José Nery defende plebiscito sobre privatização da Vale do Rio Doce



Em discurso no Plenário nesta sexta-feira (1º), o senador José Nery (PSOL-PA) defendeu que seja "recolocado na pauta de debate" o processo de privatização da empresa Vale do Rio Doce, vendida em 1997 por US$ 3,38 bilhões, para grupos privados, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o senador, esse valor hoje representa o lucro trimestral da empresa. Nery afirmou que organizações populares estão preparado um plebiscito nacional sobre a anulação da privatização da Vale do Rio Doce, a ser realizado em setembro.

A empresa, destacou Nery, foi criada há 65 anos, em 1º de junho de 1942. Por décadas, disse o senador, a Vale do Rio Doce foi "expressão da capacidade criadora do povo brasileiro e importante símbolo da riqueza nacional". O senador acha necessária uma mobilização civil, dentro da legalidade democrática, para solucionar o que chamou de "crime de lesa-pátria".

- Vários setores tomam consciência de que é preciso passar a limpo o processo que resultou na privatização da Vale do Rio Doce - disse Nery.

O senador informou que há mais de 100 ações populares na Justiça contra o leilão. Para Nery, o andamento e o desfecho dessas ações populares é um assunto complexo porque significa mexer com a maior empresa de mineração diversificada das Américas e segunda maior do mundo.

José Nery afirmou ainda que as reservas minerais sob controle da Vale do Rio Doce estão sendo esgotadas e devem acabar em um ou dois séculos. O senador criticou o fato de os lucros da comercialização desses minérios estarem sendo gastos, segundo ele, sem nenhuma preocupação social.

- Como pode ser possível que apenas poderosos grupos econômicos que realizam sua acumulação de capital da forma como bem entendem, sem quaisquer preocupações com a coletividade, definam impunemente o tempo em que a riqueza mineral do povo brasileiro vai ser exaurida, esgotando-a em algumas décadas, quando poderiam perdurar por séculos e ter uma destinação focalizada na superação objetiva da miséria social que envergonha o nosso País? - questionou.

Em aparte, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que não defende nem o Estado máximo nem o mínimo e sim "o Estado necessário". O senador afirmou ser preciso lembrar os "prejuízos que a Vale do Rio Doce" dava ao país quando era estatal e destacou as mudanças de gestão pelas quais a empresa passou depois da privatização, passando a ter grandes lucros. Heráclito chamou a atenção ainda para os altos impostos que o Estado brasileiro recebe da empresa Vale do Rio Doce, graças a esses lucros.

Também em aparte, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que as estatais brasileiras sempre serviram às elites e se disse surpreso pelo fato de os representantes da esquerda defenderem tanto as estatais se elas apenas atendiam a interesses da elite nacional.

- Não é um problema da propriedade do capital, do Estado ou privado, e sim da relação desse capital com a sociedade - disse Cristovam.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), também em aparte, afirmou que a Vale do Rio Doce tinha todas as condições de avançar e ser a grande alavanca do desenvolvimento brasileiro. Mas, destacou, a Vale foi vendida por US$ 3,38 bilhões e hoje vale US$ 100 bilhões. O problema, disse Simon, "não é privatizar, é dar de graça".



01/06/2007

Agência Senado


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