlamentares elevaram a "reserva de contingência" na Lei de Diretrizes, uma conta originalmente utilizada para despesas emergenciais da União. A "reserva de contingência" foi ampliada de 1% para 3% da receita corrente líquida, portanto de R$ 2 bilhões para R$ 6 bilhões. Conforme o dispositivo da LDO que será vetado, deste total, R$ 5 bilhões seriam usados pelo Congresso e R$ 1 bilhão ficara para gastos emergenciais do governo.

Outro motivo que levará o governo vetar os recursos para um reajuste significativo para o salário mínimo é a conseqüência desse aumento nos projetos e obras prioritárias do governo federal no primeiro ano do novo governo. Se fossem mantidos os R$ 5 bilhões que o Congresso pretendia destinar ao mínimo e emendas dos parlamentares, o Executivo teria de mandar a proposta orçamentária com apenas R$ 7 bilhões para investimentos. Esse valor representaria uma queda brutal em relação aos R$ 12 bilhões que o governo tem destinado para investimentos nos últimos anos.


Classe média é novo foco da campanha de Ciro
Em Santa Catarina, candidato ataca a queda dos salários e a crise do emprego

LAGES – O presidenciável Ciro Gomes (PPS) elegeu a classe média como seu novo foco de campanha. Num comício em Lages, a cidade mais importante de Santa Catarina governada pelo PFL, o candidato escolheu como tema o empobrecimento do brasileiro de nível médio, dizendo que a crise econômica vem encolhendo salários e aumentando o número de desempregados no País.

“Nos últimos 12 meses, todo mundo está sentindo isso em casa, no seu orçamento doméstico”, afirmou.

O candidato disse que há no País 11,7 milhões de desempregados e 5,5 milhões de pessoas sem moradia e criticou o encolhimento de salários em até 11,5% para exemplificar alguns números da crise. “Para o Brasil que trabalha, profissionais de classe média, os salários vêm perdendo quase 4%, 5% do seu valor todos os anos”, afirmou, completando: “É conseqüência de um modelo entreguista.”

Para o senador Geraldo Althoff (PFL-SC) – que o presenteou com um imponente poncho bege – Ciro está crescendo nessa faixa de eleitores. “A classe média identificou seu candidato e quando isso acontece já está definido seu presidente”, opinou o senador. No palanque, Ciro recebeu o apoio do presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, e esteve ao lado do presidente do PDT, o ex-governador Leonel Brizola.

Adesão – Cerca de 3 mil pessoas aguardaram o candidato no terminal de ônibus de Lajes e foram orientadas a levantar faixas e bandeiras somente no final do discurso, para não estragar as imagens que estavam sendo gravadas. A festa foi bancada pelo diretório do PFL de Santa Catarina e custou R$ 6 mil, segundo o prefeito de Lages, Raimundo Colombo (PFL).

INTERTITULO/INTERTITULOBornhausen disse que o PFL apoiará integralmente a candidatura de Ciro no Estado, o que significa a adesão de 61 prefeitos, 7 deputados estaduais, quatro federais e dois senadores. O próximo passo do PFL é atrair o apoios de prefeitos de outros partidos, sobretudo do PPB, com quem é coligado no governo de Esperidião Amin.

O mau tempo atrapalhou a festa preparada pelo PFL. O candidato chegou a Lages de jatinho fretado, mas por causa do atraso uma carreata foi cancelada. Cerca de 10 mil pessoas haviam sido mobilizadas para ficar nos três quilômetros entre o aeroporto do local do comício. ASSINA/ASSINACORRESP/CORRESPINTERTITULO/INTERTITULO


Para ele, taxa de juros menor é só publicidade
ASSINAASSINA/ASSINACORRESP/ASSINA/CORRESPLAGES – O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, às vésperas de marcar um encontro com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, voltou a criticar a redução da taxa de juros em meio ponto e disse que a medida só tem efeito para publicidade. O encontro com Fraga será marcado hoje pelo candidato. “Eles (governo) têm um modelo que é inconsistente, que está errado; e reduzir a taxa de juros conservando esse modelo poderá ser um tiro no pé”, criticou.

