Mães de Luziânia: angústia com espera por resultado de exames de DNA
Depois da incansável busca pelos filhos desaparecidos e do choque causado pela confissão do pedreiro Adimar Jesus da Silva, que assumiu ter assassinado os seis jovens, as mães de Luziânia - cidade goiana próxima a Brasília, onde ocorreram os crimes - ainda sofrem com a falta de informações em torno do caso. A mais nova angústia é a espera pelos resultados dos exames de identificação dos corpos encontrados no local onde o pedófilo confessou ter enterrado quatro dos seis jovens, que tinham idades entre 13 e 19 anos.
A expectativa pelos resultados dos exames foi revelada pelas mães durante entrevistas antes da audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quinta-feira (6). Por iniciativa dos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e José Nery (PSOL-PA), a reunião serviu para homenagear, na antevéspera de mais um Dia das Mães e por meio dessas mulheres, todas as mães de filhos desaparecidos e violentados, seja por atos físicos ou mazelas sociais, como assinalaram os autores da proposta.
Os resultados dos exames de DNA deveriam sair em até 15 dias, mas já se passaram mais de 20. É o que conta Sônia Vieira de Azevedo Lima, mãe de Paulo Victor de Azevedo Lima, 16 anos, visto pela última vez no início de janeiro, ao deixar o trabalho. Segundo ela, essa espera aumenta o clima de ansiedade e o sofrimento vivido pelas famílias, ainda mais porque a polícia goiana já teria concluído a identificação de três corpos.
- A gente espera nessa angústia, sem saber de que forma eles morreram e sem poder fazer o enterro de nossos filhos. O exame precisava ser feito, mas o resultado precisa sair o mais rápido possível - cobrou dona Sônia.
DNA negativo
A proximidade do Dia das Mães é mencionada como mais um fator de tristeza. Mãe de Diego Alves, de 13 anos, o caçula de seus cinco filhos e o mais novo do grupo de desaparecidos, Aldenira Alves diz que não saber como vai passar o próximo domingo. "Acho que vou tirar essas datas comemorativas do meu calendário", afirmou. Já Sirlene Gomes, a mãe de George Rabelo dos Santos, só pensa em um presente para a data: um resultado negativo para o exame nos corpos já localizados.
- Meu desejo é que o DNA seja errado e que meu filho ainda esteja vivo - revelou a senhora.
Aos senadores que participaram, as mães solicitaram apoio para que os trabalhos de identificação dos corpos sejam acelerados e que sejam também aprofundadas as investigações em torno do caso. As mulheres se recusam a acreditar que o assassino confesso agiu sozinho. Algumas questionam as condições e causa da morte do pedreiro, encontrado enforcado com corda tecida com tiras do forro do colchão, em cela de complexo policial de Goiânia. A polícia goiana concluiu que foi suicídio.
- Não aceitamos que ele agiu sozinho. Não somente as mães, mas toda a população de Luziânia - afirma dona Sônia.
A disposição, no entanto, é de levar até o final a mobilização para que tudo seja esclarecido. Para isso, pedem ainda que a Polícia Federal, que deixou o caso depois de identificar o pedreiro, volte a atuar nas investigações. A lentidão com que agiu a polícia goiana no início, inclusive com demora para abrir os inquéritos, arranhou a imagem da corporação diante dessas mulheres. Além do apoio da CDH, elas também foram até o Ministério da Justiça pedir apoio para uma atuação mais aplicada. Outro apelo é para que a legislação penal do país seja mais dura na punição e concessão de progressão de regime para autores de crimes de maior gravidade - pedreiro cumpria pena por crime de pedofilia e saiu para as ruas beneficiado por progressão de pena.
- Só porque as cadeias estão cheias, o Estado não pode abrir as cadeias e deixar que a pessoa volte de qualquer jeito para a sociedade. Nós não podemos pagar por isso. Não é deixar preso feito fera, mas para ser acompanhado - defendeu Valdirene.
Sepultamento
Algumas mães defendem a idéia de pedir indenização ao Estado pela morte de seus filhos, já que consideram ter havido erro na soltura de Adimar, que teria cometido os crimes logo depois. Outros dizem que é cedo para pensar nisso, pois a prioridade atual seria identificar os corpos e cuidar do sepultamento. A intenção é fazer um enterro coletivo, previsto para acontecer dois dias após a liberação dos corpos já identificados.
Também participaram da audiência as mães Valdirene Fernandes, de Flávio Augusto Fernandes (14 anos) e Maria Lúcia Lopes, de Márcio Lopes (19). A única ausente foi Marisa Pinho Lopes, mãe de Luiz Divino Lopes (16 anos), que estava trabalhando.
06/05/2010
Agência Senado
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