Hospital Brigadeiro é referência no Brasil no tratamento de epilepsia
Instituição da Capital recebe os pacientes para cirurgia encaminhados pela rede pública ou privada
Mal dos espíritos ligada a fatores divinos e demoníacos. Assim era explicada a epilepsia no passado. Muitos séculos se passaram desde então, mas ainda hoje o desconhecimento e o preconceito associam a doença à superstição e ao mistério. Notáveis como os escritores Machado de Assis e o russo Fiódor Dostoievski foram epilépticos, mas nem por isso deixaram de desenvolver seu intelecto.
“Acho que não existe informação suficiente. Epilepsia é doença do cérebro, não dos espíritos, como muitos acreditam”, explica o médico Arthur Cukiert, chefe do serviço de neurologia e neurocirurgia do Hospital Estadual Brigadeiro, na Capital, referência no País no tratamento da anomalia que compromete 1,3% dos brasileiros.
Epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro. Por alguns segundos ou minutos, parte desse órgão emite sinais incorretos (crise parcial). Se eles atingirem os dois hemisférios cerebrais, a crise será generalizada. Por isso, algumas pessoas têm sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia. Mas se a crise for menor não indica que o caso é menos importante.
Qualquer fator que lesione o cérebro – tumor, meningite, acidente com instrumento cortante ou perfurante e falta de cuidados pré-natais – pode resultar na epilepsia. Outra ocorrência é pela ausência de oxigênio no cérebro do recém-nascido durante o parto. “Existe causa genética, mas é minoria”, diagnostica o médico. A moléstia também é contraída pelo consumo de carne de porco mal cozida e verdura mal lavada, contaminadas pela larva da neurocistecercose (infecção do sistema nervoso central).
Cura
O tratamento não é tão complicado quanto se pensa. Cukiert diz que 80% dos epilépticos são curados com medicamentos. Os outros 20% podem se recuperar com cirurgias de alta complexidade. Por encaminhamento médico da rede pública ou privada, o Hospital Brigadeiro recebe os pacientes indicados para operação. Após consulta da equipe multidisciplinar e realização de exames (ressonância magnética, eletroencefalograma e teste neuropsicológico), o doente só permanece na unidade de saúde se o caso for operatório.
A equipe do serviço de neurologia e neurocirurgia tem cinco neurologistas, um psiquiatra, três psicólogos, seis neurocirurgiões e quatro neurofisiologistas. “Na triagem, constatamos que a metade não precisa de operação. Nesse caso, o epiléptico retorna ao profissional de origem, com relatório, para tratamento ambulatorial”, frisa Cukiert.
Desde 1996 o hospital aperfeiçoa técnicas operatórias, que permitem tratamento quase sempre com sucesso. Há dois tipos de cirurgias: a curativa (ressectiva) e a paliativa. Para indicar a ressectiva, com 90% de chance de cura, o médico explica que é necessário conhecer a porção exata do cérebro a ser removida. Realizada com mais freqüência, corresponde a 80% das 150 operações feitas ao ano no Brigadeiro.
Sem cortes
“Quando não sabemos exatamente o local do cérebro afetado, se a região não puder ser removida por algum motivo e se os focos forem múltiplos e grandes, recomendamos a cirurgia paliativa, de alta eficácia, pois as crises reduzem em número e severidade, mas o indivíduo não fica totalmente livre da epilepsia”, informa o médico. Após a intervenção, diminui-se a dosagem de medicamento, com melhora de 60% a 90%. Em média, cada procedimento custa R$ 20 mil e é arcado integralmente pela Secretaria de Estado da Saúde.
O Hospital Brigadeiro é o primeiro da América do Sul a oferecer alternativa de cirurgia paliativa chamada implante cerebral de eletrodos profundos, usada para estimulação elétrica das regiões cerebrais comprometidas, sem a necessidade de cortes ou remoções. A nova técnica, empregada há um ano, foi utilizada com sucesso em cinco pacientes. Nos EUA, custa US$ 30 mil (cerca de R$ 60 mil). É grande a demanda pela assistência no Brigadeiro, por isso há um prazo de três a quatro meses de espera após a indicação cirúrgica. Mas a média é inferior a de países desenvolvidos, frisa Cukiert, que foi chefe de serviço de epilepsia no Canadá: “Lá, a operação era feita quase um ano depois da solicitação. Os mesmos tratamentos disponíveis no mundo existem no Brigadeiro. Nossa equipe teve treinamento no Canadá e nos Estados Unidos”.
Ao vivo
Agora, os médicos do Brigadeiro capacitam profissionais e estudantes de Medicina de diversos cantos do Brasil, da América Latina, Europa e EUA. O Hospital Brigadeiro realiza curso teórico e prático anual sobre cirurgias de epilepsia para médicos das áreas de neurologia, neurocirurgia e neurofisiologia. A operação é realizada ao vivo, com transmissão real aos participantes. O treinamento, que Cukiert assegura ser inédito no mundo, existe desde 1998. Durante uma semana de curso, os médicos conhecem procedimentos, debatem situações e esclarecem dúvidas técnicas com os cirurgiões.
Serviço:
Hospital Brigadeiro
Av. Brigadeiro Luis Antonio, 2.651 - Jd. Paulista - São Paulo/SP
Telefone: (11) 3289-2421
Fax: (11) 3284-8650
Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial
(I.P.)
10/17/2007
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