'Marcha do Vinagre' termina com subida ao teto do Congresso Nacional



Marcha com aproximadamente dez mil pessoas, em sua grande maioria jovens, tomou durante cerca de quatro horas o gramado e o espelho d'água em frente ao Congresso Nacional, ocupando por volta das 19h30 o teto do edifício, onde se localizam as cúpulas do Senado e da Câmara. Os manifestantes protestavam especialmente contra os gastos públicos com a Copa do Mundo e o que consideram investimentos insuficientes em educação, além da atuação de governantes e parlamentares.

Batizada por eles mesmos de "Marcha do Vinagre", em alusão ao produto utilizado para amenizar os efeitos do gás lacrimogênio, a manifestação também foi organizada em apoio a outros movimentos semelhantes pelo país, como o que pede a diminuição das passagens de ônibus urbanos em São Paulo.

- O Congresso Nacional é nosso - gritavam os manifestantes ao subirem ao topo do edifício, onde se postaram primeiramente abaixo da cúpula da Câmara dos Deputados, num gesto simbólico de conquista.

As  horas que antecederam essa ocupação, feita por uma das abas que liga o teto do Congresso ao Eixo Monumental, foram de muita agitação. Jovens entre os 16 e os 22 anos chegaram ao gramado do Congresso vindos do Museu da República, onde se concentraram inicialmente. Portavam cartazes com palavras de ordem e faixas. Além de refrões próprios, entoaram seguidas vezes o Hino Nacional, e pediram à polícia que não cometesse atos de violência.

A força policial, composta a princípio de 200 homens, segundo o comando da operação, postou-se principalmente em volta do espelho d'água do Congresso, para impedir a invasão do prédio pela rampa principal ou pelas entradas laterais. Esse foi o ponto de maior enfrentamento entre manifestantes e policiais, que receberam vários banhos de água da parte dos ativistas e foram convidados a agir como "parte do povo". Em alguns momentos, a polícia usou gás-pimenta para afastar os manifestantes. Houve até um embate entre os dois lados dentro do lago artificial. Mas alguns manifestantes conseguiram furar a barreira de policiais, o que levou à prisão de dois deles. Os manifestantes chegaram a  jogar garrafas d'água nas viaturas da polícia.

- Essa manifestação mostra que os policiais de Brasília são muito disciplinados. Estão aí aguentando as provocações sem tomar nenhuma medida violenta - disse o comandante da operação, o tenente-coronel Maurício Gouvêa, que reclamou do "'tratamento dado pela imprensa" por ocasião da manifestação de sábado em frente ao Estádio Mané Garrincha antes do jogo Brasil X Japão.

Um dos líderes do movimento, o estudante e empresário Wellington Fontenelle, disse que os organizadores não tinham condição de conter os mais exaltados.

- Há um grupo de 15 que provocam. O que a gente pode fazer?

- São pós-adolescentes. O comando do movimento não tem condições de controlá-los - lamentou Gouveia.

A manifestação não alterou a rotina do Senado até as 19h30, quando, por solicitação do senador Paulo Paim (PT-RS), foi encerrada a sessão plenária. A decisão coincidiu com a subida dos manifestantes ao teto do Congresso, abandonado depois em clima de festa. Por volta das 20h30, a maior parte dos manifestantes já havia deixado o teto do prédio, mas um grupo resistiu e tentava ainda entrar no prédio pela da rampa central já depois das 22h.

Negociação com esse grupo foi empreendida pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Paulo Paim (PT-RS) e Inácio Arruda (PC do B-CE). Às 21h, o presidente do Senado, Renan Calheiros, emitiu nota oficial, na qual afirma o reconhecimento pelo Congresso da "legitimidade de manifestações democráticas como as havidas hoje, desde que as instituições sejam preservadas". Diz ainda na nota que "o Congresso Nacional continuará aberto às vozes das ruas e recolherá todos os sentimentos das manifestações a fim de encaminhar soluções no que lhe couber, como não poderia ser diferente em um ambiente democrático".

Segundo um relato da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), a energia elétrica na área da frente do Congresso Nacional foi desligada por questão de segurança devido ao protesto. O comitê de imprensa e o Salão Nobre da Câmara dos Deputados ficaram sem energia. Também segundo a EBC, vidros da entrada de acesso à primeira-vice-presidência da Câmara foram quebrados. O vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), entrou em contato com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar.



17/06/2013

Agência Senado


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