Ingresso da Venezuela no Mercosul ainda divide senadores



As três horas de debate que se seguiram nesta terça-feira (27) aos depoimentos do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e do embaixador Regis Arslanian, representante permanente do Brasil junto à Associação Latino-americana de Integração (Aladi) e ao Mercosul, mostraram a falta de consenso que existe na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) a respeito da adesão da Venezuela ao Mercosul.

Além do relator do protocolo de adesão, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que admitiu a possibilidade de uma aprovação condicionada à defesa da democracia e dos direitos humanos na Venezuela, 13 parlamentares apresentaram suas expectativas e preocupações em relação à possibilidade de ingresso do novo sócio. As preocupações foram, sobretudo, em relação ao comportamento do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) pediu cautela em relação ao tema e defendeu o envio de uma delegação de senadores à Venezuela, para verificar denúncias sobre violações de direitos humanos. O senador Renato Casagrande (PSB-ES) disse que o Senado não tem condições de rejeitar o novo sócio, mas solicitou maior debate sobre as condições desse ingresso.

Uma maior atenção do Brasil em relação ao norte da América do Sul foi solicitada pelo senador João Pedro (PT-AM), ao defender a adesão da Venezuela. Igualmente favorável, Pedro Simon (PMDB-RS) lembrou que no passado recente os países do continente tinham relações distantes. "Não falávamos uns com os outros", disse. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) recordou que a Comissão de Direitos Humanos do Parlamento do Mercosul - da qual faz parte - poderá investigar in loco quaisquer denúncias de violações de direitos na Venezuela, após aprovada a adesão.

Apesar de defender o ingresso do novo sócio como senador por Roraima, Mozarildo Cavalcanti (PTB) disse que, como senador brasileiro, vê a questão com cautela. "Se Chávez é transitório, Fidel Castro também era", comparou. O senador Flávio Torres (PDT-CE) disse que "fez força" durante muito tempo para gostar de Chávez, mas desistiu. Mesmo assim, ele considerou que a defesa dos direitos humanos naquele país poderá ser mais efetiva com a adesão ao Mercosul.

Após observar que o bloco experimenta um momento de crise, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) questionou se o Mercosul suportaria a presença de Chávez sem se dissolver. Por outro lado, Inácio Arruda (PCdoB-CE) pediu que o protocolo de adesão não seja analisado com "restrições ideológicas". Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu o ingresso da Venezuela como meio de fortalecer a democracia naquele país.

O senador Romeu Tuma (PTB-SP) citou editorial publicado pelo jornal Estado de S. Paulo nesta terça-feira ao apresentar sua preocupação com a utilização do Mercosul para atender aos interesses políticos de Hugo Chávez. Valdir Raupp (PMDB-RO) também apresentou restrições ao presidente da Venezuela, mas disse que o Mercosul precisa crescer. Por último, José Agripino (DEM-RN) disse estar preocupado com a possibilidade de o Brasil vir a "importar dificuldades" após o possível ingresso da Venezuela. Ele citou como exemplo a prolongada presença, na embaixada brasileira em Tegucigalpa, do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, depois que este voltou a seu país com o auxílio do governo da Venezuela.



27/10/2009

Agência Senado


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