Itamar Franco vai às prévias






Itamar Franco vai às prévias
Governador de Minas Gerais anuncia que vai disputar a vaga de candidato à Presidência da República contra Pedro Simon e outros concorrentes

Depois de ameaçar abandonar a disputa, o governador de Minas, Itamar Franco, voltou atrás neste final de semana. Anunciou que vai mesmo disputar as prévias do PMDB, no dia 20 de janeiro, para indicar o candidato do partido à Presidência da República. Sua candidatura recebeu elogios até de um possível concorrente, Ciro Gomes (PPS), que ontem conclamou o PT e todos os ‘‘democratas do país’’ a levantar a voz contra ‘‘a intrusão violenta’’ do governo no PMDB e a estratégia nacional que, segundo ele, tenta transformar o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, ‘‘em um palhaço que ele não é’’.

Até ontem, quase todos no partido apostavam que Itamar Franco iria desistir por causa da redução do colégio eleitoral da prévia, medida imposta pela Executiva Nacional. ‘‘Homens que infelizmente dirigem nosso partido, que eu ajudei a fundar em uma época que era difícil falar em democracia, querem impedir que os vereadores participem das prévias. Nós vamos lutar pelos nossos vereadores. Nosso nome está mantido, vamos às prévias’’, disse Itamar. Ele não está preocupado com a possibilidade de uma eventual derrota: ‘‘Vamos concorrer, e essa história de perder é outra coisa’’.

A prévia restrita aprovada pela Executiva Nacional do PMDB, muito ligada ao presidente Fernando Henrique Cardoso, tem o propósito de evitar a vitória de Itamar. Quanto menor o número de votantes, maiores são as possibilidades de Itamar perder. O governador mineiro deve concorrer com o senador gaúcho Pedro Simon, mas a cúpula do partido pode também lançar um nome na disputa.

Enquanto isso, os diretórios estaduais ligados ao PMDB de Itamar recolhem assinaturas para tentar convocar uma convenção nacional extraordinária, que, segundo eles, teria autonomia para ampliar o número de participantes na prévia. Eles defendem a participação não só dos vereadores, mas também dos diretórios estaduais, o que elevaria para mais de 100 mil os participantes. A decisão da Executiva, que precisa ser referendada pelo conselho político do partido, definiu em 3.870 os votantes.

‘‘Não interessa se Itamar vai ser candidato ou não, mas se nos calamos por conveniência, aceitando que o governo invada o partido, visando subtrair da sociedade o seu direito de decidir quantas alternativas sejam apresentadas livremente, estamos destruindo a democracia’’, afirmou o presidenciável Ciro Gomes, ao participar do 13º Encontro Estadual do PPS, na Assembléia Legislativa de Pernambuco, no Recife.

Polarização
Na avaliação de Ciro, o governo é apenas parte do ‘‘sistemão’’ que quer impor ao povo brasileiro ‘‘um falso plebiscito entre a pseudo-racionalidade de quem administra os negócios do Estado e as relações internacionais em um momento complexo, contra a inexperiência e/ou o sectarismo político representado — verdadeiramente ou simbolicamente — pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT’’.

Segundo Ciro Gomes, o que se quer é destruir, eliminar e desmoralizar aqueles que podem quebrar essa polarização. No caso, Itamar Franco e ele próprio, sendo o governador mineiro a maior vítima. Ele lembrou que Itamar foi um presidente de ‘‘passagem benfazeja’’ em todos os campos, tendo pacificado o país politicamente depois do trauma do impeachment e da crise do orçamento, criando condição para enfrentar 30 anos de inflação, restaurando o crédito internacional depois de 15 anos de inadimplência, fazendo o país crescer a 6,5% e fazendo o desemprego despencar para 4,2%.

