Integração de águas do São Francisco não vai beneficiar os pobres, diz especialista
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Apolo Heringer Lisboa, afirmou nesta quinta-feira (14) que a transposição do Rio São Francisco não vai resolver o problema de falta de água no Nordeste, pois, na sua avaliação, o projeto de integração de águas vai beneficiar prioritariamente os grandes empresários e fazendeiros. Em audiência pública promovida por quatro comissões permanentes do Senado para debater o projeto do governo federal, Apolo Lisboa, que também é professor da Universidade Federal de Minas Gerais, sugeriu que o assunto seja discutido também na Câmara dos Deputados.
Apolo Lisboa reclamou da ausência do governo nos debates sobre o projeto que vêm sendo realizados há cerca de um ano com vários segmentos da sociedade - com exceção de alguns técnicos do Ministério da Integração Nacional, "por dever de ofício", disse. Para o professor, essa ausência indica a insuficiência dos argumentos técnicos do governo, pois, segundo lembrou, todos os geólogos e hidrólogos de universidades brasileiras não apóiam o projeto de transposição do Rio São Francisco.
O professor, ao discordar de argumentos apresentados na audiência pelo deputado Ciro Gomes (PSB-CE) em defesa do projeto, afirmou ainda que a transposição vai favorecer apenas a "indústria da seca", como chamou as grandes empreiteiras responsáveis pelas obras e os empresários do agronegócio, bem como as empresas multinacionais. Disse que a população carente, ao ser impedida de se aproximar dos canais e dos açudes do Nordeste, ficam sem acesso à água, da mesma forma que ao dinheiro dos bancos ou à comida dos supermercados.
Em sua opinião, a solução do problema da seca no Nordeste passa por uma política de melhor distribuição da água. Sugeriu que, para um melhor aproveitamento da água das chuvas na região - que ocorrem geralmente em dois ou três meses por ano - haja a coleta em reservatórios e a construção de um maior número de poços para disponibilizar o produto à população.
14/02/2008
Agência Senado
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