Mudança climática: seminário debate impactos nas metrópoles
Evento reuniu especialistas na sede da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) promoveram na terça-feira, 9, em sua sede, em São Paulo, o seminário “Impactos das Mudanças Climáticas nas Metrópoles”. O evento reuniu pesquisadores da USP, UNESP, UNICAMP, governos do Estado e federal, além dos especialistas da CETESB e da SMA, com o objetivo de discutir os impactos das mudanças climáticas, previstas nos últimos relatórios do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, nas grandes metrópoles do mundo.
O seminário contou, em sua abertura, com as presenças do secretário-adjunto da SMA, Pedro Ubiratan, do secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann, e do presidente da CETESB, Fernando Rei, entre outros.
Ubiratan ressaltou que o assunto está na agenda ambiental do planeta: “Em função da importância da discussão sobre esse tema, está havendo uma integração maior entre os cientistas e os órgãos públicos”. Já de acordo com Feldmann, as políticas estadual e municipal com relação às mudanças climáticas têm representado um apoio essencial para o trabalho das comunidades científicas. E Fernando Rei lembrou que em 1995 foi criado o Proclima – Programa Estadual de Mudanças Climáticas e produzido o primeiro inventário sobre os gases de efeito estufa pelo Governo do Estado. “A CETESB pretende continuar a ser um agente de transformação. É emergencial que as políticas públicas mais a academia estejam juntas no enfrentamento dessas grandes questões”.
Na parte da manhã, as palestras foram com o tema “Mudanças Climáticas nas áreas urbanas e qualidade de vida”, proferida pela professora Magda Adelaide Lombardo , do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP de Rio Claro. Ela enfatizou, entre outras coisas, que “é necessária uma mudança de atitude e de comportamento, para mudarmos a realidade”. Outros palestrantes foram Edmilson Dias de Freitas , do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, que discorreu sobre “mudanças climáticas no planeta”; Wagner Ribeiro, do Departamento de Geografia e do Programa de Ciência Ambiental da USP, que falou sobre "Adaptação às mudanças climáticas na Região Metropolitana de São Paulo"; e Luci Hidalgo Nunes, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociência da UNICAMP, que palestrou sobre "Mudanças ambientais, desastres e repercussões no meio ambiente".
A reunião teve o apoio do Instituto de Estudos Avançados da USP, do Centro de Análise e Planejameno Ambiental do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro, do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP.
Momento único na história
Na parte da tarde, os trabalhos foram abertos por Daniel Hogan, membro do Núcleo de Estudos de População - NEPO, da UNICAMP – Universidade de Campinas, que abordou o tema “Dimensão Humana das Mudanças Climáticas Globais”. “Vivemos um momento único na história da humanidade, pois segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), pela primeira vez a maioria da população mundial é urbana. Isso é uma desvantagem para as cidades que já estão construídas, pois precisarão se adequar para minimizar os efeitos das Mudanças Ambiental Globais - MAG. Já para as cidades que estão em evolução, existe a possibilidade de planejar seu crescimento sob a ótica das mudanças climáticas”, considerou Hogan. Com base nos estudos que vem desenvolvendo há dez anos para mostrar as ações humanas que contribuem para as mudanças climáticas, Hogan afirma que a América Central e o sul da Ásia, são as regiões que sofrerão maiores impactos decorrentes destas mudanças.
Dentre os inúmeros aspectos de contribuição decorrentes dos processos urbanos, a pergunta síntese que os cientistas tentam responder é: Como os resultados das interações dentro do sistema urbano modificam os impactos sobre os componentes das mudanças ambientais globais.
Para equacionar essa questão a equipe do NEPO estuda, entre outros, temas como padrão de consumo e estilo de vida; uso da terra; como os padrões urbanos afetam as MAG; como as MAG afetam o ambiente urbano; e como as MAG afetam a base de recursos naturais urbanos.
O tema Transporte e Mudanças Climáticas, foi apresentado por João Wagner Silva Alves, gerente da Divisão de Questões Globais da CETESB. Alves explicou ao público a diferença entre os poluentes emitidos pelos carros e os gases de efeito estufa, ressaltando que é preciso ter cuidado para não confundí-los.