O presidenciável sugeriu à ‘‘imprensa livre’’ perguntar ‘‘porque um grande partido nacional, tendo nas suas fileiras um ex-presidente da República, governador do segundo maior estado brasileiro e presença competitiva nas pesquisas, abre mão de candidatura própria, que é o destino natural de qualquer partido, para alinhar-se de forma subalterna a um governo impopular’’.
Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, também saiu ontem em defesa de Itamar Franco, durante a convenção municipal do PMBD. Em sua opinião, ‘‘foi uma violência inaceitável’’ a decisão adotada pela Executiva nacional de reduzir o número de participantes nas prévias de 20 de janeiro para a escolha do candidato peemedebista à presidência da República. ‘‘Isso é um casuísmo, lembrando a época da ditadura militar, quando se faziam leis de acordo com o interesse do governo’’, criticou.


Equipes recuperam caixas pretas
Grupos de resgate encontraram ontem as caixas pretas do avião da Crossair que caiu a quatro quilômetros do aeroporto de Zurique (Suíça), no sábado. Na queda, 24 pessoas das 33 que estavam a bordo morreram. Dois sobreviventes estão estado crítico, três estáveis e quatro já deixaram o hospital. As autoridades suíças observaram que, na hora em que o avião caiu, as condições climáticas eram muito ruins. O diretor executivo da empresa, Andre Dose, afirmou que não há indícios que apontem para um atentado terrorista.


Líder índio é morto em massacre
Grupos paramilitares colombianos assassinaram cinco índios, entre eles um dos líderes e fundador da Organização Nacional de Indígenas da Colômbia (Onic), Luis Angel Chaurra. O crime ocorreu dentro da reserva indígena de Río Sucio, a 200 quilômetros de Bogotá. Segundo testemunhas, homens armados invadiram a casa de Chaurra, matando-o junto com quatro membros da tribo Embera Chami. ‘‘Foram os paramilitares’’, disse o presidente da Onic, Armando Valbuena. Os índios pediram o fim da violência no país, que há 35 anos vive um clima de guerra civi.


Americanos chegam a Kandahar
Líderes de tribos antitalibãs anunciaram que helicópteros de tropas norte-americanas aterrissaram perto da cidade de Kandahar. O movimento dos soldados começou a partir das 18h (horário local), quando grupos pró-Aliança do Norte tomaram o controle do aeroporto da cidade. A notícia não foi confirmada pelo Pentágono.


Artigos

Homens e ratos
Rubem Azevedo Lima

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush — que, dizem, não teria sido eleito regularmente, em 2000 — contratou uma especialista americana em marketing, para ‘‘vender’’ aos muçulmanos e árabes, conforme o jargão da marquetagem, uma boa imagem dos EUA. Esse trabalho, feito com sucesso pelos filmes de Hollywood, em todo o mundo, tornou simpáticos dois ratos: Mickey e Jerry.
A propaganda, arma poderosa, consegue, pois, tornar herói, na mente de adultos e crianças, até um animal nocivo, transmissor de graves doenças, mas, em vilão, seu inimigo doméstico natural. Aliás, a mesma arma — é questão de dinheiro — transforma, nas eleições, pessoas sem valor em personalidades imprescindíveis à vida pública de um país, que, assim, se elegem, para desgraça da nação.

O criador dos símbolos de cinema citados acima — notório admirador do fascismo — deve ter agido intencionalmente, ao mostrar os traços comuns entre os roedores perigosos e os maus políticos. Esses também corroem o tecido social com voracidade insaciável, e, às vezes, com simpatia, agravam as sociedades injustas. Vejam só: no Brasil, em sete anos, os bancos somaram lucros acima de US$ 20 bilhões, mas o número de brasileiros na miséria passou de 49,3% para 52%.
Bush não precisaria de marquetagem se combatesse, com seu poder e as riquezas nacionais, a miséria do mundo, a começar pela existente em seu próprio país, e se ajudasse o infeliz povo afegão, em vez de lhe vender fantasias. Ou se suspendesse o bloqueio imposto a Cuba, em nome de princ ípios políticos, que, de resto, são ignorados em relação à Arábia Saudita, ao Kuwait e ao Paquistão.

