Jovens cientistas brasileiros mostram seus inventos em feira na Poli-USP



De 11 a 13 de março, visitante pode ver os trabalhos de alunos de 24 Estados e também conferir projetos de estudantes do Mercosul

Robô agrícola, tênis infantil versátil, bicicleta antichuva, biodiesel e controle de poluição da água são alguns dos 267 projetos que o público poderá conhecer na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). Considerada uma das maiores feiras de ciência jovem no Brasil, ocorre na Faculdade Politécnica da Universidade de São Paulo, de 11 a 13 de março. Os inventos foram criados por estudantes (do último ano do ensino fundamental, do ensino médio e técnico) de 24 Estados e do Distrito Federal.

Durante um ano, os alunos se dedicaram aos projetos pondo à prova seu espírito investigativo, criatividade, capacidade de observação e  determinação. Eles seguem o método científico: identificam um problema real, estabelecem uma hipótese, fazem o diário de bordo, entre outras atividades, até encontrar uma solução inovadora. Tudo isso para resolver um problema ou criar soluções científicas ou tecnológicas, explica a coordenadora da Febrace, Roseli de Deus Lopes. Ela diz que, a cada ano (esta é a 6ª edição do programa), os trabalhos ganham mais profundidade, elaboração, sofisticação e complexidade. O número de projetos recebidos também tem crescido. 

Algumas soluções e inventos criados pelos jovens cientistas saíram das pranchetas e da escala de laboratório e estão em uso atualmente, embora este não seja o objetivo do programa. A idéia norteadora da Febrace é estabelecer ou arraigar o método científico e tecnológico nas escolas públicas e privadas (em algumas, o projeto científico faz parte da grade curricular) e ajudar o estudante a desenvolver a escrita, o raciocínio lógico, a capacidade de análise, o senso crítico e a expressão oral, diz Roseli. “O projeto desenvolve habilidades e competências e auxilia na formação e no currículo”. Conta o caso de um aluno que era retraído na escola. Depois da feira, tornou-se liderança.

Soluções criativas e viáveis – Roseli aproveita para dar um “puxão de orelhas” nos professores e nas escolas que desestimulam os alunos a pensar, inventar, descobrir e observar, ao exigir que apenas decorem conteúdos. Ela insiste em que esse tipo de abordagem inibe o cientista que existe no ser humano desde o dia em que nasceu, e pode prejudicar o desenvolvimento de seu potencial. Acrescenta que o professor não precisa ficar com receio se não domina o assunto que o aluno quer pesquisar, basta orientá-lo para que execute o projeto sem pôr em risco sua segurança física e emocional.

Entre as criações que hoje são realidade, Roseli cita a solução que três estudantes elaboraram para combater os resíduos provenientes dos abatedouros que poluíam o rio de sua cidade. Outro desenvolveu jogos para o ensino de genética e uma empresa de brinquedos adotou a inovação. Um aluno da Bahia, para solucionar o problema da avó que não tinha acesso à água potável, construiu um dessalinizador de água do mar. Em seu laboratório de fundo dequintal, inventou um aparelho que funciona com a energia do sol. Custa R$ 15 e vem com o passo-a-passo de como deve ser operado corretamente.

Um estudante do Rio Grande do Sul percebeu que a empresa onde estagiava usava método muito artesanal (congelar/descongelar, medir temperatura) para verificar a qualidade do leite. O garoto observou, ainda, que além disso poucas amostras eram inspecionadas. Como solução, criou uma placa eletrônica, pois fazia curso técnico na área. A placa permite fazer a checagem da qualidade do leite em menos tempo, agilizar os processos, que ganharam escala realmente industrial, e averiguar mais amostras. Seu projeto foi incorporado pela empresa.

Troca de idéias e experiências

Mesmo para quem não conseguiu ser selecionado para participar da feira, há conquistas, aprendizado e evolução, garante Roseli. Lembra o caso de um aluno e seu professor orientador, que gostaram tanto do projeto e da engenharia, que hoje ambos são alunos da Poli. Fala de outro aluno que descobriu que não “dava para engenheiro porque não tinha o mesmo entusiasmo que os colegas. Ao fazer o projeto, só se interessava pela viabilidade orçamentária”. Roseli fala que é melhor descobrir logo que não tem vocação do que fazer escolhas “por acidente”. Além de engenharia e suas aplicações, a Febrace recebe projetos nas categorias de Ciências Exatas e da Terra, Biológicas, da Saúde, Agrárias, Sociais e Humanas.

São essas outras categorias que têm obtido menos sucesso na seleção, especialmente as Sociais e Humanas, lamenta a coordenadora, que gostaria de ter mais projetos aprovados. Roseli diz apreciar projetos que gastem poucos recursos e resolvam problemas, e não aqueles feitos para exibição aos pais (caros, decorativos, bonitos) e sem serventia. Outra novidade conquistada pela experiência de feiras anteriores são os relatos de estudantes e de professores que já participaram de eventos anteriores.

Nesses bate-papos, há troca de idéias, incentivo e motivação. Roseli fala de um aluno que participou da feira e depois foi escolhido para mostrar seu projeto nos Estados Unidos. Infelizmente, durante a viagem o protótipo ficou deteriorado e não pôde provar sua funcionalidade, embora os avaliadores tivessem gostado muito do trabalho. No ano seguinte, fez de novo e gravou o invento em operação em um laptop emprestado.

Dos projetos em exibição na Febrace, este ano, haverá nova seleção. Nove serão escolhidos para participar da Intel ISEF (International Science Engineering Fair), que ocorrerá de 11 a 17 de maio, em Atlanta, Georgia, EUA. Além da Intel, a Febrace tem o apoio institucional da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Ministério da Educação, Ministério da Ciência e Tecnologia e da Secretaria Estadual de Desenvolvimento. O Instituto Votorantim e o Sebrae Nacional patrocinam a feira, organizada pelo Laboratório de Sistemas Integráveis da Poli/USP, um dos mais inovadores no Brasil.

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial

(L.F.)



02/17/2008


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