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Lula começa busca de novos apoios
PT quer votos dos 76% do eleitorado que estiveram com os três candidatos de oposição ao governo Fernando Henrique

SÃO PAULO - O comando do PT começou a negociação para ampliar a aliança de apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da disputa pela Presidência. Ontem, foram iniciadas conversas com Ciro Gomes e Anthony Garotinho e com a direção dos partidos que sustentaram os dois candidatos.

No primeiro pronunciamento após a confirmação do segundo turno, o sorriso forçado no rosto dos dirigentes petistas mal conseguia esconder a frustração pela vitória no primeiro turno ter escapado. Mas o próprio Lula não deixou a lamentação evoluir para o desânimo.

- Acreditei que era possível e trabalhei para ganhar no primeiro turno. Não deu, paciência. Agora, no dia 27, vamos completar o serviço - afirmou.

Para tentar evitar que os militantes de abatessem, tanto ele como o presidente do partido, José Dirceu, procuraram valorizar o desempenho dos candidatos do PT pelo país. Lula teve quase 40 milhões de votos - um terço a mais que seu melhor resultado nas disputas anteriores.

Dois candidatos petistas aos governos estaduais venceram a eleição no primeiro turno e oito outros continuam no páreo na segunda fase da sucessão. Foram eleitos 10 senadores do PT, aumentando a bancada de oito para 14. As projeções das bancadas para a Câmara dos Deputados e Assembléias Legislativas indicam também crescimentos expressivos da participação do PT.

- O PT conquistou a maior vitória político-eleitoral desde que foi fundado. O resultado mostra que temos todas as condições de formar uma ampla base de apoio ao governo Lula na Câmara e no Senado - afirmou Dirceu.

No segundo turno, a meta do PT é conquistar todos os eleitores que votaram nos candidatos de oposição, que, somados, equivalem a 76% dos votos válidos no primeiro turno. Para isso, está buscando um discurso que cative esse eleitorado. Lula conversou domingo com Ciro por telefone, preparando o terreno para um provável apoio. Dirceu fez contatos com Garotinho e com os presidentes do PPS, Roberto Freire, do PSB, Miguel Arraes, e do PDT, Leonel Brizola.

- Não temos problemas em fazer essas alianças porque já estivemos juntos no mesmo palanque em algum momento da História do país - disse Lula, garantindo que as negociações serão políticas e em torno de propostas, não de cargos.

Para o PT, os votos que o apoio expressivo aos candidatos de oposição indica que a sociedade quer mudanças. O objetivo no segundo turno é convencer os eleitores de Ciro e Garotinho de que Lula tem mais condições de promover mudanças do que Serra.

- Vamos tentar conquistar esses eleitores com muito carinho, muita ternura, mas também com muita disposição para mostrar as diferenças programáticas entre nós e nosso adversário. E será mais fácil convencê-los se tivermos conosco os candidatos que eles preferiram no primeiro turno - disse Lula.

Luiz Dulci, secretário-geral do PT, sintetizou o discurso que o partido pretende desenvolver no segundo turno.
- Lula é o candidato da produção e Serra, o candidato da especulação.

O partido está apostando na propaganda eleitoral gratuita, que agora terá mais do que o dobro do tempo de Lula no primeiro turno, e na campanha de rua. A exposição do candidato petista nos debates na TV será mais restrita que no primeiro turno. Lula alega que a campanha é curta e os debates tomam muito tempo da agenda.


FH entra em campo para ajudar Serra
Meta é aglutinar a base do governo no apoio à candidatura tucana no 2° turno

SÃO PAULO e BRASÍLIA - A campanha de segundo turno de José Serra, do PSDB, começou ontem pelas mãos do candidato e, também, do presidente Fernando Henrique Cardoso. O presidente telefonou para o ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles, reeleito deputado federal pelo PPB-RJ, para pedir-lhe que faça a ponte com a Força Sindical, por meio de Paulo Pereira da Silva (PTB-SP). Serra também tentou atrair apoios para a campanha. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PR), foi um dos procurados por ele ontem.
As costuras políticas passam pela negociação de cargos num futuro governo Serra. Entre os objetos de barganha estão ministérios e as presidências da Câmara e do Senado. O PMDB sonha com cargos na equipe econômica.