Ao chegar no aeroporto de Lages, Ciro disse que os juros estão elevados e já deveriam ter caído há mais tempo, mas não da forma como foi feito agora. “Primeiro, porque não haverá efeito nenhum para além da publicidade; e, de outra forma, essa taxa de juros ainda era uma fórmula de atrair capitais especulativos para fechar as contas externas no Brasil.”

Ele afirmou ainda que é preciso “eliminar o rombo em contas externas, que deixa o Brasil de joelhos diante da a giotagem internacional, cujos interesses são guardados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).”

Plano B – No discurso que fez ontem de manhã em Fortaleza, Ciro rebateu as críticas de adversários que o apontam como o “plano B” do governo. Até amigos, como o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), já afirmaram que há 99% de semelhanças entre o projeto econômico dele com o do candidato tucano, José Serra.

Sobre o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro preferiu se esquivar: “Estou com os pés no chão. Quero ver se consigo pelo menos ir para o segundo turno.” Em relação à comparação entre as propostas econômicas, chamou de “equívoco” e acusou Serra de não ter programa nessa área. “Faltando o que dizer a meu respeito, tentam me intrigar. O candidato do governo não tem programa. Eu simplesmente desafio qualquer pessoa que me diga onde é que está o programa do candidato oficial”, atacou.

O presidenciável afirmou que os eventuais apoios à sua candidatura por parte do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL) e do pai dela, senador José Sarney (PMDB), eram especulações da imprensa. Admitiu somente conversas com ACM. “Com ele, eu estou conversando normalmente.”

Ciro esteve em Fortaleza pedindo votos no 5.º Encontro de Mulheres Clientes Pague Menos, promovido por uma rede de farmácias que colabora com a sua campanha. Dessa vez, não levou a atriz Patrícia Pillar. Sob a insistência de populares que queriam saber onde ela estava, o candidato respondia: “Patrícia está repousando.”

Perante uma platéia de cerca de 5 mil mulheres, Ciro fez campanha para a ex-mulher, Patrícia Gomes, além de citar o amigo e padrinho político, Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará.

“Graças à grande capacidade de trabalho e sensibilidade da Patrícia Gomes, candidata a senadora ao lado de Tasso Jereissati, nós conseguimos construir uma creche a cada dois dias.”TEXTO/TEXTO (Eduardo Nunomura e Carmen Pompeu, especial para o Estado)


Candidato rejeita papel de 'plano B' do governo
Para ele, comparação não é possível porque Serra 'nem tem um plano para comparar'

FORTALEZA - O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, rebateu ontem, em Fortaleza, as críticas de adversários que o apontam como o "plano B" do governo. Até amigos, como o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), já afirmaram que há 99% de semelhanças entre o projeto econômico dele com o do candidato tucano, José Serra.

Sobre o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, Ciro preferiu se esquivar: "Estou com os pés no chão. Quero ver se consigo pelo menos ir para o segundo turno", disse. Sobre a comparação entre as propostas econômicas, chamou de "equívoco" e acusou Serra de não ter programa nessa área.

"Faltando o que dizer a meu respeito, tentam me intrigar. O candidato do governo não tem programa. Eu simplesmente desafio qualquer pessoa que me diga onde é que está o programa do candidato oficial", atacou.

Sobre eventuais apoios à sua candidatura por parte do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL) e do pai dela, senador José Sarney (PMDB), Ciro afirmou que eram especulações da imprensa. Admitiu somente conversas com ACM.

"Com ele, eu estou conversando normalmente."

Ciro também fez questão de descartar o rótulo de candidato do Nordeste e disse que visitará todos os Estados brasileiros. "Sou candidato a presidente do Brasil. Tenho que trabalhar o Brasil inteiro.

Estou saindo do Acre, Roraima, Amazonas, Pará, Amapá, Ceará e vou fazer comício agora à tarde em Santa Catarina, em Lages", enumerou. Para ele, a maratona de viagens tem sido "uma delícia", a "parte boa da festa".

Ciro esteve de manhã em Fortaleza, pedindo votos no 5.º Encontro de Mulheres Clientes Pague
Menos, promovido por uma rede de farmácias do Ceará, que colabora com a sua campanha à Presidência. Dessa vez, não levou a atriz Patrícia Pillar. Sob a insistência de populares que queriam saber onde ela estava, o candidato respondia: "Patrícia está repousando".

