Fundação Parque do Zoológico comemora 50 anos



Com a maior coleção de animais da América do Sul, parque é o mais visitado do Estado

Tetéia, um hipopótamo fêmea com estimados 49 anos, é a mais antiga e o orangotango Sansão e as girafinhas sul-africanas, Mel, Cristal e Palito, os mais novos moradores da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, que completa 50 anos neste domingo, 16 de março. São também a cara e a razão de ser da instituição, assim como seus mais de 3,5 mil vizinhos, de 450 espécies, que formam a chamada coleção de animais do local. Entre e las, 200 tipos de aves, 100 de mamíferos e 90 de répteis, além de anfíbios e invertebrados.

No decorrer desse meio século, no entanto, o trabalho desenvolvido no local mudou bastante. Foi ampliado e passou a abranger, cada vez mais, as preocupações relacionadas à conservação do hábitat e à manutenção das espécies fora dos seus muros.

Ao se observar essa história, o Zôo muda de cara e ganha as feições de alguns funcionários, que desenharam, no dia-a-dia, essa trilha de objetivos múltiplos. O que convive há mais tempo nessa relação estreita com o mundo animal chegou apenas 10 anos depois que a Fundação foi criada: Mário Borges tem 40 anos de casa.

Completam o perfil do Zôo as expressões de surpresa, curiosidade e alegria manifestadas pelas mais de70 milhões de pessoas que o visitaram durante esse meio século – média de 1,5 milhão por ano. “Quatro gerações já passaram por aqui, o que nos faz presenciar uma situação curiosa: bisavôs trazendo os bisnetos para conhecer o local, onde estiveram com filhos e netos”, comemora o atual diretor-presidente da instituição, veterinário Paulo Bressan. E completa: “Faço parte desse universo, pois vim aqui criança, com meus pais, depois com a escola. O fato de estar aqui como diretor é um prêmio”.

Ele será anfitrião da festa de comemoração que vai acontecer no Parque neste sábado, a partir das 10 horas. Na programação, está a premiação de três das 2.072 crianças que participaram do concurso realizado para batizar as novas girafinhas, vindas da África do Sul em outubro do ano passado. Caio Eduardo Vieira Lourenço, de 6 anos, Fernanda Gomes da Silva, de 9, e Lucas Ferrufino, de 11, foram sorteados entre as 67 crianças que escolheram a combinação de nomes vencedora. Eles receberão presentes e ingressos para o Zôo Safári. 

“A promoção teve como proposta aproximar as crianças do trabalho do Zôo e das questões ambientais”, explica a bióloga Fátima Valente Robert, chefe da Divisão de Ensino e Divulgação. Funcionária há 18 anos, começou como estagiária e passou por vários departamentos da Fundação. Destaca como especial, em sua experiência, a evolução que acompanhou na gestão ambiental do Parque. “Conseguimos criar um sistema eficiente de redução de impacto, que nos garantiu a certificação ISO 14.001. As principais medidas para isso foram a instalação de um sistema próprio de tratamento de água, esgoto e compostagem, além da realização de palestras de educação ambiental para os funcionários. “Esse conjunto de procedimentos mudou as atitudes e despertou a preocupação de todos. Foi muito bacana”, avalia Fátima.

Festa o ano todo

Por essas e por outras, segundo Bressan, “o Zôo estará em festa o ano todo”. Ele define a comemoração como um momento importante, marca de uma série de conquistas e de definição de metas para o futuro. Nesse contexto, a manutenção da certificação ambiental e do número de visitantes se impõe. Mas há outras engatilhadas. Uma é a criação de um banco de dados com o material genético dos animais para pesquisa. Para tal, deve haver licitação ainda neste semestre.

Constam ainda dos planos mais ações relacionadas ao objetivo de transferir conhecimentos. Na Fazenda do Zôo, em Araçoiaba da Serra, começará a ser construído o Centro de Estudos e Conservação da Fauna (Cecfau), uma iniciativa do Estado, com a ajuda de vários parceiros. A proposta é a reprodução de espécies variadas da fauna brasileira. “Queremos trabalhar com nossos técnicos para ajudar a repovoar áreas da natureza. Transferir o nosso conhecimento. Já há organismos internacionais interessados e contamos com o estabelecimento de parcerias para isso”, afirma Bressan.

De volta à programação para o sábado, que se desenvolverá entre 9h30 e 13 horas, completam a pauta homenagens aos funcionários com mais de 25 anos de casa, assinatura de termo com a Secretaria de Assistência Social do Município para a realização de trabalho de educação ambiental com crianças dos abrigos públicos, a exibição do selo comemorativo dos 50 anos do Zôo e da estátua de São Francisco restaurada, com bênção, e bolo de parabéns.