“O Inventário Nacional de Emissões apontou que 75% das emissões nacionais são decorrentes de desmatamentos, enquanto no estado de São Paulo 78% das emissões são provenientes dos meios de transporte. Mas qual o transporte desejado?” questiona Alves.
Como os demais cientistas que participaram do evento, Alves considera que o estilo de vida de muitas pessoas está associado ao tipo de veículo que possui. “Logo, a propriedade deste meio de transporte acaba virando um bem, que extrapola a sua função básica” concluiu.
Na lista dos meios de transporte disponíveis, o mais poluentes é o avião, melhor seria usar o trem.
Para Alves, o cenário atual aponta para o crescimento populacional descontrolado, com pouco investimento em tecnologia. Um cenário desejável seria o de um consenso mundial que englobasse planejamento familiar, exigências ambientais e elevado desenvolvimento tecnológico, voltado para a redução significativa das emissões.
Resíduos Sólidos e Saneamento: Mudanças Climáticas e as Metrópoles”, foi outro tema do evento, apresentado por Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer, Secretária Executiva do Programa de Mudanças Climáticas da CETESB. “Os principais documento produzidos pela ECO92 foram a Agenda XXI, a Convenção do Clima e a Convenção da Biodiversidade. O capítulo 21 da Agenda – diz respeito a minimização dos resíduos e nesse tópico podemos afirmar que é perceptível o progresso e a eficácia das ações da CETESB no Estado, que desde 1997 inventaria as ações de ajustamento de conduta dos municípios” destacou Ferrer.
Conforme Inventário Brasileiro de Emissão por Atividade, 84% da emissão de gás metano vem dos resíduos sólidos, 11% de efluentes industriais e 5% dos esgotos domésticos. “A recuperação e uso energético do biogás, a partir da captação do metano gerado nos aterros, é uma oportunidade de negócio que está surgindo e tem despertado muito interesse por suas vantagens econômicas. 25% dos projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) que estão em andamento no Brasil, são de São Paulo e estão ligados ao tema “resíduos”. Já dos 2.319 projetos de MDL aprovados no mundo, 30% são relacionados a captação de metano, onde o Brasil aparece em terceiro lugar, com 10% dos projetos” complementou Ferrer.
Para falar das Mudanças Climáticas e a Saúde Humana, o convidado foi o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Saúde Pública da USP – Universidade de São Paulo. “Acho que a forma mais rápida de provocarmos mudanças de hábito, vai ser a divulgação de que nós morreremos mais cedo. Enquanto falarmos de urso polar, as ações serão distantes” começou Saldiva.
Vários estudos apontam a relação direta entre aumento de poluição e aumento de mortes por problemas de insuficiência cardíaca, derrame do miocardio e enfarto. Para pessoas menos susceptíveis os efeitos podem não ser tão drásticos, mas o desconforto é geral.
“Em conseqüência das mudanças climáticas, milhões morrerão de fome e isso já ocorre pela desertificação de savanas, mudanças de períodos de chuvas, o que levará a migração e prováveis guerras tribais na África. O aquecimento g lobal proporciona condições climáticas que favorecem a reprodução de vetores, por isso diversas doenças como a dengue e a malária, estão cada vez mais difíceis de se controlar” explicou Saldiva.
Nos últimos dez anos a população de São Paulo aumentou 12%, enquanto a frota veicular aumentou 70%, continua o professor, “apesar do velocímetro dos carros marcarem até 250 km/h, esse poder não é exeqüível e a média de velocidade dos veículos em São Paulo é de 15 km/h, exatamente a mesma desenvolvida pelas tropas de burros que atravessavam a cidade para ir à Santos, no passado”.
Algumas decorrências das mudanças climáticas apontadas por Saldiva vão desde alterações reprodutivas, aumento de alergias, alagamentos, até o surgimento de novos vírus e doenças.
Todas as palestras apresentadas no seminário estarão disponíveis, dentro de duas semanas, no site www.cetesb.sp.gov.br , na página Mudanças Climáticas / Proclima.
Rosely Ferreira Martin / Cris Olivette
Da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
(I.P.)
10/15/2007
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