Ao presidente Fernando Henrique Cardoso bastaria menos: governar com a visão de brasileiro preocupado com a sorte de seus semelhantes no país. Sem afrontar a ordem jurídica via medidas provisórias, que deixarão o Brasil, pelo menos durante seis meses, à mercê de sua vontade pessoal, sem garantir a todos o respeito aos princípios do Direito, como o de fazer greve, ter salários condignos na forma da lei, e não de acordos eventuais, entre os raros poderosos, de um lado, e 70 milhões de trabalhadores debilitados pela crise nacional, do outro. Enfim: basta a FHC começar a agir socialmente no Brasil do modo como entende que os governantes de outros países devem agir em relação a nossos problemas econômicos.
É só tratar humanamente os seres humanos e os ratos como ratos, não como roedores, que talvez o divirtam, mas destroem a imagem jurídica e política do país.


Editorial

Taxa de juros

A manutenção da taxa básica de juros em 19%, decidida na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da última semana, não foi surpresa. Técnicos e analistas econômicos independentes já previam posição conservadora do Banco Central. Mesmo assim, a decisão não deixa de ser decepcionante num momento em que o país já dá sinais de desaceleração econômica. Não houve, sequer, o consolo de um viés de baixa, o sinal utilizado pelo BC para indicar qual deve ser a posição do Copom numa próxima reunião. Tudo indica que, este ano, a taxa não muda.

Os técnicos do BC justificaram a decisão com o argumento de que a manutenção da Selic, como se chama a taxa básica de juros da economia, é necessária para o cumprimento das metas de inflação de 2002, acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e fixada em 3,5%. O argumento faz sentido, diante do aumento brutal da taxa de câmbio e de uma possível elevação geral de preços, como conseqüência. Trata-se, no entanto, de uma visão estritamente monetarista, que desconsiderou outros elementos favoráveis do sistema econômico atual.

Não há indicadores de que o país esteja à beira de um descontrole — nem inflacionário nem cambial. Nas últimas semanas, o dólar recuou. A moeda norte-americana, que chegou a custar quase R$ 3, caiu para o patamar dos R$ 2,50. A dívida federal consolidada em títulos cambiários decresceu em R$ 16,6 bilhões por conta disso. Internacionalmente, o ambiente é favorável às taxas mais baixas de juros. Nos Estados Unidos, a taxa já está em 2%. Entre os países da União Européia, em 3,5%. O Brasil está seguindo o caminho contrário.
Nos Estados Unidos e na Europa, as taxas de juros caíram para evitar o risco de uma recessão global. É uma forma de estimular os cidadãos a irem às compras e, com isso, aquecer a economia. Os analistas entendem que os resultados dessa política devam ser sentidos já no segundo semestre do próximo ano. No Brasil, tomou-se opção que dificulta o crescimento no curto prazo. O nível atual de juros inibe a expansão econômica e não há nem a expectativa de que essa decisão seja revista em pouco tempo.

Um quadro assim agrava o desemprego e desestimula a produção, atingindo empresários e trabalhadores. Só o sistema bancário se beneficia, porque é detentor dos títulos da dívida pública, sobre os quais as taxas incidem. No primeiro semestre deste ano, o sistema financeiro obteve lucro líquido de R$ 3 bilhões, por conta das elevadas taxas de juros e do aumento do câmbio. Enquanto isso, os setores produtivos da economia amargaram duras perdas, pelas mesmas razões.
A decisão do BC sinaliza na direção de um cenário irreal. Indica que as autoridades econômicas parece temerem descontrole inflacionário ou cambial no futuro e desconfiam da estabilidade da moeda. São temores que a estabilidade alcançada pelo Plano Real não autorizam.


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11/26/2001


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