Hartung defende mudanças no relacionamento do Brasil com a economia mundial
Observando que falar de política de comércio exterior é tocar nos temas que estarão no centro do debate eleitoral do próximo ano, Hartung disse que o primeiro deles é a forma de inserção internacional do Brasil e o grau de abertura da economia.
Hartung afirmou que o Brasil importa e exporta pouco, tendo uma economia bastante fechada, mesmo com as mudanças estruturais ocorridas na década de 90. Ele lembrou que em 1999, após a mudança do regime cambial, as importações e as exportações brasileiras chegaram a 27% do PIB. No mesmo período, disse o senador, esta relação foi de 54% na China, 150% no México e 136% na Coréia.
O senador citou estudos dos professores Armando Castelar Pinheiro e Maurício Mesquita Moreira. Os dois acadêmicos constataram que as empresas manufatureiras exportam em média 18,7% de sua produção. Isso indica que o mercado externo "é um elemento apenas marginal nos planos de investimento das empresas nacionais". Na avaliação do senador, a baixa relação de comércio exterior da economia brasileira é causa e ao mesmo tempo sintoma de que existe uma efetiva vantagem em produzir para o mercado interno, no qual as margens são maiores. A empresa brasileira, frisou, precisa planejar seus investimentos e suas atividades tendo como base o mercado mundial.
A pré-condição para maiores exportações, disse Hartung, é as empresas encararem o mercado externo como elemento essencial do seu negócio e não como uma atividade apenas complementar. Ele ressaltou que estimular as exportações significa "preparar-se para abrir ainda mais a economia e integrá-la ainda mais à economia globalizada". O senador defendeu também o fortalecimento do Mercosul e seus acordos com a Comunidade Econômica Européia e as negociações da Área de Livre Comércio das América e da Organização Mundial do Comércio.
Hartung observou, no entanto, que para integrar-se à economia mundial o Brasil precisa estar preparado o que, segundo ele, não vem acontecendo. Ele defendeu a adoção de uma política industrial ativa, "voltada para a superação dos gargalos em cada cadeia produtiva específica" e maior precisão por parte da política de incentivo às exportações. O incentivo ao comércio exterior, disse, deve ser articulado com a política industrial e com a mobilização dos instrumentos de crédito existentes de forma seletiva.
- Não é possível uma visão romântica, pois se trata de um tema de alta complexidade e magnitude - alertou o senador.
Na sua avaliação, o país precisa de uma política ampla de promoção das exportações e da criação de uma cultura exportadora em todas as camadas do empresariado nacional. Ele lembrou a importância estratégica dessa política para a geração de empregos, a qualificação da produção nacional e a incorporação de novas tecnologias. Por isso, frisou, é importante adotar mecanismos que simplifiquem o acesso ao mercado externo das pequenas e médias empresas nacionais.
O senador enumerou outras questões que envolvem o aumento das exportações, como o acesso ao crédito para a produção e a reforma tributária, lembrando que as soluções não decorrem apenas da vontade unilateral do governo e devem ser construídas "com muita obstinação".
CAMPANHA TÉCNICA
Em aparte, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) concordou com Hartung, afirmando que a campanha pelo aumento das exportações não podia ser cívica, mas sim técnica. Citando como exemplo o Japão e a China, que centraram suas atividades em produtos de largo consumo mundial, onde a concorrência praticamente inexistia, disse que o Brasil deve apontar para mercados monopolistas, onde possa entrar com vantagem.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR), embora concordando em parte com Hartung, destacou os esforços do governo para fortalecer as exportações, como a redução da carga tributária e a criação da Agência Brasil, que tem como objetivo estimular as exportações, e a atuação dos Ministérios do Desenvolvimento e das Relações Exteriores neste sentido.
O senador Tião Viana (PT-AC) lembrou a série histórica da política de exportação do Brasil com países como Japão, Cuba e Dinamarca, observando que houve redução de venda para os países ricos e inversão para os pobres. Para ele, não se trata de o Brasil não ter o que vender, mas sim da destruição e atrofia de seu parque tecnológico, o que faz com que o país, hoje "troque um navio de soja por uma sacola de chip de computador".
06/09/2001
Agência Senado
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