As mudanças começaram a ser anunciadas ainda cedo ontem. O coordenador político da campanha de Serra, Pimenta da Veiga (PSDB-MG), afirmou que será substituído por um conselho de políticos aliados. O grupo deve ser comandado pelos presidentes do PSDB, José Aníbal (SP), e do PMDB, Michel Temer (SP).

Aníbal negou que Fernando Henrique vá assumir papel na coordenação da campanha. O presidente terá papel importante como articulador. O presidente também aparecerá mais nos programas de televisão de Serra.

O conselho político será formado pelos governadores e senadores eleitos pela coligação em primeiro turno. Entre eles estão Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Marco Maciel (PFL-PE) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Serra telefonou para o ex-governador do Ceará e senador eleito Tasso Jereissati ontem. Também quer a presença do amigo pessoal de Ciro Gomes, do PPS, no conselho político.

- Estamos abertos para agregar todas as forças políticas que contribuírem para aumentar a musculatura da candidatura Serra - diz o presidente do PSDB.

Anibal anunciou ontem que Serra está disposto a se encontrar com Garotinho e a buscar apoios entre os governadores eleitos do PSB. O candidato também espera oficializar o apoio do PFL amanhã, quando o partido se reunirá em Brasília para decidir a posição para o segundo turno. Jorge Bornhausen explica que as coisas não são simples assim. O partido pode optar pela independência. Essa posição é defendida com veemência pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

- Lula vai ganhar de qualquer jeito. Mas em alguns estados a relação do PFL com o PT é muito tensa. O melhor é ficar sozinho - afirmou Antonio Carlos, que não deve participar da reunião de amanhã.

O presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), também foi procurado pela campanha de Serra ontem. O partido ainda não se comprometeu com ninguém. Hoje à noite, sua bancada na Câmara se reúne na casa de Martinez. Serra espera que o resultado do encontro seja o apoio do partido a ele.

Paulinho, vice-presidente do PTB e presidente licenciado da Força Sindical, defendeu o apoio a Lula. Dornelles tentou falar por diversas vezes ontem com ele, a pedido de Fernando Henrique. Segundo um assessor, o sindicalista fugiu de Dornelles. Evitou dizer não e assumir a mágoa que tem do governo Fernando Henrique. Paulinho atribui ao ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, o vazamento do relatório da Controladoria-Geral da União sobre irregularidades na aplicação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que o aponta como envolvido.

Serra terá que lidar ainda com uma polêmica sobre o marketing. O publicitário Nizan Guanaes é defensor de agressividade na polarização. Nelson Biondi, o outro marqueteiro, prefere um programa mais propositivo. Independentemente de mudanças na equipe, ficou certo que os departamentos de marketing, eventos e pesquisa estarão sempre subordinados à nova coordenação política.


Lula e Serra em campanhas caras
Petista previu gastos de R$ 36 milhões para o TSE; o tucano estimou custos em R$ 60 milhões

SÃO PAULO - A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva este ano teve a maior estrutura da história da participação do PT em eleições. A previsão de gastos é da ordem de R$ 36 milhões. Carro blindado, guarda-costas e jatinho para viagens, somados aos c omitês, ao material de campanha e a nomes como o publicitário Duda Mendonça, os jornalistas Ricardo Kotscho e André Singer, o cineasta Paulo Caldas e de outras 200 pessoas fizeram desta a campanha mais profissional de Lula.

Duda Mendonça trabalhou para reduzir o índice de rejeição a Lula - historicamente maior entre as mulheres e os eleitores mais idosos - com inserções na TV nas quais falava diretamente a esses setores, marcadas pelo tom emocional e com uma linha de neutralidade em temas polêmicos, que pudessem lhe tirar votos. Chegou a dizer que não iria responder a ataques de adversários, com a frase: ''Sou Lulinha paz e amor''.

