Mais Médicos é tema de debate na Mostra de Saúde da Família



Sem o Programa Mais Médicos, o Brasil não conseguiria cumprir a meta de chegar ao final da década com pelo menos 75% da população sendo atendida por equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Mesmo com o crescimento de mais de 100% nos recursos investidos na atenção básica entre 2010 e 1014, o número de equipes de ESF ainda crescia lentamente, com uma média de 1 mil novas equipes por ano. E mesmo assim, quase metade das equipes implantadas não conseguiam manter um médico com carga horária integral, de 40 horas semanais.

Neste quadro, com o SUS precisando de 15 mil novas equipes, seriam necessários pelo menos 15 anos para que o País alcançasse a meta pactuada. Esta foi uma das razões apontadas pelo diretor do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde, Hêider Pinto, para a criação do programa Mais Médicos, que no quarto ciclo chega aos mais de 13 mil profissionais contratados. Hêider foi um dos participantes da Mesa Redonda que discutiu o Mais Médicos na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, que acontece em Brasília até este sábado (15).

Além da dificuldade na contratação dos médicos, a alta rotatividade destes profissionais também dificultava a continuidade das ações da equipe. “Constatamos que metade dos médicos ficavam na equipe por até um ano, enquanto os profissionais do Mais Médicos assumem o compromisso de permanecer com a equipe por três anos”, acrescentou o diretor.

A Mesa Redonda contou ainda com a participação de dois profissionais contratados pelo Programa, um brasileiro formado em Cuba e um cubano, que relataram como têm desenvolvido suas atividades nos municípios em que foram alocados.

Miguel Águila Toledo chegou ao Brasil com o primeiro grupo de médicos cubanos, em setembro de 2013, para atuar em Serra Grande, município do sertão paraibano, localizado a 465 km da capital João Pessoa, com quase 3 mil habitantes.

A primeira providência de Toledo foi fazer um diagnóstico da população do município, a partir de informações de saúde pública como a pirâmide de faixa etária, números de hipertensos e diabéticos, gestantes e avaliação nutricional de crianças, entre outros indicadores de doenças transmissíveis e não-transmissíveis da população local. “Contei com as ferramentas de análise de situação de saúde, que são muito boas aqui no Brasil”, elogiou.

A partir do diagnóstico da população, ele elaborou, com a equipe a rotina diária de ações, que hoje incluem, um dia dedicado a visitas a áreas rurais e grupos de educação em saúde, para mulheres (sobre prevenção de câncer de mama e de colo de útero) e de doentes crônicos como hipertensos e diabéticos.

A abordagem de Miguel foi muito semelhante à do cearense formado em Cuba Thiago Ponciano Lima, que foi destacado para a Unidade Básica de Saúde Marinheiros, no município de Itapipoca (CE). A partir do levantamento do perfil epidemiológico da população, ele organizou a agenda programática do município, que hoje conta com períodos reservados para atendimento ambulatorial de crianças, de gestantes, de adolescentes e de doentes crônicos.

“A unidade onde fui trabalhar não tinha médicos há mais de seis meses, mas tenho colegas que foram para locais onde não tinha médico há 10 anos”, afirma Lima, que se preparou para uma demanda excessiva logo na sua chegada. “Até organizar o atendimento, precisamos eleger metas prioritárias, a primeira delas foi colocar em dia o atendimento a gestantes”, afirmou. Hoje, ele reserva um período semanal para visitas domiciliares aos pacientes acamados ou com dificuldade de locomoção e criou grupos de atendimento como para adolescentes. “O município tem uma incidência muito grande de gravidez na adolescência, por isso nos dedicamos a orientá-las não só a respeito de contracepção quanto sobre doenças sexualmente transmissíveis, no ambulatório de adolescentes que criamos”, explicou.

A Mesa abordou também aspectos relacionados à formação de médicos no País, especialmente a carência de cursos que vocacionem estes profissionais para a atenção básica.

Para Hêider, uma das contribuições do Programa Mais Médicos, que também um eixo voltado para mudanças na formação e criação de novos cursos de medicina no País, será a mudança na cultura dos profissionais no País. “A surpresa e encanto que esses profissionais têm produzido em gestores e, principalmente, nos usuários é um fator marcante e a se comemorar”, defendeu Hêider Pinto, referindo-se não apenas aos médicos estrangeiros, mas também aos  34 mil médicos brasileiros de Família e Comunidade que já atuam nas ESF “por opção, decisão  e vocação”.

Fonte:
Ministério da Saúde



15/03/2014 12:02


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