Limpeza do Pinheiros trará ganhos aos mananciais que abastecem SP



O combate à sujeira começou na sexta-feira, 31

Quando um engenheiro canadense disse que iria inverter o fluxo do Rio Pinheiros para garantir energia elétrica a uma São Paulo ainda em expansão, foi chamado de louco e por pouco não parou atrás das grades. Quase sete décadas depois do feito colossal, quem diria, a obra de Asa White Kenney Billings é retomada pelo Estado. Na sexta-feira, 31, começaram as primeiras injeções de compostos químicos para a limpeza do rio que, no futuro, poderá mais uma vez alimentar a usina hidrelétrica de Henry Borden, em Cubatão.

A usina é essencial para a região metropolitana da Capital e da Baixada Santista e está 75% ociosa por falta de “matéria prima”. Não que o recurso esteja escasso, afinal a represa Billings tem 132 quilômetros cúbicos de água. O problema é que o sistema precisa ser abastecido, o que requer água corrente. Antes da enorme expansão industrial vivida por São Paulo, ela fluía abundante no Pinheiros e desaguava na Represa Billings. Mas a poluição tomou conta do rio e esse bombeamento foi interrompido para preservar o manancial. Para que esse fluxo seja retomado, é preciso que o Pinheiros se livre da sujeira. Portanto, limpá-lo não só embeleza e dignifica a cidade como ajuda a garantir mais energia para seu desenvolvimento.

Esta não é a primeira vez que se fala na despoluição do rio (nos tempos coloniais chamado de Jurubatuba, que, coincidência, em tupi quer dizer “pardo e sujo”). A diferença é que agora uma técnica de patente nacional vai dar cabo à situação. O método já foi testado e aprovado em 35 outras plantas espalhadas pelo Brasil – o que inclui o Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro, e a lagoa da Pampulha em Belo Horizonte.

O nome da técnica chama-se flotação, um procedimento físico-química cujo nome se refere à flutuação de pequenos flocos de sujeira durante o processo de purificação. A coisa é mais ou menos assim: injetam-se certos elementos químicos na água suja que aglutinam as partículas de poluição formando flocos, bolhas de ar fazem com que eles subam à superfície de onde são retirados por dragas coletoras. Espera-se que sejam retiradas 350 toneladas de sujeira do Pinheiros todos os dias a partir da semana que vêm deste jeito.

Saiba como as bolhas de ar ajudam a retirar sujeira da água

O ex-governador Mário Covas foi o primeiro a dar uma oportunidade de pôr à prova o método. Em 1997, determinou seu uso na despoluição da lagoa do Parque da Aclimação, concluída em 1999, e da lagoa do Parque do Ibirapuera, limpa em 2000.

Dar vida ao Pinheiros era o passo natural do governo paulista e as obras de duas estações de tratamento começaram já em 2001. Uma ação na justiça interrompeu o andamento das construções sob a alegação de que era necessário um estudo mais aprofundado do impacto ambiental da flotação no rio. A resposta veio seis anos depois: no dia 27 de julho foi assinado um acordo com o Ministério Público Estadual que garante um intenso monitoramento do processo e a realização de um Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto Ambiental).

Momento histórico

A primeira etapa do processo começou nesta semana. Quando um dos 120 profissionais que trabalham no projeto acionou a bomba que inverte o fluxo do Pinheiros, fazendo-o escoar do entroncamento com o Rio Tietê, na altura do complexo viário do Cebolão, rumo à Estação Elevatória da Pedreira, ao lado da represa Billings, teve início finalmente um histórico processo de limpeza do rio, que recebe cerca de seis metros cúbicos de esgoto por segundo.

Serão duas estações de tratamento dispersas por cinco quilômetros de rio. Elas vão operar a uma taxa de 10 metros cúbicos por segundo, o que ainda garante ao Pinheiros sua marca registrada: a de um rio parado, sem correnteza, como se estivesse morto. Mas quando a segunda etapa for iniciada, daqui a dois anos, serão sete estações (três no rio, totalmente remodeladas, e mais quatro nos afluentes Jaguaré, Pirajuçara, Morro do Oeste e Zavuvus) operando a 50 metros cúbicos por segundo perfazendo um trecho de 25 quilômetros. Com isso, o Pinheiros terá correnteza a conferir a olhos nus, o que é mais do que suficiente para tirar a Henry Borden do ostracismo. De quebra, a limpeza trará enormes ganhos ambientais às bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê.

Manoel Schlindwein



09/01/2007


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