Comício - Perante uma platéia de cerca de 5 mil mulheres, Ciro fez campanha para a ex-mulher, Patrícia Gomes, além de citar o amigo e padrinho político, Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará.

"Graças à grande capacidade de trabalho e sensibilidade da Patrícia Gomes, candidata a senadora ao lado de Tasso Jereissati, nós conseguimos construir uma creche a cada dois dias", discursou.

Em seguida, agradeceu a confiança das mulheres brasileiras e prometeu, se eleito presidente, fazer um país melhor para elas. Depois do evento, Ciro foi pegar a atriz Patrícia Pillar em casa e, com ela, seguiu de jatinho para Santa Catarina.


Lula diz que programa não é resposta ao mercado
Candidato adianta que plano de governo, a ser divulgado amanhã, dará mais destaque ao social

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, garante que seu programa de governo, a ser lançado amanhã, não dará respostas ao mercado financeiro, apesar de assegurar instrumentos de controle da atual política econômica, como manutenção do superávit primário em 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). Lula diz estar mais preocupado com os indicadores sociais.

"Brincou-se muito com o mercado nos últimos anos, mas a preocupação excepcional do nosso plano, agora, é com a área social, porque esta é a grande dívida que temos de pagar", afirmou.

Na solenidade de lançamento do programa, em Brasília, o petista fará um discurso contundente em defesa da retomada do crescimento com produção industrial e geração de empregos. Em um dos cadernos temáticos, que deve ser divulgado junto com a plataforma petista, aparecerá a meta de criação de 10 milhões de empregos em quatro anos de governo.

Lula expôs alguns pontos do programa ontem à tarde, ao participar da festa de posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. O petista falou para arquibancadas praticamente vazias, num nítido contraste com os anos em que comandou históricas assembléias de metalúrgicos no Vila Euclides, no fim dos anos 70. Em 1980, 100 mil trabalhadores lotaram o estádio para protestar contra a prisão de Lula, então presidente do sindicato. Ontem, eram cerca de 2 mil que ouviam seu discurso e esperavam o show do sambista Jorge Aragão.

"Eu me considero abençoado por Deus por pertencer a esta categoria desde 1965, mas não estou compreendendo esta distância entre eu e vocês", reclamou Lula, referindo-se ao palco onde estava, separado do gramado e das arquibancadas por grades e portões. "Aqui começou a minha história e devo tudo o que aconteceu na minha vida ao que aconteceu neste estádio", contou.

Luiz Marinho, presidente reeleito do sindicato, tentou amenizar a falta de "quórum". "Hoje é dia de festa, não de luta, e a companheirada não tem obrigação de estar presente", justificou. Vice na chapa do deputado José Genoíno, candidato do PT ao governo paulista, Marinho está licenciado e não chegou a reassumir o cargo no sindicato, que representa 100 mil metalúrgicos no ABC. "Se convocássemos os companheiros para decidir se deveríamos começar ou encerrar uma greve, isso aqui estaria lotado".

Animado, Lula parecia não dar atenção ao baixo número de manifestantes.

Estava mais interessado em falar de propostas para o País e na ampliação dos palanques de apoio à sua candidatura. "Estamos percebendo que a economia norte-americana está numa crise profunda, mais grave do que a gente poderia imaginar", observou. Para ele, se o Brasil tivesse acreditado em um outro modelo econômico "certamente não estaria tão vulnerável como está hoje".

Quércia - O presidenciável reiterou que espera contar com a adesão de diversos setores do PMDB, incluindo o liderado pelo ex-governador Orestes Quércia, candidato ao Senado em São Paulo. Questionado se aceitaria Quércia no palanque, Lula respondeu que sim. "Se os peemedebistas vierem, serão bem-vindos, porque precisamos derrotar essa política econômica que tem levado o Brasil a uma desesperança muito grande", insistiu.