O candidato do PSDB, José Serra, teve uma estrutura de campanha maior ainda que a de Lula. Declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma previsão de gastos de R$ 60 milhões, contratou uma extensa equipe de assessores de imprensa, sediada em Brasília e em São Paulo, além de contar com estrelas em seu programa eleitoral no horário gratuito: o apresentador Gugu Liberato, a jornalista Valéria Monteiro, a cantora Elba Ramalho e o grupo KLB, além do publicitário Nizan Guanaes.

Pode-se dizer que Serra venceu a etapa mais difícil de sua campanha: a passagem ao segundo turno, ao obter 23% dos votos válidos (19,6 milhões de votos). Até o fim do primeiro turno, Serra não conseguiu ser unanimidade entre os partidos que dão sustentação ao presidente Fernando Henrique e foi lançado candidato a presidente de uma coligação rachada.

Oficialmente, a aliança reuniu o PSDB e o PMDB, mas as seções estaduais de São Paulo e Santa Catarina do PMDB, entre outras, não se engajaram na disputa. No do PSDB, perdeu o apoio do ex-governador Tasso Jereissati (CE), contra quem se impôs como candidato. Tasso aderiu abertamente à campanha do amigo Ciro Gomes (PPS).

Crítico há anos de políticas econômicas adotadas pelo governo Fernando Henrique, Serra passou a campanha tentando solucionar a equação a que se propôs ao ser lançado candidato: ser a ''continuidade sem continuísmo''. Ou seja, fazer críticas e não se chocar com o anseio popular por mudanças, sem abandonar a defesa do governo Fernando Henrique e defendendo suas principais bandeiras: o controle da inflação e o Plano Real.

Sua imagem de antipático, criada em parte por sua linguagem técnica e por discursos de pouco apelo popular, também mostrou-se um obstáculo à pretensão de polarizar com Lula desde o começo do processo eleitoral.
Mal colocado nas pesquisas de intenção de voto, a propaganda do tucano passou boa parte do tempo tentado desconstruir seus adversários. A estratégia funcionou para derrubar oponentes, como Ciro Gomes, mas fracassou na missão de provocar uma ''ventania de votos'' para Serra, nas palavras do próprio candidato. A propaganda negativa fez crescer também seus percentual de rejeição.

Ao chegar ao segundo turno, Serra tem a chance de atrair parcela significativa dos partidos que formaram a base de sustentação do governo Fernando Henrique. Com a ajuda do presidente, que participou timidamente da campanha até agora, os tucanos podem trazer de volta o apoio de setores do PFL e do PTB. Para isto, terão que negociar e dissolver as resistências à candidatura de Serra.


FH pede clareza a candidatos
Na primeira entrevista após a apuração, presidente faz apelo a Lula e Serra

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso alertou ontem, durante entrevista no Palácio da Alvorada, que o segundo turno das eleições presidenciais deve servir para que os candidatos apresentem suas propostas com mais clareza. Pediu, ainda, que sejam evitadas as agressões pessoais.

- O importante é manter o espírito democrático, mesmo com a capacidade de discordar. Mas não se pode perder a compostura - defendeu.

Fernando Henrique lembrou que o segundo turno mostra que nenhum candidato obteve maioria dos votos dos eleitores brasileiros.

- Isso significa que as pessoas desejam mais esclarecimentos, discutir os caminhos para o país - disse.
Para o presidente, eleição não é um jogo entre pessoas, mas de forças políticas, sociais e econômicas e de grupos que se formam ao redor dessas forças.

- Tenho certeza que os dois candidatos têm condições de expor as suas idéias e que todos nós vamos ser beneficiados com esses debates.

Para o presidente, os presidenciáveis têm que demonstrar muito mais do que apresentaram no primeiro turno. Fernando Henrique reclamou não ter escutado, até o momento, nenhuma proposta inovadora - inclusive do candidato oficial, José Serra, do PSDB.

- Nada de novo em políticas sociais, econômicas, zero. Fizeram mais do mesmo - protestou.

Fernando Henrique disse que as críticas sobre exportações, crise financeira e produção agrícola não procedem.

- A balança comercial teve superávit, não tivemos recessão em nenhum momento e produzimos 100 milhões de grãos, o dobro dos resultados anteriores.