Para o público, o ponto alto devem ser a apresentação do orangotango Sansão e a reinauguração de sua residência. O primata, que chegou em janeiro de Portugal, ainda está numa área isolada do Parque, para se acostumar à nova morada. Se até o dia da festa estiver bem para “encarar” o público, vai fazer parte dela. O animal, de 90 quilos, chegou a São Paulo já “moço”. Tem 25 anos. Foi destinado à instituição por um programa de conservação de espécies ameaçadas de extinção.

Com isso, o Zôo paulistano se tornou membro do programa europeu de conservação de primatas, cujo objetivo é oferecer condições de reprodução para uma eventual necessidade de repopulação de uma área. Fazem parte dele, também, os seis chimpanzés que o habitam desde 2007. Segundo Bressan, outros quatro orangotangos, inclusive uma fêmea, devem chegar brevemente.

Em comunhão 

No território em que as estrelas são os animais, muitas pessoas atuam como protagonistas. As histórias de Mário Borges da Rocha, Edvaldo Antônio dos Santos, Fátima Valent Robert, Guilherme Domenichelli, entre tantos outros, são de comunhão com os moradores do parque, estendida aos animais que vivem na mata natural. Além disso, revelam, em parte, os processos adotados pela Fundação no trabalho desenvolvido.

Com 38 anos de atuação no Zoológico e dois no Safári, Mário Borges faz parte das lembranças de quase todos os outros funcionários. Isso porque, além dos anos de dedicação, tem temperamento brincalhão e efusivo. “Quando era criança, minha mãe me levou ao psiquiatra por sugestão de uma vizinha, que considerava maluquice a mania de levar para casa sapos, baratas e formigas”, conta, ao tentar explicar a origem do seu interesse por bichos.

Nascido no Acre, veio jovem para São Paulo justamente para desenvolver algum trabalho remunerado com animais. Tinha interesse em reprodução. Passou em um teste para o Zôo e ali foi tratador, fiscal e laboratorista, até tornar-se responsável pelo setor de répteis. “Foi cruel, pois tinha medo de cobras”, lembra.

Educação ambiental 

Porém, lá começou sua atuação mais marcante e a descoberta de uma fascinação: as odiadas serpentes tornaram-se os animais de que mais gosta. Com o biólogo Mário Borges à frente, o pequeno setor, com apenas seis espécies na época, cresceu. “Meu objetivo era torná-lo tão importante quanto o de mamíferos e aves”, informa. Montou um terrarium e investiu na educação ambiental, para desfazer a fama dos répteis mais temidos: “Queríamos mostrar que 90% das serpentes não são venenosas.” Depois veio a Casa do Sangue Frio, o Departamento de Educação Ambiental, que criou em conjunto com outros colegas, e os cursos para professores, entre outros. “Durante cerca de seis anos, chegamos a formar mais de 5 mil professores”, revela. Também criou um curso para habilitar tratadores, que leva para zoológicos de todo o País. O último desafio foi recuperar a visitação do Zôo Safari, parque paralelo ao zoológico, onde os animais, em sua maioria, ficam soltos. Ele foi assumido pela Fundação em 2001 (era particular), com pouco público. “Considero que estamos obtendo êxito, pois em 5 de junho do ano passado ultrapassamos 1 milhão de visitantes”, afirma.

Edvaldo Antônio dos Santos comanda o setor de répteis e diz que aprendeu no Zôo tudo o que sabe sobre esses animais. Difícil é descobrir o que não sabe. Não é à toa que freqüentemente é chamado pela Divisão de Ensino e Educação (Ded) para falar ao público sobre eles. Nas apresentações que faz para o Passeio Noturno, desmente inúmeras características atribuídas às cobras. “Mitos e lendas sobre elas é o que não falta”, diz.

Quase formado biólogo, Edvaldo tem especial orgulho do trabalho de reprodução realizado no Zôo. Cita a reversão do quadro do jacaré-do-papo-amarelo (que, em 1990, estava quase extinto) como um momento marcante. “Isso se deu devido ao trabalho de várias instituições, inclusive a nossa”, comemora. Mas há uma série de reproduções em cativeiro que considera vitoriosas. Por exemplo, a da iguana do Nordeste, segundo ele, difícil de conseguir. Era metalúrgico antes de ingressar na Fundação. Isso já faz 22 anos. “Esse universo me conquistou”, afirma.

