Jogos Indígenas aplicam ciência tradicional ao esporte




Em meio a Semana Nacional de Ciências e Tecnologia 2013 que acontece em todo o País até o dia 27, povos indígenas anunciam a 12ª edição de seus jogos tradicionais, que este ano terá a ciência interagindo com o esporte. O evento ocorre entre 8 e 16 de novembro, em um jardim botânico de Cuiabá, com previsão de 1.600 índios de 48 etnias nacionais e 16 etnias estrangeiras.

As diferenças entre os Jogos Indígenas e o esporte de alto rendimento começam na filosofia de disputa. “Para nós, o mais importante não é ganhar, não é levar vantagem”, destaca Carlos Justino Terena, um dos organizadores do evento. “Nossa prioridade é a celebração da família, o encontro, a alegria, a dança, o canto e também os jogos em si”.

Segundo o organizador, boa parte das modalidades sequer envolve etnias distintas, apenas indivíduos de um mesmo povo. São os jogos demonstrativos tradicionais, como lutas corporais e o futebol de cabeça (jikunahati).

Índios de origens diversas se enfrentam nos jogos nativos de integração – arco e flecha, arremesso de lanças, canoagem, cabo de força, corrida de tora, provas de velocidade e resistência e natação de travessia em águas abertas.

Além das modalidades demonstrativas e nativas de integração, os povos disputam partidas de futebol, classificadas como “jogos ocidentais”. Realizam-se torneios femininos e masculinos. “A duração é de meia hora, com dois tempos de 15 minutos, a opção de usar ou não chuteira e a presença de juiz, figura ausente das provas tradicionais, assim como o relógio”, explicou Terena.

Outra característica marcante dos Jogos Indígenas é a inexistência de pódio ou destaque para os vencedores das competições. “Não estamos buscando campeões”, enfatizou o organizador. “Estamos buscando dignidade para o ser humano indígena. Todos os participantes ganham medalha”.

Natureza

Todos os materiais utilizados nas provas demonstrativas e de integração têm fabricação indígena, a partir de substâncias encontradas na floresta. Cada povo leva, por exemplo, suas flechas e seus remos. Bolas são feitas de resina vegetal e até o fogo que acende a tocha em homenagem ao evento é obtido por técnicas milenares, como o atrito de pedras e a fricção de paus.

Segundo Terena, a organização deve reservar três ou quatro dias antes do dia do evento para as etnias fabricarem seus utensílios. “A gente quer observar essas práticas e entender como é a tecnologia de cada povo. Sabemos que um pessoal do Xingu usa um tipo de folha em uma das fases da produção da bola, para que ela fique maior. Já outros povos utilizam uma resina que deixa o material mais pesado”.

O período de realização dos jogos, sempre no segundo semestre, também segue preceitos tradicionais de sustentabilidade, uma vez que as arenas costumam ser montadas em matas próximas às cidades-sede. As competições acompanham o início da estação chuvosa, para facilitar o reflorestamento.

“Quando a gente começa a montar os Jogos, em qualquer lugar do Brasil, escolhe um lugar ermo, no meio do mato, digamos assim, e leva um pajé para olhar se realmente pode ser ali”, contou Terena. “Antes de desmatar, a gente pede licença à natureza para usar aquele lugar, que não é nosso, mas do passarinho, do tiú, da cobra, da minhoca, da formiga.” Ao final das disputas, cada etnia participante planta uma árvore de uma espécie nativa.

Por motivos culturais, as competições acontecem em dias e noites de lua crescente. “Os Jogos são bons para nós e para o branco, porque esse tipo de demonstração precisa entrar no coração da pessoa”, afirmou. “Por que realizamos na cidade e não na aldeia? Porque queremos mostrar ao branco quem somos nós. A partir do momento que você conhece, passa a respeitar.”

Organizados pelo Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, os Jogos contam com apoio do Ministério do Esporte.

Fonte:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação



23/10/2013 10:04


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