O presidente garantiu que está disposto a ajudar o candidato José Serra no segundo turno das eleições. Mas frisou que não abrirá mão de suas atribuições presidenciais. Descartou também qualquer hipótese de pedir licença do cargo.

- Agirei dentro das minhas limitações institucionais. Eu vou manter a postura de presidente da República, o que não significa que não esteja apoiando o meu candidato - esclareceu.

- A máquina pública não deve ser usada na campanha. Eu nunca usei. Isso pode até acontecer em alguns estados brasileiros, mas é sinal de atraso - complementou.

Fernando Henrique deve participar de propagandas no horário eleitoral do candidato tucano mas descarta a aparição em eventos públicos.

- Eu não acredito que a presença do presidente em comícios vá contribuir no debate de idéias - justificou.
Fernando Henrique comemorou a tranqüilidade nas eleições de domingo, ressaltou que os votos foram dados de forma eqüitativa entre os partidos, evitando a supremacia de um sobre o outro. Um dos pontos positivos destacados pelo presidente foi a derrota de alguns ''caciques políticos'', como Orestes Quércia e Paulo Maluf em São Paulo e Fernando Collor em Alagoas.

- Sem alarde, essas pessoas vêm perdendo a centralidade. Muitas, por uma questão de sobrevivência, estão buscando se ligar a Lula, o que me parece contraditório - destacou.

Por diversas vezes, o nome de Lula foi citado por FH durante a entrevista. Ele destacou que o fato de dois candidatos de origem humilde e perseguidos pela ditadura militar disputarem o segundo turno das eleições é um sinal de maturidade do país. Elogiou a declaração do candidato do PT de que, caso venha a ser eleito, anunciará toda o ministério, e não apenas a equipe econômica para acalmar os mercados.

Fernando Henrique lembrou, quando indagado sobre a transparência e as atribuições de cada um durante o governo de transição, que o próprio Lula tem dito que não deseja assumir responsabilidades antecipadas. O presidente reiterou que o mandato do atual só se encerra no dia 31 de dezembro.


O senador mais votado da História do Brasil
Aloizio Mercadante é eleito em São Paulo com 10,5 milhões de votos

SÃO PAULO - Nenhuma pesquisa eleitoral previu os quase 10,5 milhões de votos dos eleitores de São Paulo que consagraram o deputado Aloizio Mercadante (PT) como o senador mais votado da História do país.

Mas ele nunca acreditou nas pesquisas. O calor da campanha lhe dava a certeza de que poderia superar a marca dos 7,7 milhões de votos que o falecido governador tucano Mário Covas obteve quando se elegeu senador na campanha de 1986 - que contou com uma força do Plano Cruzado de José Sarney.

- O que eu via nas ruas não batia com as pesquisas - observa Mercadante, que já viu candidatos do PT serem prejudicados por índices subestimados nas pesqui sas eleitorais.

Aos 48 anos, o economista e professor Mercadante chega ao Senado surfando na onda vermelha do PT que elegeu 10 senadores e mais de 90 deputados federais. Seu maior compromisso é reafirmar o princípio da ética na política que está desmoralizado após o afastamento de quatro senadores nos últimos dois anos.

Mercadante pretende reforçar no Senado o discurso petista que elege o social como eixo fundamental do desenvolvimento. A expressiva votação o credencia a ser futuro líder de sua bancada, repetindo a experiência que teve na Câmara há dois anos.

É um dos mais próximos conselheiros de Lula. Caso o candidato do PT seja eleito presidente, pode indicá-lo para líder do governo ou mesmo para um cargo na área econômica. caso assuma cargo executivo, Mercadante deixa no lugar o ex-prefeito de Jaboticabal (SP) José Baccarin.

O senador mais votado do país é nascido em uma família de classe média. Filho do general de Exército e ex-comandante da Escola Superior de Guerra Oswaldo Muniz Oliva e da professora de yoga, vegetariana e homeopata Yara Mercadante Oliva, ele começou a militância política no movimento estudantil da década de 1970.