O comando da campanha petista quer alargar a base de sustentação à candidatura de Lula. Na última semana, fechou acordo com fatia expressiva do PMDB de Goiás e da Paraíba. Na quinta-feira, o governador de Minas, Itamar Franco (sem partido) também acertará sua participação nos comícios do PT.

Itamar tem conversa marcada, em Belo Horizonte, com o senador José Alencar (PL-MG), vice de Lula. "Queremos que ele viaje conosco, porque o lema, agora, é trabalhar, trabalhar, trabalhar", afirmou o candidato.

Embaixo de uma enorme faixa com a inscrição "Metalúrgicos do ABC por um Brasil decente", Lula disse haver "uma grande diferença" entre hoje e o tempo em que era dirigente sindical. "Vocês sabem por que eu chorei quando estive na Volks, na sexta-feira?", perguntou. Ele mesmo respondeu, rindo:
"Porque, quando eu presidia este sindicato, era uma guerra para entrar lá e hoje está tudo diferente." Para arrematar, tentou empolgar a platéia. "Companheiros, querem saber de uma coisa? Nós só somos alguma coisa porque a categoria metalúrgica é porreta!"


Britto passa Tarso e põe em xeque a hegemonia petista
Candidato do PPS lidera com 7 pontos de vantagem disputa pelo governo do Rio Grande do Sul

PORTO ALEGRE - O PT corre o risco de perder uma de suas principais vitrines, o governo do Rio Grande do Sul. A disputa no Estado está acirrada, com o ex-governador Antônio Britto ultrapassando o prefeito licenciado Tarso Genro nas últimas pesquisas. Em um Estado onde a oposição sempre se destacou, este talvez seja o pior momento do PT nos últimos vinte anos.

De acordo com pesquisa do Centro de Estudos em Pesquisa e Administração (Cepa) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicada ontem pelo jornal Zero Hora, Britto lidera com 38,8% das intenções, enquanto Tarso tem 31,7%. Em maio e junho, Tarso estava quatro pontos percentuais à frente (36% a 32%) de Britto, um empate técnico, de acordo com o mesmo instituto.

O clima de julgamento do governo petista e a comparação com a administração anterior, de Antônio Britto, então no PMDB e hoje candidato pelo PPS, estão no centro dos debates.

Os adversários do PT batem naquilo que julgam como pontos fracos do governo de Olívio Dutra, citando a proximidade do partido com o Movimento dos Sem-Terra (MST), o crescimento da criminalidade, o déficit público, e um ambiente supostamente hostil aos grandes negócios, que teria sido responsável pela perda da Ford para a Bahia.

Os petistas reconhecem um certo desgaste da primeira experiência de governar o Estado e respondem com o crescimento de 10,7% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual nos últimos três anos.

Desafio - Como candidato da situação, Tarso tem a tarefa mais difícil entre os concorrentes, de defender um governo desgastado e, ao mesmo tempo, apresentar-se como o condutor de novas propostas. Nesta condição, Tarso já chegou a admitir para empresários que o MST gera um clima de insegurança no campo. "Nós não nos confundimos. Eles são um movimento social e nós somos um partido político com projeto para governar todos os gaúchos", afirma o coordenador da campanha petista, José Eduardo Utzig.

Tarso tem dito em suas palestras que o PT, por sua política de negociação, seria o partido com maior capacidade para dialogar com o MST e evitar conflitos no campo. "Não há uma fazenda invadida no Estado", lembra, citando que todas as desocupações dos últimos anos foram feitas sem violência. Os proprietários rurais, no entanto, reclamam da lentidão da Brigada Militar a cada liminar de reintegração de posse concedida pela Justiça.


Britto pode conseguir mais adesões
A tarefa de conquistar as adesões que, segundo o cientista política André Marenco, da UFRS, podem decidir a eleição no segundo turno, mostra-se, numa primeira análise, mais fácil para Britto, já que os outros concorrentes de grandes partidos também estão na oposição.

Mas os apoios podem não ser tão naturais como parecem, adverte o professor da Ufrgs.

"Transferir apoio aos outros partidos pode significar transferir espaços estratégicos nas eleições do futuro", raciocina.

