Governo defende na ONU rigor na repressão a emissões de mercúrio em água e em solo
Representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) apresentam nesta semana, em Nairóbi, Quênia, posições técnicas sobre o controle e o banimento do uso do metal em produtos e em processos nas áreas industrial, mineradora e da saúde. A apresentação será realizada durante a terceira reunião de negociação da Organização das Nações Unidas (ONU) que elabora o texto da convenção do mercúrio, prevista para ser lançada em 2013. O evento começou na segunda (31) e segue até sexta-feira (4).
O governo brasileiro defende a eliminação gradativa (phase out) do uso do elemento químico em processos e produtos, com prazos para os países elaborarem e pôr em curso os planos de implementação com vistas à erradicação do uso. Porém, o MMA explica que até mesmo a defesa dessa posição ainda está em construção em virtude da necessidade de uma avaliação mais aprofundada do assunto.
Apesar de ser reconhecido como altamente tóxico, poluente e responsável por catástrofes com mortes de milhares de pessoas e animais, bem como contaminação de solo, água e ar em várias regiões do mundo, o mercúrio é considerado essencial por setores da cadeia produtiva de muitos países.
Por isso, de acordo com o ministério, o tema é polêmico e o uso do mercúrio é defendido em vários Estados. Sua erradicação ainda encontra resistência e todas as decisões que envolvem sua redução ou banimento geram grandes debates.
Planos de implementação
Representante do MMA na reunião e diretora de Qualidade Ambiental na Indústria da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do MMA (DQAI/SRHU/MMA), Sérgia Oliveira, disse que o Brasil defende a adoção dos planos de implementação para todos os países a fim de que o uso do metal seja eliminado paulatinamente.
Os planos de implementação constituem um instrumento dos países para planejamento da redução gradual do uso do mercúrio, para adaptação às normas definidas na futura convenção e para quantificação do uso do metal na cadeia produtiva a fim de identificar o valor a ser investido no processo de eliminação. A representante do MMA espera que “esta terceira reunião de negociação defina pontos extremamente relevantes para além das questões técnicas, em especial aspectos de financiamento que vão prover apoio aos países no atendimento às obrigações decorrentes dessa futura convenção”.
O técnico especializado em segurança química do MMA e também representante do Brasil na terceira reunião, Otávio Maioli, disse que a tendência do Brasil é defender o banimento do uso do mercúrio e que, em Nairóbi, os representantes do País vão manifestar-se favoravelmente a um texto mais rígido em relação às emissões de mercúrio em água e solo e contrários à proposta de categorização dos países emissores de mercúrio na atmosfera.
De acordo com o MMA, o Brasil é contra essa categorização, porque não dá para mensurar com precisão essas emissões e, além disso, a própria categorização fere princípios e diretrizes da Eco 92, realizada no Rio de Janeiro no início da década de 1990.
Mercúrio
Descoberto na Grécia antiga, o mercúrio era usado na mineração do ouro. Os gregos o chamavam de hidrargírio - hydra (água) + argyros (prata) - ou água-prata, e, até hoje é usado, tradicionalmente, para minerar e fabricar produtos.
Na área da saúde, ele compõe termômetros, barômetros, lâmpadas, medicamentos, espelhos, detonadores, corantes, amálgama para dentes, dentre outros. O mercúrio é um dos principais elementos para fabricação de todo tipo de produto de limpeza, porque faz parte do processo de fabricação do cloro. Todo esse uso, contudo, é passível de substituição e o Brasil é um dos países que provam que isso é possível.
Prova disso, explica o Ministério do Meio Ambiente, é a conscientização do setor industrial cloro-álcali. Segundo Maioli, há algum tempo e paulatinamente, “as quatro indústrias cloro-álcali brasileiras, que produzem cloro para fabricação de produtos de limpeza, vem substituindo o mercúrio pelas chamadas membranas”. Na área de saúde, o País também vem eliminando pouco a pouco o uso do metal: o mercúrio não integra mais, por exemplo, a fórmula de medicamentos como os antissépticos.
O Ministério da Saúde, por sua vez, discute e defende o phase out para substituição de uso do metal em equipamentos e medidores, como termômetros e outros, e em amálgamas dentárias, em que é largamente usado.
Otávio Maioli comenta que informações de uma nota técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra que entre julho de 2010 e julho de 2011, da quantidade de mercúrio que o Brasil importou, 47% foi destinado ao setor cloro-álcali para produção do cloro e 43% (cerca de cinco toneladas), para fabricação de amálgama dentário.
A perspectiva do governo brasileiro é a de que surjam ainda soluções para a substituição ou redução do mercúrio na mineração artesanal de ouro. Na área da saúde, pretende-se substituir o timerosal - substância que tem em sua fórmula o mercúrio como um dos seus principais componentes e é usada como conservante em alguns medicamentos e em vacinas multidose.
Fonte:
Ministério do Meio Ambiente
01/11/2011 11:41
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