Mapas definem regras para preservação ambiental em SP



Em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente, 160 pesquisadores do Programa Biota-Fapesp elaboraram três mapas gerais

Prepare-se para algumas surpresas. A menos de 300 quilômetros da capital do estado mais industrializado do país, simbolizado pela metrópole barulhenta, pelo povo estressado e pelos infinitos canaviais das planícies interioranas, ainda vivem onças-pardas e pintadas. Cervos-do-pantanal e tuiuiús também, nas terras alagadas a oeste, em meio a novateiros, árvores de troncos sempre cheios de formigas, e buritis, palmeiras altas e elegantes. Já a sudoeste cresce em inexplicável abundância uma mata de pitangueiras, jabuticabeiras, cambuís, araçazeiros, uvaias e outras árvores da família das mirtáceas, incluindo as menos conhecidas gabirobeiras e piúnas, que na primavera e no verão alimentam pássaros e macacos com frutos suculentos e carnosos e formam um imenso e perfumado pomar.

Os biólogos resolveram abrir o baú e compartilhar essas raridades. Em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente, 160 pesquisadores do Programa Biota-Fapesp elaboraram três mapas gerais (veja imagem em PDF) e outros oito temáticos, por grupos de animais e plantas, para apresentar o estado de riqueza ou de destruição das matas e Cerrado paulistas – como mostrado no pôster que acompanha esta edição e no site www.biota.org.br/info/wap2006. Resultado de quase dez anos de pesquisas, esses mapas devem direcionar o trabalho de conservação e ampliação das matas que concentram a autêntica vida selvagem em São Paulo. Ainda que poucos, os remanescentes de vegetação formam ambientes tão diferentes entre si quanto as florestas úmidas do litoral, que lembram a Amazônia, e as matas secas do interior, aparentadas da Caatinga nordestina.

Elaborados a partir do estudo da distribuição de 3.326 espécies de plantas e animais consideradas estratégicas para manter os espaços naturais do estado, os mapas intitulados Diretrizes para conservação e restauração da biodiversidade no estado de São Paulo propõem duas linhas de ação simultâneas. A primeira é a criação de 10 a 15 unidades de conservação de proteção integral em áreas de elevada riqueza biológica, indicadas em um dos mapas. É o caso de um exuberante trecho de Mata Atlântica entre três parques estaduais nos arredores do município de Itapeva, sul do estado, hoje nas mãos de proprietários particulares. É também o caso da serra do Japi, corroída pela expansão de cidades próximas à capital e agora vista como estratégica para unir as matas já legalmente protegidas da serra da Mantiqueira e do sul de Minas.

Essas novas áreas poderiam acrescentar até 25 mil hectares aos 800 mil já preservados em 28 unidades de conservação de proteção integral (100 hectares equivalem a 1 quilômetro quadrado). É, porém, o caminho mais difícil, caro e demorado de manter o verde. O Estado teria de comprar as terras de proprietários particulares e indenizar os moradores locais antes de implantar e efetivamente administrar essas novas áreas. O outro caminho, proposto no segundo mapa geral, pode ser mais rápido: incentivar os donos das terras a proteger as matas de suas propriedades. “Se todos os proprietários rurais seguissem a lei e mantivessem os 20% de vegetação nativa obrigatórios por lei, já haveria um salto monumental de áreas verdes”, diz Marco Aurélio Nalon, vice-diretor-geral do Instituto Florestal e um dos coordenadores desse trabalho. Hoje as áreas de mata nativa, chamadas de Reservas Legais, correspondem a 10% em média das propriedades rurais do estado.

“Para tomar boas decisões e determinar que áreas devem ser protegidas na forma de Reservas Legais, precisamos de boas informações”, comenta Helena Carrascosa von Glehn, engenheira agrônoma que coordena as equipes de licenciamento ambiental e de proteção de recursos naturais da Secretaria do Meio Ambiente. “Agora conseguiremos trabalhar melhor, com mais argumentos.” Sua equipe de 320 técnicos, em conjunto com os 2.200 homens da polícia ambiental, poderá finalmente contar aos fazendeiros e pecuaristas mais turrões o que podem ou não fazer em suas terras com base não só na lei, mas também no mapa de áreas prioritárias para a criação de reservas particulares, para preservação ou restauração. Assim poderiam crescer corredores ecológicos que conectassem os remanescentes de matas com pelo menos mil hectares, como proposto em um dos mapas-síntese.

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