Formou-se em Economia pela Universidade de São Paulo em 1976 e fez mestrado e doutorado na Unicamp, onde leciona há 25 anos. Foi fundador da Associação Nacional dos Professores Universitários (Andes) e assessor de sindicatos e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que ajudou a organizar. Também colaborou na organização do PT e em todas as campanhas de Lula desde 1982.

Está no segundo mandato de deputado federal. No primeiro, teve atuação destacada nas CPIs do Esquema PC e dos Anões do Orçamento. Em 1994, foi candidato a vice-presidente da chapa de Lula, substituindo José Paulo Bisol, que foi abatido por denúncias oriundas da própria CPI do Orçamento.

- Consegui essa votação graças à militância do meu partido, ao Lula, ao Genoíno, a tantas lideranças que me apoiaram, aos meus 30 anos de trabalho, sendo 22 construindo o PT, e ao povo de São Paulo - agradece Mercadante, que é casado há 20 anos com a socióloga Maria Regina Barros e tem dois filhos, Mariana de 18 anos e Pedro, de 16.


Boato leva Ciro a fazer desmentido
Milhares de mensagens eletrônicas, distribuídas em todo o país, na manhã de ontem, levaram o comitê de campanha de Ciro Gomes a publicar um desmentido veemente na página eletrônica do candidato na internet. Segundo o editor dosite de Ciro, Régis Souto, ''não faz o menor sentido a mensagem divulgada, tanto que hoje, após reunião com líderes da Frente Trabalhista, Ciro deverá anunciar seu apoio a Lula'', afirmou.

Na coordenação dos partidos que apoiaram Ciro à Presidência, ontem à noite, era unânime o sentimento de indignação com a notícia divulgada. ''É o dragão da maldade em ação novamente'', afirmou um dos líderes do PPS, que prefere se manter anônimo. Ciro não comentou a notícia, nem o deputado Roberto Freire, reeleito em Pernambuco com 53.916 votos. Segundo as mensagens divulgadas, Freire teria garantido apoio a José Serra no segundo turno.

''Esclarecemos a todos que está circulando pela internet uma falsa mensagem, onde Ciro recomenda o apoio a José Serra no segundo turno. Não existe qualquer sinalização nesse sentido. Somente nesta terça-feira, 08, Ciro falará sobre os rumos que irá tomar no segundo turno'', informa a mensagem publicada na página eletrônica de Ciro www.ciro23.com.br.


Lula, Serra e os outros
Se tivesse vencido no primeiro turno, a esta altura Lula estaria montando as negociações políticas com os partidos à base de um denominador comum que lhe garantisse a maioria parlamentar no Congresso. Maioria sem a qual presidente algum consegue governar. Vargas, Café Filho, Jânio Quadros e João Goulart, todos por motivos diversos, são exemplos históricos. De fato, na política, como no futebol, ninguém vence sem os outros de sua equipe. Mas como lhe faltaram quase quatro pontos, paralelamente às articulações partidárias, terá que também desenvolver entendimentos com Garotinho e Ciro Gomes, tentando atraí-los para uma frente comum dos candidatos que concorreram no dia 6 sob o signo da oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso.

Um sentimento de inevitável desconforto certamente envolveu Luiz Inácio Lula da Silva, que na reta de chegada, esteve a um passo da vitória inapelável. As pesquisas, principalmente a do Ibope da noite de sexta-feira, o situaram numa posição privilegiada, da qual inclusive - diga-se de passagem - não foi afastado pelos quatro pontos. Mas da mesma forma que não existe quase emprego, como o candidato do PT sustentou no belo programa com que encerrou a campanha na televisão, também não existe quase vitória.

