Fórum Internacional de Dança invade a Funarte MG



O Fórum Internacional de Dança, encontro da “dança para todo mundo”, chega ao seu 18º ano com espetáculos nacionais e internacionais que fazem parte de seus programas FID Conexão InterNacional, FID Território Minas, FIDinho e FID Circulando Grande BH. O evento, que tem sua trajetória dedicada ao fomento e a promoção da dança como produção de conhecimento, acontece de 1º a 10 de novembro de 2013 na Funarte MG, Espaço Cultural Ambiente, Gruta! Espaço de Arte, Teatro Alterosa e Teatro Oi Futuro Klauss Vianna (todos em Belo Horizonte).

Idealizado por Adriana Banana (diretora artística) e por Carla Lobo (diretora executiva), o FID – Fórum Internacional de Dança é realizado pela Atômica Artes, Tapioca Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal, com preços populares: os ingressos custam R$ 4,00 (quatro reais) a inteira e R$ 2,00 (dois reais) a meia entrada. “O valor reduzido do ingresso faz parte da política de relacionamento do FID com o público, e deixa claro, na forma de um ingresso acessível, que seu custo real já foi pago com recurso público por meio de patrocínios via leis de incentivo e convênios”, explica a diretora executiva Carla Lobo.  Vale ressaltar que as atividades do FID Circulando Grande BH e outras ações como a FIDoteca tem acesso livre e gratuito.

O FID é apresentado pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas e Petrobras; tem o patrocínio do BNDES, Oi, Caixa e Cemig, o apoio da Funarte, Oi Futuro e TV Globo Minas. Além disso, tem como parceiros internacionais Conseil des Arts et des Lettres Québec, Canadá Council for the Arts e Fundação Calouste Gulbenkian.

O programa

Sem concessões, os trabalhos que serão apresentados este ano são todos muito densos, refletindo o cenário que compõe os 18 anos de FID: “não é homogêneo, é caótico, não se expõe por completo, é tridimensional, é plural e está em movimento”, reflete a diretora artística Adriana Banana ao explicar o perfil dos trabalhos que serão apresentados em 2013.

O FID 2013 abre com o Bomba Suicida,coletivo criado, em 1997, por artistas provenientes das artes performativas contemporâneas: “O FID 2013 será explosivo. Não à toa, começa com o coletivo chamado Bomba Suicida”, dizem as organizadoras Adriana Banana e Carla Lobo.  “Todos são inquietos, fissurados, íntegros, propositores, fazem cócegas em nossos neurônios, oxigenam nossos mundos, injetam vontade de produzir, de ser, de nos mobilizarmos em prol de um mundo que respeita as artes como necessárias para a qualidade de nossas vidas. Sem haver separação entre arte e vida, os trabalhos nas artes e na dança, devem ser cada vez mais entendidos como atuação política, cidadã. O artista não é um dentro do teatro e outro fora, é um só”, refletem. “Os artistas que apresentamos não dançam fábulas, mas são realidade propositiva, ou seja, propõem em forma de dança, aquilo que acreditam e que está relacionado com nosso mundo. Quando dançam não esperam aplausos, mas mudanças. Nesse ponto, o FID compartilha com eles sua angústia e o absoluto maravilhamento de viver, a vida é urgente, passa rápido”, finalizam.

O coletivo Bomba Suicida apresenta: Paraíso – Colecção Privada, trabalho de grupo concebido por Marlene Monteiro Freitas (Cabo Verde/ Portugal, 2012). Também dela, o solo Guintche (2010), integrando o programa duplo com o solo A Primeira Dança de Urizen (2009), de Luís Guerra (Portugal).

Entre os artistas que se apresentam neste FID, está Benoît  Lachambre, que veio ao Brasil na primeira edição do FID (em Belo Horizonte e São Paulo, já que o FID aconteceu nas duas cidades), em 1996. Em 2000, voltou se apresentando no projeto Encyclopoedia – Document, 1 de  Lynda Gaudreau, quando também apresentou seu solo Délire Défait. Um dos artistas mais importantes da geração de dança dos anos 1990, ousado e sempre inquieto, Benoît Lachambre é uma referência na comunidade internacional de dança por se dedicar à exploração do movimento e de suas fontes e, sua pesquisa está sempre integrada a uma rede de artistas, tanto desconhecidos quanto consagrados. “O Benoît é o David Bowie da dança. O cara é um camaleão, não no sentido de se adaptar continuamente, ou seja, tecendo sempre redes de conexões. É um híbrido, seu corpo é estranhamente familiar: generoso, inteligente, não autorizado, desde sempre nadando contra a corrente. Benoît  faz parte destes artistas que fertilizaram o campo da dança contemporânea  e ajudaram os novos criadores ao demonstrar que não é preciso se encaixar num corpo universal ou que se tem que aprender isto ou aquilo para estar autorizado para dançar. Ele traz outro entendimento de dança…Técnica é construída a partir do fazer e não antes, coreografia não é só imposição de passos/formas dispostas numa partitura convencional, mas é também de outras formas….”, refletem as organizadoras do FID 2013.

