Ingresso da Venezuela no Mercosul é inadequado e indesejável, diz Abdenur



O ingresso da Venezuela no Mercosul, como membro pleno do grupo econômico, foi criticado nesta terça-feira (27) pelo ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos Roberto Abdenur, durante depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Ele questionou duramente o regime político que vem sendo implantado no país, ao longo dos últimos anos, pelo presidente Hugo Chávez.

- Infelizmente, o que se está montando na Venezuela é uma ditadura. O ingresso desse país no Mercosul é inadequado, indesejável e contraproducente por razões políticas e econômicas. E vai alterar o jogo de poder dentro do bloco em detrimento do Brasil - disse Abdenur em resposta a um questionamento apresentado, durante a reunião, pelo líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

Abdenur foi convidado a comparecer à comissão depois da publicação de entrevista concedida por ele à revista Veja, na qual aponta a existência de uma política antiamericanista no Itamaraty e lamenta a ideologização que estaria ocorrendo no Ministério das Relações Exteriores. Critica especialmente o uso do critério ideológico para as promoções de diplomatas e a obrigatoriedade - já abolida - da leitura de livros que, a seu ver, estariam de acordo com a posição ideológica do comando do ministério.

Durante o debate, o líder do PSDB levantou a questão do ingresso da Venezuela no Mercosul. Na sua opinião, o governo de Chávez estaria desrespeitando a chamada cláusula democrática do Mercosul, pela qual todos os países do bloco têm de respeitar as regras do regime democrático.

Os dois autores do requerimento de convite a Abdenur, senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA), manifestaram preocupação com a suposta ideologização do Itamaraty e a possível interferência, nesse sentido, do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. O ex-embaixador reafirmou que pessoas de "alta competência" teriam sido preteridas na ascensão profissional por não estarem de acordo com a nova linha do ministério. Mas ressaltou a boa convivência que teve com Garcia enquanto permaneceu à frente da embaixada brasileira em Washington.

O presidente da CRE, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), chegou a sugerir a realização de uma reunião secreta da comissão, para que Abdenur revelasse casos em que o fator ideológico teria influído em promoções de diplomatas. O ex-embaixador, porém, disse que não teria o que acrescentar em uma reunião fechada. Os senadores Romeu Tuma (PFL-SP), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Serys Slhessarenko (PT-MT) defenderam a manutenção da reunião aberta.

O senador Fernando Collor (PTB-AL) observou que os principais obstáculos ao ingresso de produtos brasileiros no mercado dos Estados Unidos devem-se à atuação de parlamentares de regiões que seriam afetadas pelas exportações brasileiras. Por isso, sugeriu a realização de um maior intercâmbio entre deputados e senadores dos dois países. A sugestão foi elogiada por Abdenur, que lembrou os "imensos poderes" dos parlamentares norte-americanos sobre a política comercial de seu país.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) elogiou a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse não ver antiamericanismo na ação do Itamaraty. A política externa foi também considerada "justa e correta" pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). O senador Marco Maciel (PFL-PE), por sua vez, defendeu a retomada de negociações para a aproximação entre o Mercosul e a União Européia e para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) contestou a acusação de que todos os livros indicados pela direção do Itamaraty tivessem forte conotação ideológica, como sugerido na entrevista. Além disso, observou, a leitura não seria obrigatória. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) disse ter ficado surpreso com as críticas de Abdenur e questionou a possível utilização de critérios ideológicos nas promoções de diplomatas. Ao final da reunião, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) elogiou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por buscar uma política que não seja "nem de atrelamento, nem de trombada" com os Estados Unidos.



27/02/2007

Agência Senado


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