"MÁFIA DO FUTEBOL" FAZIA REUNIÕES EM CASA NA BARRA DA TIJUCA



"A CBF é uma máfia", teria dito o ex-técnico da seleção brasileira de futebol, Wanderley Luxemburgo, à sua secretária Renata Alves. Em seu depoimento à CPI, ela confirmou suas acusações ao técnico, e revelou ainda que até 1996, enquanto trabalhava para ele, ambos costumavam freqüentar uma casa na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro (RJ), apelidada de "embaixada". Ali teriam sido realizadas diversas negociatas entre dirigentes, empresários de futebol e doleiros, envolvendo, especialmente, venda de passes de jogadores. Renata, que estava protegida por cinco agentes da Polícia Federal, preferiu revelar os nomes dos participantes das negociações apenas na sessão secreta da CPI.

De acordo com Renata, o acesso à residência - que não existe mais: em seu lugar foi construído um edifício - era muito restrito. A "embaixada" seria uma espécie de "sociedade", da qual participavam entre 60 e 70 pessoas. Ela mesma só pôde entrar lá depois de estar trabalhando para Luxemburgo há um ano. Respondendo à indagação do senador Antero de Barros (PSDB-MT), Renata confirmou a presença do deputado federal Eurico Miranda, vice-presidente do Vasco da Gama, em reuniões na misteriosa "embaixada". A ex-secretária afirmou também que o empresário Eduardo Sacamoto - que negociou a venda dos jogadores Zinho e César Sampaio, que eram do Palmeiras, para um clube japonês - freqüentava a casa.

Pressionada pelo senador Maguito Vilela (PMDB-GO) para que dissesse quem são os "mafiosos" da CBF, a depoente afirmou que temia represálias, e insistiu que só revelaria os nomes em sessão secreta. Maguito perguntou também o que poderia levar Luxemburgo a dizer, abertamente, que recebia "comissões" referentes a transações de jogadores de futebol, sabendo que isto causaria a perda do cargo de técnico, tanto nos clubes por que passou, como na Seleção Brasileira. Renata foi enfática. "Vaidade. Ele é muito vaidoso, e gostava de ostentar que estava ganhando muito dinheiro", afirmou, lembrando que, além da Luxemburgo Veículos e da Vimap, o técnico se dizia dono de "várias firmas". Ela também se defendeu, dizendo que só descobriu a suposta desonestidade de Luxemburgo após ser processada pela Receita Federal.

Quanto ao relacionamento de Luxemburgo com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, Renata disse estranhar que, publicamente, os dois demonstrassem tanta amizade, pois teria ouvido do técnico, diversas vezes, que ele odiava Teixeira. Ela salientou, no entanto, que isto ocorreu antes de ele ser chamado para trabalhar na seleção. Renata Alves revelou ainda que foi procurada por Michel Assef, advogado de Luxemburgo, que buscava um acordo para a ação trabalhista movida contra ele. Pela proposta, ela não compareceria à CPI, e teria que desmentir todas as acusações, viajando imediatamente para o exterior, onde seria obrigada a ficar por um ano.

Renata afirmou ainda que não busca notoriedade, pois que tem o litígio trabalhista com Luxemburgo há cinco anos, e não teria interesse no escândalo. Ela admitiu, entretanto, que está escrevendo um livro, em que conta toda sua trajetória ao lado de Luxemburgo.

09/11/2000

Agência Senado


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