Este ano, Lachambre apresenta Snakeskins (2010) no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, performance multimídia com vídeos e música ao vivo. Peles de cobra, tradução literal de Snakeskins, é uma metáfora do próprio artista que está sempre trocando sua pele, sempre se transformando. Benoît, divide o palco com o dançarino italiano Daniele Albanese. A cenografia é destaque, a partir de uma perspectiva italiana, fios/ cabos transpassam todo o palco. As cenas que envolvem os cabos, o espaço se modifica por completo ficando altamente instável, flexível e alterando a percepção da gravidade. Os cabos, a instalação com imagens de vídeo, a música ao vivo e seus sons constroem um corpo híbrido, estranhamente familiar, mobilizando a percepção do público.

Fora do Eixo

Durante 10 dias, artistas de Moçambique, Portugal, Canadá, Brasil, Cabo Verde e Israel se revezarão nos palcos do FID 2013 – Fórum Internacional de Dança em atuações marcantes. Mais uma vez, as companhias estão todas fora do eixo hegemônico, o que reafirma o papel do FID – Fórum Internacional de Dança em dar visibilidade a pensamentos plurais. “Este é o FID afirmando suas raízes, seu propósito de ter sido criado, que é não fazer concessões”, resume Adriana Banana e Carla Lobo. “A dança se mobiliza para mudar o ambiente que está, perceber o mundo de formas diferentes é a única possibilidade de criarmos novas metáforas e, portanto, de abertura de pensamento, transformação”, explicam.

A música ao vivo é destaque em duas peças a serem apresentadas: Snakeskins de Benoît  Lachambre/ Par B.L.eux (Canadá, 2001) e em Tempo e Espaço: Os Solos da Marrabenta de Panaibra Gabriel Canda (Moçambique, 2010). Neste último, é destaque os sons nervosos da guitarra de Jorge da Conceição, um senhor com um grande chapéu de palha, que, em algumas vezes, lembra Jimmy Hendrix. “É de se apaixonar, a figura frágil do Sr. Jorge atravessada pela brutalidade sonora que ele mesmo produz…”, diz Adriana, diretora artística do FID.

Outra característica da curadoria deste ano é a presença incomum de “cheiros” em três peças. Em 1.000 casas, do Núcleo do Dirceu/Marcelo Evelin (Teresina/ Piauí, 2012), o espetáculo envolve o paladar, já que há comida oferecida ao público. O mesmo acontece em O Confete da Índia de André Masseno (Rio de Janeiro, 2012). E, de Tuca Pinheiro (Belo Horizonte, MG), HYENNA – não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras (estreia e coprodução FID 2013), na verdade tem cheiro: “que cheiro é esse que tem a dança brasileira?”, pergunta Tuca. Os cheiros, o paladar, ajudam a romper a primazia da visão e assim, contribuindo para a construção de dramaturgias em que cheiros e degustação tornam-se corpos, ou seja, efetivam-se em dança.

Para o público infantil

Nos espetáculos do FIDinho, ação dedicada ao público infantil, desde 2008, a dança tem mesmo um papel de formação de público, de instigar a curiosidade da criançada, sem ser, de forma alguma, “infantilóide”. “Toda criança é inteligente, tem mais é o que nos ensinar”, comentam Carla Lobo e Adriana Banana. A coreógrafa e dançarina, Silvia Real, de Portugal, apresentará TriTone (2007), parte da trilogia na qual, a Senhora Domicília, em suas férias, vai para um hotel quase cápsula, minúsculo, mas surpreendentemente grande porque se modifica todo o tempo em várias situações e ambientes. A cenografia é destaque e o espetáculo remete aos filmes de Jacques Tati. Após o espetáculo, as crianças poderão, ainda, participar da oficina gratuita “Como nasceu TriTone? Uma idéia, um argumento, uma construção”. Elisabete Finger também se apresenta ao público infantil com o espetáculo Buraco (Curitiba/PR e Alemanha, 2013). Uma metáfora de onde tudo é furado e tudo fura, tudo é para atravessar, sair ou entrar, olhar e ver do outro lado, sem transição onde cabe um mundo. Buraco é estímulo para a fantasia.

Acesso ao acervo FID

Ainda na programação, o FID 2013 oferece, gratuitamente, em parceria com o Sesc Palladium, acesso ao seu acervo na FIDoteca, montada de 1º a 16 de novembro de 2013 no Acervo Artístico Literário do foyer do Sesc Palladium (Avenida Augusto de Lima, 420, Centro, Belo Horizonte/MG). Por meio da FIDoteca, o FID Fórum Internacional de Dança pretende oferecer a possibilidade de acesso, pesquisa e educação sobre a dança contemporânea.

