HARTUNG PROPÕE FIM DO VOTO SECRETO PARA APRECIAR VETOS E CASSAÇÃO DE MANDATO



A realização de votações secretas para apreciação de vetos governamentais e cassação de mandato parlamentar pode estar com os dias contados. O líder do PPS no Senado, senador Paulo Hartung (ES), deve apresentar, em meados de setembro, proposta de emenda constitucional (PEC) que suprime a exigência de sigilo no exame dessas decisões, estendendo também o fim do anonimato do voto de deputados e senadores nas manifestações sobre a escolha de ocupantes de cargos públicos de alto escalão, de exoneração de ofício do procurador-geral da República e nos casos de parlamentares flagrados na prática de crime inafiançável.
Ao justificar as alterações propostas à Constituição, Hartung enquadra sua iniciativa como uma demanda do regime democrático. "Na qualidade de representantes da população, é mais que lógico que os eleitores possam acompanhar como votam os parlamentares escolhidos por eles", afirma. O senador capixaba argumenta ainda que, como o Congresso não tem a missão de legislar em causa própria, mas em prol do interesse público, não tem "cabimento" manter o voto secreto nas situações citadas.
Embora a minuta original da PEC preveja voto aberto para escolha de chefes de missão diplomática, o senador Paulo Hartung pode rever esse ponto. Segundo admitiu, sua posição foi influenciada por declaração do primeiro vice-presidente do Senado, senador Geraldo Melo (PSDB-RN), alertando que, em situações que impliquem risco à liberdade, a primeira instituição atingida sempre é o Congresso. Como a sabatina de embaixadores pode envolver temas de interesse estratégico nas esferas comercial ou de segurança nacional, Hartung considera que a manutenção da sessão e votação secretas para esses casos seria justificável.
De todas as mudanças sugeridas, a mais ampla e profunda refere-se ao flagrante de crime inafiançável praticado por parlamentares. Além de determinar a votação pública por maioria absoluta dos membros do Senado ou da Câmara, dependendo da Casa a que pertencer o acusado, a PEC acrescenta a permissão para sua prisão em flagrante, devendo haver deliberação apenas sobre o relaxamento da prisão e desautorização da formação de culpa.
Enquanto coleta as 27 assinaturas necessárias à tramitação da PEC, o senador socialista defende a "transparência" que sua iniciativa pretende imprimir aos atos dos parlamentares. Hartung reconhece que, historicamente, havia razão para a existência de algumas votações secretas no Congresso. Mas ressalva que hoje, ao se avaliar os custos e benefícios desses processos, observa-se que algumas votações polêmicas revelam um descompasso entre os interesses da opinião pública e o resultado final, levando todos os parlamentares a assumirem, de forma indiscriminada, o ônus da decisão deliberada.

23/08/2000

Agência Senado


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