Início de viagem ao Haiti sem autorização parlamentar é criticado por integrantes de comissão
O início da viagem de um comboio de 58 jipes militares de São Leopoldo (RS) para o Rio de Janeiro, antes da aprovação formal do Congresso Nacional ao envio de tropas brasileiras ao Haiti, em missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), foi criticado nesta quarta-feira (12) por parlamentares que participaram de reunião conjunta das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) da Câmara e do Senado, com a presença dos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Defesa, José Viegas Filho.
Já pintados com as letras UN, sigla que, em inglês, significa Nações Unidas, os jipes percorrerão em três dias os 1.600 quilômetros de viagem até o Rio de Janeiro, a partir de onde as tropas brasileiras embarcarão em um navio militar para chegar ao Haiti.
- Lamento que os carros já estejam pintados e que os soldados estejam saindo de São Leopoldo. Não custava esperar dois dias, para não parecer uma desconsideração, ou então pouco importa a decisão do Senado e da Câmara, o que soa negativamente para o Congresso e o governo - afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS) durante a reunião.
Por sua vez, o senador Cristovam Buarque (PT-DF) disse que gostaria de votar a favor do governo na questão. Ressalvou, porém, que gostaria de ter informações sobre os cenários traçados pelo Executivo. Ele perguntou o que poderia acontecer, por exemplo, caso o Congresso negue autorização ao envio das tropas, ou caso soldados brasileiros venham a morrer durante a permanência no Haiti.
Em resposta, Celso Amorim disse que em nenhum momento se negaria a participar de uma discussão com os parlamentares sobre o envio das tropas e que sempre havia sido feita, nas negociações com a ONU, a ressalva de que a operação precisaria ter o aval do Legislativo.
- Os tanques podem já estar pintados, mas, se o Congresso Nacional não aprovar, eles não irão ao Haiti - assegurou Amorim.
O ministro defendeu, durante a reunião, a participação brasileira na missão de paz, lembrando a situação "quase caótica" do país caribenho e o interesse nacional em participar do programa de reconstrução do Haiti, que lembrou ser o terceiro país em população negra nas Américas, depois apenas do Brasil e dos Estados Unidos. Por outro lado, ele observou que a presença brasileira no comando das tropas responde ao reconhecimento de responsabilidade sobre a região.
- A paz não existe de graça. Temos uma responsabilidade, sobretudo em nossa região, e, se não a exercermos, outros a exercerão - alertou Amorim.
Por sua vez, José Viegas Filho observou que a missão oferece pouco risco para os soldados brasileiros, até mesmo porque nos últimos três meses não houve baixas militares nas forças interinas que se encontram no Haiti. Além disso, afirmou, o risco se torna ainda menor devido à boa aceitação da presença brasileira.
- O Brasil não provoca hostilidade de ninguém e não há ódios antibrasileiros - disse Viegas.
Também presente à reunião, o senador Marcelo Crivella (PL-RJ) disse que as verbas orçamentárias destinadas às Forças Armadas têm sido insuficientes e defendeu a destinação ao Ministério da Defesa de uma "pequena parte" do superávit primário obtido pelo governo.
12/05/2004
Agência Senado
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