Os coordenadores da campanha petista entendem que podem ampliar alianças no segundo turno, baseando-se, para isso, nos índices de rejeição ao adversário - cerca de 29% - e na dificuldade de aceitação que o candidato do PPS tem em setores do PMDB, partido que abandonou no ano passado, e do PDT, que não perdoa as privatizações feitas por Britto quando era governador.

Mas, com a nova pesquisa, o PT tem mais uma preocupação. Arejeição a Britto já foi maior, de 34,8% em maio. E a rejeição a Tarso cresceu de 22,9% em maio para os atuais 25,4%, depois de leve queda em junho, quando esteve em 22,5%.

Cautelosos, para não ferir suscetibilidades, Tarso e Britto não pedem apoio, por enquanto. Mas também não criticam os outros candidatos, de quem podem depender para ganhar a rodada decisiva da eleição.

Enquanto preservam os potenciais aliados do futuro de seus ataques, os dois líderes das pesquisas não perdem oportunidades de trocar farpas.

Mesmo quando fazem perguntas ou respondem aos oito candidatos dos pequenos partidos, nos debates, procuram direcionar as intervenções para elogios ou críticas aos governos de Britto - 1995 a 1998 - e de Olívio - 1999 a 2002 -, que serão a principal pauta da campanha política.


Artigos

Desafios do jornalismo
Carlos Alberto di Franco

As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas.
Registram-nas fielmente os delicados radares da opinião pública. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros mitos que conspiram contra a credibilidade da imprensa. Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Inscrito em inúmeros códigos empoeirados, é de um vazio surpreendente. Transmite, num pomposo tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe.

Jornalistas não são autômatos. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. Não se pode ouvir um corrupto com a mesma fleuma com que um inglês toma o chá das 5. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. A neutralidade é uma mentira, mas a imparcialidade é uma meta que deve ser perseguida. Todos os dias.

A busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. O jornalista engajado é sempre um mau repórter. Não sabe, como sublinha o jornalista Carl Bernstein, que "o importante é saber escutar". Esquece, ofuscado pela auto-suficiência, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas. A grande surpresa no jornalismo de qualidade é descobrir que "quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos", sublinha Bernstein.

O bom repórter esquadrinha a realidade, o jornalista preconceituoso constrói a história. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto.

Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Mas algumas distorções transformam um princípio irretocável num jogo de aparência. A apuração de faz-de-conta representa uma das maiores agressões à ética informativa. Matérias previamen te decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se apóia na busca da verdade. É um artifício. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declararem o que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a "seriedade" da reportagem. Mata-se a informação.

Cria-se a versão.

A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade informativa. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor o desconforto de um logro. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada acabam sendo instrumentalizados pela fonte. Sobra declaração leviana, mas falta apuração rigorosa. A incompetência impune foge dos bancos de dados. Na falta da pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres; quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline; quando as pautas não nascem da vida real, mas da cabeça de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todo o processo.

A autocrítica interna deve ser acompanhada por um firme propósito de transparência e de retificação dos nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é relativamente fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, de manipulação informativa ou de leviandade noticiosa exige coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Amor, eterno amor
Outro dia liguei a TV e vi que faziam um concurso entre os telespectadores procurando uma definição para o amor. As respostas eram muito ruins, até dava para se pensar que nem apresentadores nem telespectadores entendiam nada de amor realmente; o lugar-comum é mesmo o refúgio universal, que livra de pensar e dá a quem o usa a impressão de que mergulha a colher na gamela da sabedoria coletiva e comunga das verdades eternas. O que, aliás, pode ser verdade.

Mas a idéia da definição me ficou na cabeça e resolvi perguntar por minha conta. Tive muitas respostas. A impressão geral que me ficou do inquérito é que de amor entendem mais os mais velhos do que os moços, ao contrário do que seria de imaginar. E menos os profissionais que os amadores - digo os amadores da arte de viver, propriamente, e os profissionais do ensino da vida.

Vamos ver:

Dona Alda, que já fez bodas de ouro diz que o amor é principalmente paciência. Indaguei: e tolerância? Ela disse que tolerância é apenas paciência com um pouco de antipatia. E diz que amor é também companhia e amizade. E saudade? Não, saudade não: saudade se tem das pessoas, das alegrias de coisas da mocidade, da infância dos filhos. Mas do amor? Não. Afinal, o amor não vai embora. Apenas envelhece, como a gente.