A diferença essencial contida na palavra tão forte quanto mágica, talvez tenha surgido da resposta que José Dirceu endereçou a Serra, usando espaço do próprio PSDB assegurado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Naquele momento, o Partido dos Trabalhadores reeditou instantes do governador Mário Covas quando apoiou Lula no segundo turno de 89 e quando hipotecou adesão a Marta Suplicy na eleição do ano 2000 para a Prefeitura da cidade de São Paulo. A comunicação estava politicamente correta, mas foram utilizadas imagens de alguém já falecido. A reação negativa pode ter vindo por aí, a exemplo do que ocorreu há poucos anos no patamar publicitário: uma empresa de refrigerantes usou montagens com Humphey Bogart, James Cagney e Louis Armstrong, todos já mortos. E uma companhia de cerveja recorreu ao mesmo truque projetando Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Segundo insucesso. O relançamento de Mário Covas no tempo impróprio talvez tenha sido o terceiro erro. Equívoco capaz de ter valido os pontos que bloquearam o final único do páreo. Há motivo para se acreditar que assim tenha sido. Pois exatamente em São Paulo (em nenhum outro Estado) foi onde a margem de Lula sobre Serra recuou um pouco a partir da noite de quinta-feira.

Mas isso passou. Relativamente às articulações legítimas para o segundo turno, se Lula se movimenta de um lado, Serra se movimento de outro. Porém, inegavelmente o caminho da convergência junto a Ciro e Garotinho está mais fácil para Lula do que para o candidato do PSDB. Não apenas em função da distância de votos de um para outro, mas também pelo espaço entre eles e os adversários de ontem. A campanha na televisão recomeça esta semana, igualdade absoluta para ambos. Vamos ver como serão os desdobramentos. Não há motivo para ansiedade, pois se a vida passa depressa, quanto mais apenas três semanas.


Artigos

A exportação que importa
Gerard R.J. Bourgeaiseau

O vitorioso na corrida presidencial deverá ter, independente do viés de seu programa de governo, compromisso prioritário com o aumento das exportações. Como todos sabemos, é urgente para o Brasil a geração dos dólares necessários ao pagamento de suas contas e à retomada do crescimento econômico. As ações que a busca desse objetivo requer, no entanto, por mais dinâmicas e acertadas que sejam, levam sempre algum tempo para produzir os resultados desejados.

Nesse contexto, o turismo é o segmento da economia brasileira que pode desempenhar, como nenhum outro, papel fundamental na promoção do desenvolvimento econômico e social. Em primeiro lugar, por sua enorme capacidade de gerar empregos imediatos. Em segundo, porque garante, também de forma imediata, a captação de divisas. No caso brasileiro, o potencial é ainda maior, porque o que se tem para vender são ''produtos'' sofisticados e já ''prontos'': esses mil brasis proporcionados por nossa extraordinária riqueza geográfica e cultural. E tanta diversidade, tanta qualidade, que sempre puderam ser oferecidas a preços muito competitivos, tornam-se hoje ainda mais atraentes em funç ão da vantagem cambial do turista que paga em dólar.

Nos últimos anos, o turismo no Brasil tem crescido quantitativa e qualitativamente. Do início dos anos 90 para cá, evidencia-se cada dia mais o sucesso de ações voltadas à expansão das atividades turísticas. Um bom exemplo ocorre na Bahia, onde vem sendo desenvolvida há cerca de 20 anos, ininterruptamente, uma série de projetos turísticos e culturais que interagem em benefício dos dois setores. Outros Estados e municípios têm obtido resultados igualmente significativos. O próprio governo federal adota uma política em que se destacam programas como o Prodetur, que está viabilizando melhor infra-estrutura turística para o Nordeste através de obras de saneamento básico, de ampliação de aeroportos e estradas etc.

Mas precisamos de investir em marketing turístico. Algo em torno de 80 milhões de dólares, o correspondente a 2% do nosso faturamento com o turismo externo, que é a percentagem mínima recomendada pela OMT - Organização Mundial do Turismo. Um investimento elevado, se comparado ao que gastamos atualmente - cerca de 26 milhões de dólares -, mas absolutamente indispensável, se o Brasil quiser, de fato, se inserir no grupo dos maiores receptores de turistas do mundo.

Estamos falando de países como França, Estados Unidos e Espanha, que investem no turismo de qualidade, não no de massa. E para alcançarmos essa meta, o que realmente importa é trabalhar segmentos como o de congressos ou o de viagens de incentivo patrocinadas por empresas. São pessoas que vêm gastar aqui três vezes mais dólares do que o turista tradicional. Com esse mesmo gabarito, temos também o turista cultural e o ecoturista; o praticante de esportes de aventura ou o de pesca de rio e de oceano. Sem falar em grupos extremamente peculiares como o dos observadores de pássaros, que só nos Estados Unidos mantêm mais de 30 mil clubes dedicados exclusivamente a essa atividade. Uma gente pronta para ser atraída para o Pantanal, o maior santuário de aves do planeta.