A atual chefe da Ded está há 18 anos no Zoológico. Bióloga recém-formada, Fátima queria ser professora, mas o destino traçou outro rumo, do qual não quer mais desviar. “Havia um tempo em que levávamos animais com alimentação artificial para casa, à noite, para cuidar”, conta a bióloga. Na Fundação, participou, ao lado de Borges, da criação do setor que agora comanda. No Ded, várias atividades são desenvolvidas sob a gestão de três biólogos e uma equipe de monitores, estudantes de Biologia, Veterinária e Zootecnia: a Casa da Água, o Passeio Noturno e o núcleo Riquezas do Brasil, entre outras.

Guilherme Domenichelli integra esse trio de biólogos e, como vários outros funcionários, foi estagiário quando começou, há sete anos. Declara-se apaixonado pela educação ambiental, que procura inserir em todas as atividades. “Gosto muito e acredito no que faço”, diz. Além disso, tem grande facilidade de comunicação com o público. Costuma ser o porta-voz das ações do Zôo paulistano na mídia, já escreveu roteiros (com Fátima) para um programa sobre animais veiculado na TV Cultura, e comanda o Passeio Noturno, que ajudou a criar e no qual tem uma boa oportunidade para passar seu recado. “É um momento interessante para isso”, avalia.

Cacareco, Tetéia e bugios

Criado em junho de 1957 pelo governador Jânio Quadros, o Zoológico de São Paulo foi inaugurado no dia 16 de março de 1958. Apesar do clima chuvoso, muitas pessoas participaram da festa na ocasião e puderam ver, pela primeira vez na cidade de São Paulo, 482 animais, dentre eles nove veados, duas onças-pintadas e uma preta, três jaguatiricas, dois gatos-do-mato, um urso, 23 papagaios, além do famoso rinoceronte Cacareco, que teve altíssima votação nas eleições para vereador daquele ano. Ainda em 1958, também foi criada a Fundação Parque Zoológico, que direcionou a instituição para o trabalho de recuperação de espécies, pesquisa e ensino. Hoje ela administra também a Fazenda, em Araçoiaba da Serra e o Zôo Safári. Assim como Cacareco, vários outros animais se tornaram famosos por habitar o Parque.

A hipopótamo Tetéia é um deles. Além de ser “de peso” (2,5 toneladas), é o habitante mais antigo. Chegou ao Parque em 1964, trazida da Argentina, com estimados 5 anos. O biólogo Guilherme Domenichelli informa que muitos visitam o Zôo só para conhecê-la. E não é para menos, já que sua história é fascinante. Tem dez filhos, um netinho (o Pororó, que vive no Zôo Safári) e, de acordo com Domenichelli, em uma das crias deu à luz um casal de gêmeos, coisa rara.Mário Borges, que a viu chegar ao Parque, completa: “Cerca de 80% dos hipopótamos dos zoológicos brasileiros são seus parentes”.

Ele, aliás, guarda na lembrança a história de outro animal que teve grande destaque em seu tempo. Na verdade, dois. Trata-se de um elefante enviado do antigo zoológico localizado na Vila Maria, já extinto. Na verdade era uma fêmea, chamada Bruma. Segundo Borges, ela veio para a Fundação depois de esmagar seu treinador, em uma reação inesperada. Como vivia grudada a uma égua, da qual gostava muito, foi trazida com ela, e assim permaneceu por vários anos, até morrer. “Ela parecia égua de desenho de índio, com aquela franjinha”, comenta BorgesTransbugio – Localizado em uma área de quase 900 mil metros quadrados de Mata Atlântica, o Parque abriga mais oito instituições, entre elas o Instituto de Botânica e o Parque da Água Funda. Aloja também nascentes do histórico Riacho do Ypiranga, cujas águas formam um lago que acolhe exemplares de aves de várias espécies, entre elas algumas migratórias.

Como habitantes, a mata possui ainda animais nativos de vida livre, como os macacos bugios, em grande número. Eles costumam atravessar a Avenida Miguel Estéfano, que corta o parque, para buscar alimento. Segundo Guilherme, no caminho, alguns morrem atropelados, o que o levou a projetar uma passarela exclusiva para travessia dos macacos, batizada de transbugio. “Só falta o patrocinador”, avisa o biólogo.

SERVIÇO

Fundação Parque Zoológico de São Paulo

Avenida Miguel Stéfano, 4241 – Água Funda

Telefone 5073 0811

Funcionamento – de terça a domingo das 9 às 17h (fechamento da bilheteria às 16h30)

*Abre às segundas-feiras somente em feriado ou véspera

Simone de Marco, da Agência Imprensa Oficial

(C.C.)



03/13/2008


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