LOPES DIZ QUE NÃO VENDEU DÓLAR BARATO AO MARKA, MAS SE CALA SOBRE CONTA

O economista Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, afirmou nesta terça-feira (dia 17) à CPI do Sistema Financeiro que o Banco Central não vendeu dólares a preços abaixo da cotação aos bancos Marka e FonteCindam, nos dias 14 e 15 de janeiro, três dias antes da decisão de liberar o câmbio no país. O valor da venda ocorreu por "cotações superiores às praticadas pela Bolsa de Mercadorias & Futuros para o mercado futuro", garantiu.Dizendo-se orientado por seus advogados, Francisco Lopes se recusou a responder a qualquer pergunta ligada ao documento encontrado pela Polícia Federal em seu apartamento, no qual seu ex-sócio na consultoria Macrométrica, Sérgio Bragança, declara que Lopes é dono de US$ 1,6 milhão que estariam em contas bancárias no exterior.Questionado por mais de cinco horas pelos senadores da comissão de inquérito, o ex-presidente do Banco Central argumentou que, caso o BC não tivesse vendido dólares ao Marka e ao FonteCindam, "haveria uma ruptura na Bolsa de Mercadorias", podendo comprometer todo o sistema financeiro. Francisco Lopes defendeu a política de flutuação cambial e sustentou que o Brasil "pagou o menor preço", comparando-se com países do Sudeste Asiático, ao sair da política de câmbio rígido para o liberado. "A alternativa era uma moratória interna, seguida de moratória externa." Por suas contas, o Banco Central, "pelo critério de caixa", acabou ganhando "de 5 a 6 bilhões de reais" com a flutuação da moeda. "O banco perdeu na venda de dólares no mercado futuro, mas ganhou porque suas reservas passaram a valer mais em reais", disse. Questionado pelos senadores Roberto Saturnino (PSB-RJ) e Pedro Simon (PMDB-RS), os quais queriam saber se o ex-presidente do BC não havia informado ao presidente Fernando Henrique Cardoso, durante almoço, sobre o caso Marka-FonteCindam, Francisco Lopes foi lacônico: "Prefiro não falar sobre esse almoço".O senador Pedro Simon ponderou que Francisco Lopes tinha a chance de recuperar sua reputação, desde que autorizasse a CPI a usar informações de suas contas bancárias e explicasse o documento do ex-sócio Sérgio Bragança. "Minha reputação está arrombada", lamentou Lopes, recusando-se a abrir mão de seu sigilo bancário e a explicar o documento.Quase todos os senadores condenaram uma declaração inicial de Francisco Lopes, quando considerou arbitrária a ação de policiais e de procuradores do Ministério Público por terem "invadido" seu apartamento. Para os senadores, a busca e apreensão foi legal e democrática, pois estava autorizada por uma juíza, baseada em argumentos fundamentados dos procuradores. O ex-presidente do Banco Central negou que "despachasse" às sexta-feiras na Macrométrica, como foi noticiado. "Fundei a consultoria com vários amigos. Eu ia à empresa e aproveitava para receber pessoas do mercado. Depois, saía para almoçar com meus amigos." Lopes disse ainda que não telefonava de Brasília para a Macrométrica. "Eu passei para minha mulher o celular que o Banco Central me deu e ela costumava telefonar para o filho, que ficava na Macrométrica", explicou. Ele garantiu ainda, perguntado pelo senador Eduardo Siqueira Campos (PFL-TO), que a Macrométrica não fez qualquer depósito em suas contas bancárias depois que foi convidado para o Banco Central.O senador Pedro Simon lamentou que o STF, ao conceder liminares a pessoas investigadas pela CPI, "esteja amarrando" o Congresso. "É uma hora muito triste para o Supremo. O Supremo está impedindo que a CPI possa investigar se um ex-presidente do Banco Central tem ou não uma conta no exterior com mais de um milhão de dólares", afirmou. O presidente da CPI, Bello Parga (PFL-MA), também lamentou que a Justiça esteja "manietando as comissões parlamentares de inquérito".

17/08/1999

Agência Senado

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