Recebemos atualmente cerca de 5 milhões de estrangeiros por ano, ocupando uma modestíssima 26a colocação no ranking mundial. Mas 88,2% dos que nos visitam garantem, ao término da viagem, que o Brasil atendeu plenamente ou superou todas as suas expectativas.

E então? O que estamos esperando para conquistar, no mercado mundial, uma fatia à altura do vastíssimo potencial turístico deste país?


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

A serviço do bem público
A quantidade de gente antiga na política que domingo recebeu o chamado bilhete azul das urnas mostra que certas reformas são inexoráveis: acontecem independentemente da ação e do desejo dos políticos.

No Congresso, eles resistem em reformular as regras que normatizam as relações entre representantes e representados, mas, no voto, o eleitorado dá, ele mesmo, o seu jeito.

Sem medo de errar, é possível afirmar que a reforma política começou anteontem. Agora, se os parlamentares darão ou não ouvidos ao recado, é outra história.

Caso se mantenham surdos e não tomem a reforma política como primeira e urgente tarefa da próxima legislatura, podem estar certos de que vários deles pagarão o preço na próxima eleição.

Quando a cargo do eleitor o processo pode até ser mais lento, mas, em compensação, é mais firme. Sempre haverá alguém para citar os exemplos deste ou daquele eleito, na tentativa de desmentir a evidência de que os velhos esquemas sofreram uma quebra irreversível em suas estruturas.

Claro, temos o caso das grandes votações de gente cujos procedimentos foram condenados, a ponto de provocar a interrupção de seus mandatos. Mas, de outro lado, é bastante mais significativa a quebra de feudos regionais, partidários e até personalísticos.

Tomemos o próprio Antonio Carlos Magalhães que se elegeu ao Senado, levou consigo o segundo senador da Bahia, fez o governador e ainda deu ao neto um mandato de deputado federal com 400 mil votos.

Uma leitura superficial concluiria que ele saiu vitorioso. Não saiu, não. Recebeu cerca de 30% dos votos dos baianos, quando, não faz muito, seu índice de aprovação era de 70%. Paulo Souto elegeu-se no primeiro turno por pouco, e os 38% de votos dados ao candidato do PT, Jaques Wagner, consolidam um contraponto até então inexistente na política baiana.

ACM fez 20 deputados federais e a oposição a ele, considerando todos os partidos, elegeu 19. Estabeleceu-se, no mínimo, a divisão de poder. Além disso, por mais que diga agora que sempre esteve com Lula, seu candidato era Ciro Gomes e chegou em terceiro lugar no Estado.

Antes de ceder a ligeirezas e transformar versões convenientes em verdades absolutas, é bom lembrar que, na democracia, pelo voto, não se alteram situações do dia para a noite. Soluções bruscas são aliadas do autoritarismo.

E aqui temos o exemplo de Paulo Maluf em São Paulo. A trajetória ladeira abaixo dele vem sendo construída há algum tempo: elegeu Celso Pitta com menos votos que os obtidos na eleição anterior para a prefeitura, em 1998 foi ao segundo turno com Marta Suplicy, dono de um patrimônio eleitoral ainda mais reduzido, e agora amargou o terceiro lugar.

É assim que as coisas se processam quando o pressuposto é o do respeito a vontades coletivas e da presença do contraditório. O PT é a prova mais eloqüente. Em 1985 elegeu a primeira prefeita, Maria Luísa Fontenelle, em Fortaleza.

Causou sensação pelo ineditismo do fato. Passaram-se 17 anos e hoje é com naturalidade que vemos o partido chegar à frente numa eleição presidencial, depois de eleger dois governadores no primeiro turno, conquistar nove vagas no Senado e disputar o governo de oito Estados no segundo turno.

