Governo deve aumentar recursos para safra 2009/2010, mas especialista prevê queda de demanda por alimentos



Os produtores rurais deverão contar com mais recursos para o financiamento da safra agrícola de 2009/2010, conforme afirmaram representantes do Banco Central e do Banco do Brasil, em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). No entanto, a expansão da produção de alimentos visando à exportação foi desaconselhada pelo professor Guilherme Dias, da Universidade de São Paulo, que no debate representou a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

Para o professor, o setor deve ser cauteloso frente às incertezas geradas pela crise financeira internacional. De acordo com dados apresentados por Guilherme Dias, tem sido acentuada a queda da atividade econômica nos países compradores de produtos agrícolas brasileiros, o que significa redução de renda e de consumo, com conseqüente queda de demanda por alimentos.

- Nesse cenário, não tem sentido o Brasil aumentar a oferta, principalmente dos produtos de exportação. Não há nada que indique que devemos nos aventurar a produzir mais. Ao contrário, todo esse cenário mostra que devemos ser extremamente cautelosos, manter a oferta de alimentos para o mercado interno, mas oferecer menos para o mercado externo - disse o especialista.

De acordo com Guilherme Dias, o aumento do endividamento dos produtores e o risco de queda na demanda externa de alimentos podem resultar em estagnação do agronegócio brasileiro. O alerta foi feito após Antonio Gustavo Matos do Vale, diretor de Liquidações e Desestatização do Banco Central, anunciar a disposição do governo federal de aumentar o volume de crédito direcionado à agricultura.

Na safra atual, que vai de julho de 2008 a julho de 2009, foram disponibilizados R$ 65 bilhões para a agricultura patronal e R$ 13 bilhões para a agricultura familiar, montante que deverá ampliado no próximo plantio. Para viabilizar os recursos, explicou diretor do Branco Central, o governo elevou a taxa de exigibilidade bancária (percentual que os bancos são obrigados a investir em crédito rural) de 25% para 30% para depósitos a vista, e de 65% para 70% para depósitos de poupança.

Custeio

Os recursos do crédito rural representam um terço do total gasto para o plantio da safra, de acordo com Reinaldo Kazufumi Yokoyama, gerente-executivo da Diretoria de Agronegócio do Banco do Brasil. Os outros dois terços são representados principalmente pelos financiamentos oferecidos por grandes indústrias de insumos e máquinas agrícolas e por empresas exportadoras (tradings), havendo ainda a parcela de recursos dos próprios agricultores.

Conforme Yokoyama, o governo tem buscado fortalecer o aporte de recursos públicos na agricultura, para compensar a redução do crédito disponibilizado pelas tradings. Nesse sentido, o Banco do Brasil está antecipando R$ 1,5 bilhões para a próxima safra agrícola, visando permitir que os agricultores façam a compra antecipada de insumos, negociando os fertilizantes a um preço mais vantajoso. Esses recursos, disse, são 32% superiores ao montante antecipado no ano passado.

No debate, os senadores manifestaram preocupação com as dificuldades de acesso ao crédito por parte de produtores que renegociaram dívidas anteriores. Nessa situação, o produtor é considerado como um tomador de crédito de risco elevado, sendo impedido de acessar o crédito rural, conforme resolução do Banco Central, baseada em entendimentos internacionais, como o Acordo de Basiléia, que norteiam o funcionamento do sistema financeiro.

Conforme informações de Guilherme Dias, a inadimplência do setor rural vem crescendo desde 2004, passando de 10% no último ano e podendo chegar a 15% ainda neste semestre. Com essa inadimplência, explicou, não há como liberar crédito novo, havendo o represamento dos recursos destinados ao financiamento da safra.

Também presente ao debate, Juraci Moreira Souto, secretário de Finanças e Administração da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) afirmou que o crédito rural é um dos elementos do Plano Safra, ao lado da pesquisa, assistência técnica e canais de comercialização, entre outros. Para ele, antecipação de recursos anunciada pelo Banco do Brasil só será efetiva se vier acompanhada desses outros fatores que interferem na capacidade produtiva dos agricultores.



31/03/2009

Agência Senado


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