A jovem recém-casada me diz que amor é principalmente materialismo. Todos os sonhos das meninas estão errados. Aquelas coisas que se lêem nos livros da Coleção das Moças, aqueles devaneios e idealismos e renúncias e purezas, está tudo errado. Quando a gente casa é que vê que o amor não passa de materialismo.

Terezinha de Jesus, às vésperas de botar no mundo o seu filho de mãe solteira, responde: Amor é iludimento. No começo é dançar, tomar Coca-Cola com pinga, ganhar radinho de pilha e vidro de loção. Depois é a barriga e todo mundo apontando e o camarada sumido. Semana que vem vai para a maternidade. Quem quiser lhe falar de amor, venha, que ela tem uma resposta. Mas impublicável.

Um senhor quarentão, bem-casado, pai de filhos: amor, como se entende em geral, é coisa da juventude. Depois de certa idade, amor é mais costume. É verdade que tem a paixão com os seus perigos. Mas você falou em amor e não em paixão, não foi?

E de paixão, que me diz? - Aí ele se fecha em copas. Deixo isso para os jovens. Velhote apaixonado é fogo. E eu não passo de um pai de família.

A mãe da família desse senhor: Amor? Bem, tem amor de noiva, que é quase só castelos e tolices. Tem o de jovem casada, que é também muita tolice -, mas sem castelos. Complicado com ciúme, etc., mas já inclui algum sentimento mais sério. E tem o amor do casamento, que é a realidade da vida puxada a dois. Agora, o amor de mãe... Você perguntou também o amor de mãe?

Respondi energicamente que não; amor de mãe, não. Quero saber só de amor de homem com mulher, ou... vocês me entendem, mas amor propriamente dito.

Diz o solteiro, quase solteirão que se imagina irresistível e incansável: amor é perigo. Só é bom com mulher sem compromissos. Com moça donzela dá em noivado, com mulher casada dá em tragédia. O melhor é amor forte e curto, que embriaga enquanto dura e não tem tempo para se complicar. Aquela história de marinheiro com um amor em cada porto, tem o O pastor protestante diz que o amor é sublimar a atração entre os dois seres, é atingir a mais alta e pura das emoções.

Não confundir amor com sexo! E perguntado - sendo assim, por que casam os pastores? Ele responde citando São Paulo: "Porque é melhor casar do que arder."

Já o padre católico não elimina o sexo do amor. Explica que, pelo contrário, o sexo, no amor, é tão importante como os seus demais componentes - o altruísmo, a fidelidade, a capacidade de sacrifício, a ausência do egoísmo. E é tão importante, que, para santificar o amor sexual - o amor conjugal - a Igreja o põe sob a guarda de um sacramento, o santo matrimônio. E ante a pergunta: se tudo é assim tão santo, por que os padres não casam? O padre velho não se importa com a impertinência, sorri: "Nós nos demos a um amor mais alto. Casamento, para nós, seria pior que bigamia..."

E por último tem a matrona sossegada que explica: Amor? Amor é uma coisa que dói dentro do peito. Dói devagarinho, quentinho, confortável. É a mão que vem da cama vizinha, de noite, e segura na sua, adormecida. E você prefere ficar com o braço gelado e dormente a puxar a sua mão e cortar aquele contato, tão precioso ele é. Amor é ter medo - medo de quase tudo - da morte, da doença, de desencontro, da fadiga, do costume, das novidades. Amor pode ser uma rosa e pode ser um bife, um beijo, uma colher de xarope. Mas o que o amor é, principalmente, são duas pessoas neste mundo.


