Jefferson: submissão do governo pode levar país a entregar o Acre à Bolívia, caso Morales peça o estado de volta



O senador Jefferson Péres (PDT-AM) disse, nesta terça-feira (9), que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu com "tibieza" diante da decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de expropriar os ativos da Petrobras naquele país. Para o senador, se Morales vier a denunciar o chamado acordo de Petrópolis, que anexou o Acre ao território brasileiro, é capaz de o Brasil ceder o estado à Bolívia. As observações foram feitas durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que ouviu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

- Se a reação do governo onde a Petrobras tem investimentos for sempre essa, começo a temer pelo futuro da empresa. O governo brasileiro pode até retroceder e ceder o Acre para a Bolívia. Pois não duvido que, amanhã, Evo Morales denuncie o acordo de Petrópolis - disse Jefferson.

Nesse momento, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pediu para Jefferson nem lembrar desse episódio - o acordo de Petrópolis - para que Evo Morales não acatasse a idéia de tomar o Acre do Brasil.

Jefferson cobrou mais firmeza do governo brasileiro nas negociações e nas respostas ao governo boliviano e disse que vai propor um voto de censura ao presidente Lula. O senador também criticou a política externa brasileira, afirmando que ela tem um "ranço ideológico", opinião compartilhada por outros senadores, como Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Segundo Azeredo, Lula tem muito mais proximidade com "setores atrasados da esquerda", como Morales e Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

- Gostaria que o Itamaraty fizesse uma política externa baseada no pragmatismo e sem ranço ideológico. Há um Itamaraty paralelo no Planalto - disse Jefferson.

Países instáveis

O ministro Celso Amorim disse que o governo brasileiro está agindo com firmeza na questão boliviana. Sobre as observações de Jefferson a respeito da presença dos militares bolivianos em torno dos campos da Petrobras, o chanceler considerou uma atitude "adolescente" dos bolivianos. Ressalvou, entretanto, que o governo brasileiro precisa manter uma posição de diálogo, embora manifeste seu descontentamento com tais atitudes.

- A política brasileira nunca será a do porrete, será sempre a da boa vizinhança - afirmou Celso Amorim, observando que não se referia aos senadores, mas a setores que manifestaram, pela imprensa, o desejo de que o governo brasileiro radicalizasse suas atitudes para com a Bolívia.

Segundo o ministro, o presidente Lula manifestou sua decepção para Morales na conversa com o presidente boliviano, quando comentou sobre o episódio das tropas do Exército que cercaram as instalações da Petrobras. Celso Amorim também fez a seguinte observação: o Brasil precisa acostumar-se com tais instabilidades, pois suas empresas se tornaram multinacionais, como é o caso da Petrobras.

- E petróleo não dá debaixo da Torre Eiffel nem na quinta avenida. Dá em países instáveis. Temos que nos preparar para isso - afirmou o ministro.



09/05/2006

Agência Senado


Artigos Relacionados


Jefferson Péres diz que reação do governo à decisão de Evo Morales foi "um ato de submissão"

Ordem de ataques a brasileiros que vivem na Bolívia não partiu do governo de Evo Morales, dizem autoridades

Agripino diz que governo não aprendeu lição e pode levar o país a nova crise energética

Ferraço: torcedores presos na Bolívia são usados como 'objetos de barganha política' pelo governo Morales

Anibal Diniz: etanol de mandioca pode levar energia a municípios isolados do Acre

Jefferson diz que sociedade rejeita submissão