 “Agora que o FID completa 18 anos, lembramos o motivo porque foi criado que foi de ser e fazer a diferença em Belo Horizonte, em Minas Gerais e no Brasil. Este ano, um ano especial, de luta e muita mobilização política do setor da dança aqui em Belo Horizonte, em que a dança também tem se mobilizado bem, buscando se representar em todas as esferas, sem autorização para fazer as coisas”, finalizam Carla Lobo e Adriana Banana, resumindo o mote 2013 do FID: Dança que mobiliza transforma. Ainda em novembro, as diretoras  realizam o último programa do FID 2013 – Fórum Internacional de Dança, o FID Circulando Grande BH com  ações em comunidades fora do eixo dos grandes equipamentos culturais da região metropolitana, com ações em Belo Horizonte e Betim (MG)

Território Minas

A linha de atuação mais representativa do FID talvez seja o programa FID Território Minas, criado com a finalidade de fomentar a dança em Minas Gerais através de diversas formas como bolsas de pesquisa, oficinas, imersões, apoio para apresentações, coproduções, intercâmbio entre grupos e artistas, laboratórios e outras ações.

Neste ano, um dos mais importantes artistas da dança, o coreógrafo e dançarino Tuca Pinheiro, estreia a coprodução FID 2013, HYENNA – não deforma, não tem cheiro, não solta as tiras. Para este trabalho, Tuca foi nos campos de concentração nazista, Birkenau e Auschwitz para testemunhar os restos de humanidade que ali estão, mas também o que já é excesso, mas para pensar no hoje, nos restos, nos restos da dança.

“Neste trabalho, Tuca contribuirá, através da metáfora da Hiena, para fazer um retrato trágico e atual da situação contemporânea, não só da cultura e das artes, mas da vida de todas as pessoas que estão neste estado corrente de HIENIZAÇÃO. Mesmo sendo um excelente predador, uma mordedura das mais poderosas entre os carnívoros e trato digestivo capaz até de digerir latas, a hiena sobrevive comendo as carcaças deixadas por outros predadores : espelho de quem, é a pergunta, lembrando que seu som é de uma risada…”, conta Adriana Banana que completa: “É chocante e revoltante ver um artista como o Tuca Pinheiro, verdadeiro patrimônio da dança, jogado, largado, sem qualquer perspectiva de sobrevivência e continuidade de seu trabalho. Temos a obrigação pública de apoiar uma das figuras mais fundamentais da dança no Brasil”.

Sobre o  FID

O Fórum Internacional de Dança nasceu em 1996, cuja edição realizou-se em Belo Horizonte e em São Paulo, com o compromisso de trabalhar pela difusão, reflexão e formação de novos públicos e criadores no campo da dança contemporânea. Nestes 18 anos, transformou-se numa iniciativa capaz de mobilizar e alavancar uma série de profissionais, públicos e esforços. Se firmou nestes anos ao oferecer informação de qualidade, contribuir para formação de plateias, reunir artistas de forma profunda e democrática, sempre promovendo ações-pensamentos sobre nosso mundo contemporâneo.

Locais/Pontos de venda:

Cada local vende ingressos apenas para os espetáculos que acontecerão naquele espaço/teatro. Os ingressos estarão a venda a partir de 19/10/2013, exceto na Funarte MG, Espaço Cultural Ambiente e na Gruta! Espaço de Arte (apenas nos dias de espetáculo).

- ESPAÇO CULTURAL AMBIENTE – R. Grão Pará, 185 – Bairro Santa Efigênia – Fone: 3241 2020. Bilheteria: nos dias das apresentações a partir das 14h

- FUNARTE MG  – R. Januária, 68 – Bairro Floresta – Fone: 3213 7112. Bilheteria: nos dias das apresentações a partir das 14h

- GRUTA! ESPAÇO DE ARTE – R. Pitangui, 3613 C – Bairro Horto – Fone: 2511 6770. Bilheteria: nos dias das apresentações a partir das 14h

- TEATRO ALTEROSA – Av. Assis Chateaubriand, 499 – Bairro Floresta – Fone: 3237 6611. Bilheteria: Terça a domingo, 12h às 19h ou até o horário de início dos espetáculos

- TEATRO OI FUTURO KLAUSS VIANNA – Av. Afonso Pena , 4.001 – Bairro Mangabeiras – Fone: 3229 3131. Bilheteria: Terça a Sábado, 15h às 21h e Domingo, 13h às 19h

 

Fonte:

Fundação Nacional das Artes

 

 



31/10/2013 10:57


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