Editorial

SENTENÇA CONTROVERTIDA

É possível que a sentença da juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 19.ª Vara Criminal de São Paulo, que, ao condenar (a 16 anos) os seqüestradores do publicitário Washington Olivetto, os absolveu das acusações de formação de quadrilha e de prática de tortura, assim como descaracterizou seu crime como "hediondo" - o que poderá livrá-los do encarceramento depois de cumpridos apenas dois anos e meio de pena -, vá para os compêndios de Direito como uma ótima ilustração do que seja uma decisão judicial contra legem. É bem provável, até, que venha ela a ser derrubada, com facilidade, no Tribunal de Justiça. Mas, de qualquer maneira, a simples possibilidade de um bando criminoso, frio como esse, merecer, de uma instância da Justiça, um tratamento com semelhante brandura, depois de todos os sofrimentos causados a um ser human o, produz, pelo menos, dois graves e deletérios efeitos: de um lado, o estímulo a seqüestradores potenciais - especialmente os "investidores" estrangeiros da área - pela clara redução da "cotação" de seus riscos. De outro lado, a revolta de uma população que já não confia na proteção da Justiça e que considera essa sentença um acinte.

A magistrada não considerou a ação dos seqüestradores chilenos como "formação de quadrilha" por julgar que eles praticaram um único crime - e a definição legal é de ater-se a uma associação para a prática de "crimes" (no plural). Quer dizer, não bastou a circunstância de os criminosos terem se organizado com hierarquia semelhante à militar, de terem monitorado a vítima previamente, por longo tempo para descobrir seus hábitos, de terem obtido coletes da polícia e automóveis, alugado vários imóveis, mantido um batalhão de guardas e negociadores, executado mapas pormenorizados de operações, etc., para caracterizar, perante a Justiça, o grupo "estável" de uma quadrilha!

Mais aberrante ainda foi a desqualificação do crime de tortura. O artigo 1.° da Lei 9.455/1997 define claramente o ato de tortura como o de "constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental... para obter informação, declaração ou confissão da vítima, ou de terceira pessoa" - sendo que há acréscimo de pena em se tratando de seqüestro. Foi exatamente o que aconteceu - como descreveu a peça acusatória -, na medida em que o seqüestrado foi submetido a grandes sofrimentos (proibição de encostar-se nas paredes ou de emitir qualquer som, música constante para fazê-lo perder a noção do tempo, espancamento em caso de desobediência a qualquer regra, obrigação de comer junto aos próprios dejetos e crueldades ou humilhações do gênero) com a intenção de fragilizá-lo mental, psíquica e fisicamente, para a obtenção de informações financeiras, destinadas a firmarem as bases do pedido de resgate. Tudo isso levou o seqüestrado - como ele próprio relatou - a quase perder a sanidade.

Se não era tortura, era o quê?

Agora, ao deixar de capitular o crime dos seqüestradores na categoria especificada no artigo 2.° da Lei de Crimes Hediondos - ao que tudo indica por achar esse diploma legal muito "pesado" ou "injusto" -, a juíza permitiu que os condenados venham a receber o benefício da progressão de regime com um cumprimento de apenas um sexto da pena - o que significa, no caso, praticamente a liberdade depois de só dois anos e meio de prisão. E, por incrível que pareça, a juíza considerou como atenuante a (hipotética) motivação "política" do seqüestro, como se isso diminuísse a periculosidade ou a crueldade demonstrada pelos criminosos - talvez pelo raciocínio "ideológico" segundo o qual os fins "revolucionários" justificam os meios - de desrespeito à lei e aos direitos humanos. Deixando de lado a aberração que significa uma sentença embasada mais no viés ideológico do que na interpretação conspícua da lei, é bom lembrar o comportamento desses delinqüentes "idealistas", muito bem sintetizado na carta do conhecido marchand Fábio Porchat, publicada no Fórum dos Leitores, quando disse que "enquanto naquele réveillon o seqüestrado amargava o cárcere, os seqüestradores alugaram casa e lancha num ponto rico do litoral paulista para comemorar com luxo o dinheiro que lucrariam".

Bem é de ver que se motivação "política" houvesse em estrangeiros (o que, no caso, esteve longe de se comprovar) para praticar um crime hediondo numa democracia, como o Brasil, com a finalidade de obter fundos para quaisquer operações subversivas, tratar-se-ia de circunstância claramente agravante - e não atenuante -, posto que a periculosidade e o potencial destrutivo dos delinqüentes, tais como os dos terroristas contemporâneos, haveriam de tornar seus crimes muito mais graves e anti-sociais.


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07/22/2002


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