Movimentos libertários surgem em vários países
França, Brasil, Alemanha, Japão, Bélgica, Espanha, Egito, Estados Unidos, Iugoslávia, Chile, Canadá, Tchecoslováquia, Senegal, México e Polônia, em todos esses países - a lista ainda é maior - ocorreram, em 1968, mobilizações e atividades cujas reivindicações traziam a marca específica de suas conjunturas econômicas e sociais, além de questões mais amplas.
As causas desta simultaneidade têm desafiado os pesquisadores que se interessam pelo tema. Entre eles há os que defendem que esse caráter internacional que se mostraria próprio aos acontecimentos de 68 pode estar associado à combinação de três dimensões. A primeira dimensão seria imperialista - de acordo com o professor de História da Universidade Estadual de Campinas Marco Aurélio Garcia. Apontava para o processo revolucionário no então denominado "terceiro mundo".
O Vietnã passou a ser referência permanente para todos os movimentos contestatórios. O que valia não só nos campi universitários dos Estados Unidos, que estava em guerra com o Vietnã, como também nas grandes mobilizações estudantis, fosse em Paris ou no resto do mundo.
A segunda dimensão se refere à postura anticapitalista de grupos organizados, em 68, nos países industriais avançados. É nesse contexto que muitos intelectuais já insatisfeitos com as condições impostas pela Ocidente à URSS e demais repúblicas socialistas, dentro dos entendimentos para viabilizar a Guerra Fria, passam a considerar que as classes trabalhadoras dos países desenvolvidos haviam sido integradas ao processo de desenvolvimento capitalista, deixando de ter qualquer interesse revolucionário.
Durante 25 anos, no pós 2ª Guerra (entre 1948 e 1973,) a economia do mundo ocidental capitalista experimentou forte crescimento, combinado com baixa inflação e a expansão do consumo de massa. Tendo à frente os Estados Unidos, esse período da economia ocidental permitiu a elevação das condições de vida dos trabalhadores, que assim puderam ser reconhecidos como "agentes legítimos do jogo político".
Essa situação teria produzido o deslocamento do centro revolucionário da classe operária para outros setores da população, como os jovens, mulheres, estudantes. De acordo com Garcia, "as relações de exploração deixavam de ser, para algumas interpretações, o elemento explicativo fundamental das contradições sociais. Elas cediam lugar a relações de dominação, não necessariamente fundadas em fatores econômicos, pelo menos de forma expressiva".
A crise das experiências socialistas no mundo associada à (auto) crítica que ela provocou respondem pela terceira dimensão desses processos revolucionários mais amplos. Em 1968, os estudantes na Iugoslávia mantiveram-se contra o regime. Na Polônia, registrou-se grande mobilização de intelectuais, estudantes e setores operários, sinalizando a erosão do regime. O Sindicato Solidariedade nasceu como fruto desses embates.
O exemplo mais traumático, no campo socialista, ocorreu com a Tchecoslováquia, com o episódio que se tornaria conhecido como Primavera de Praga. Entre janeiro e agosto de 1968 veio à tona um processo de crise do sistema socialista, que teria se originado de uma disputa no interior da cúpula do partido comunista. O movimento se alastrou para o conjunto da sociedade. Preocupada com o "efeito demonstração" que o exemplo tcheco teria sobre a região, a União Soviética mobilizou seus tanques e o asfixiou.
68 no Brasil e nos EUA
Em 1968 - O Ano que Não Terminou, seu autor, o jornalista e escritor Zuenir Ventura, observa que "rompendo com a tradição nacional de amnésia histórica, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, como totem, ora como tabu: ou é a mitológica "viagem" de uma geração de heróis, ou a proeza irresponsável de um "bando de porraloucas", como se dizia então".
No Brasil, 68 começou coma morte do estudante Edson Luís, assassinado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. O crime foi cometido nas imediações do Restaurante Calabouço, no centro da cidade, e resultou na Passeata dos Cem Mil, contra a ditadura militar. Para alguns analistas, o 68 brasileiro se encerra em 13 de dezembro, quando o governo militar editou o Ato Institucional nº5 (AI-5).
A imediata supressão das liberdades e direitos constitucionais por efeito do AI-5 teria precipitado alguns setores das esquerdas a tomarem a decisão pela clandestinidade e pela luta armada. Baseados no fato, analistas consideram que, por não ter feito as chamadas "reformas de base", o capitalismo brasileiro tenderia à estagnação e, nesse contexto, o regime militar passaria a ser uma forma permanente de dominação, eliminando a possibilidade de uma luta institucional eficaz.
Em 68, o operário Luiz Inácio Lula da Silva filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Na área cultural, ocorreram grandes transformações. A principal delas foi o surgimento do tropicalismo.
Nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que estava presente um sentimento de mudança em relação à estrutura da sociedade, não se cogitava, porém, mudança de governo - conforme o historiador Jame Green. Green aponta as manifestações contra a Guerra do Vietnã como o momento em que se rompeu o ciclo histórico de conformismo dos americanos: "Foi a primeira vez que a população se voltou contra a política externa do país".
Pouco depois da morte de Martin Luther King, que se deu nesse mesmo período, a Suprema Corte declarou que todas as formas de segregação eram contrárias à Constituição. Mas, a luta contra a segregação racial se radicalizou nos Estados Unidos e os Panteras Negras, grupo revolucionário que adotou a violência como estratégia de luta, tiveram influência crescente no período. Posteriormente, a repressão os eliminou.
25/08/2008
Agência Senado
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