O desmonte dos feudos não tem reverências ou preferências ideológicas. Atinge tanto Orestes Quércia, Fernando Collor, Íris Rezende, Gilberto Mestrinho e Newton Cardoso, quanto Leonel Brizola e o PT do Rio Grande do Sul.

Neste último caso, a pouca significância do primeiro colocado, Germano Rigotto (PMDB), ressalta o gosto do eleitor pela busca da independência, da saudável desobediência ao pré-estabelecido.

Aqueles que não enxergam alterações na Bahia não vêem também mudanças no Maranhão e acabam concluindo que a família Sarney, por ter elegido dois senadores, continua dona do mesmo poder de sempre.
Se permanecesse tudo como dantes, o candidato da dinastia não teria de enfrentar um duro segundo turno, nem o patriarca, José Sarney, se veria obrigado a declarar apoio a Lula por pura falta de alternativa.

Ausência de opção, esta admitida por ele mesmo, quando qualificou o candidato do PT como um ''gargalo'' pelo qual o país deveria passar o quanto antes. Embutido na frase estava o complemento: para se ver logo livre dele e voltar tudo à antiga forma.

Pois não é exatamente com grande desprazer que cumpre informar às Suas Excelências, os velhos caciques, que o Brasil, preservadas as condições democráticas, não retrocede. Enveredou pelo caminho do futuro e quem não avançar junto vai ficar para trás.

Assim que o eleito em 27 de outubro tomar posse - seja ele Lula ou Serra - e o Congresso começar a funcionar, a nova correlação de forças políticas falará por si.


Editorial

FIM DE CICLO

O povo brasileiro usou o voto no último domingo para conceder o direito de aposentadoria a alguns ilustres personagens que nas últimas décadas ocuparam a ribalta da vida política do país.

O primeiro a anunciar que sai de cena foi o governador Itamar Franco, patrono da candidatura de Aécio Neves, que expressou sua disposição de aceitar um cargo de embaixador na Itália.

Outro que recebeu a sinalização da história foi o ex-governador Leonel Brizola, campeão de votos ao longo de uma carreira extraordinariamente bem-sucedida e que, ao contrário do governador de Minas, tem relutado em aceitar o ócio imposto pelo eleitor.

Há ainda um terceiro tipo de promessa de aposentadoria, oferecida aos ex-governadores Newton Cardoso e Orestes Quércia, que experimentaram a amargura de perder a eleição para políticos mais jovens em idade e idéias, e que hoje representam uma novidade que parece tão desejada pelo eleitor.

Haveria, ainda, a acrescentar a essa galeria de notáveis o caso do novamente senador Antonio Carlos Magalhães, que recebeu das urnas um aceno que, mesmo não implicando aposentadoria, pode antecipar a maré vazante na sorte política.

Tanto Antonio Carlos Magalhães quanto o ex-presidente José Sarney, embora representem uma geração cujo ciclo parece terminar, permanecem na cena política por sua experiência, que ainda tem muito a oferecer ao país. Antonio Carlos Magalhães, convidado a retornar à vida parlamentar pelo voto sempre generoso de seus coestaduanos, viu-se, entretanto, obrigado a aceitar aplausos bem menos calorosos que aqueles a que se acostumara até um passado muito recente, quando teve que suportar sua cassação pelo Congresso Nacional.
Mas o que haveria de comum entre esses homens além do bilhete azul ou da sinalização que receberam, dando conta de que está chegando ou já chegou a hora de colocar um fecho às suas carreiras de homens públicos? É evidente que, no plano ideológico e de comportamento político, o passado de cada um deles tem singularidades inconfundíveis. O que os aproxima é apenas o fato de serem, todos eles, lideranças de expressão nacional, que partilharam o tempo e o espaço de um ciclo da história política brasileira, que teve início na década de 50 e que parece ter chegado ao fim quando foram abertas as urnas de domingo.

No caso de Leonel Brizola, pode-se dizer que estas urnas sinalizaram, com o fechamento de um segundo ciclo, o que teve início no tempo de Vargas e ganhou sobrevida na década de 80, em plena fase de reabertura democrática.


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10/08/2002


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