No auge da "guerra", empresários puseram fábricas em caminhões e mudaram de estado
De tanto perder indústrias, principalmente para o Paraná, Bahia e Rio Grande do Sul, o estado de São Paulo reagiu e aprovou uma lei que permite cobrar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não recolhido em outros estados. Além disso, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de incentivos não aprovados por todos os 27 estados, no Confaz - Conselho de Administração Fazendária. Em alguns casos, São Paulo ofereceu incentivos para segurar indústrias, como ocorreu com a Otis (elevadores) e a Bombril.
Com isso, nos últimos meses a "guerra" diminuiu de intensidade, mas só deve acabar mesmo, segundo o senador Waldeck Ornelas (PFL-BA), depois que o Senado aprovar proposta de emenda à Constituição de sua autoria.
"Não há uma política de desenvolvimento regional e só nos resta o incentivo fiscal", sustenta o governador da Bahia, César Borges. Para ele, a guerra fiscal pode até ser um mal, mas não acabará "enquanto o Brasil continuar um país extremado entre a prosperidade e a pobreza". Assim, na opinião dos governadores de estados menos desenvolvidos, a disputa fiscal transformou-se em uma alternativa de desenvolvimento.
Na luta para mostrar que têm razão, os estados mais pobres argumentam que as regiões mais desenvolvidas acabam ficando com a maior fatia dos benefícios fiscais hoje oferecidos pela União. Entre renúncias fiscais e incentivos, o governo federal deixou de arrecadar em 1999 R$ 42,5 bilhões para incentivar exportadores e permitir deduções de imposto de renda. Desse total, só R$ 12,1 bilhões (28%) destinaram-se ao desenvolvimento regional. Por esse raciocínio, se não há incentivo da União para a prosperidade dos estados mais pobres, os governos estaduais tentam substituir o papel que cabe à União.
Um estudo encomendado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao professor Eduardo Nunes, da Universidade Cândido Mendes, mostrou que nem sempre o estado que atrai uma empresa fica com todos os ganhos. Ele concluiu que parte importante dos lucros financeiros da companhia acaba voltando ao estado rico ou até mesmo segue para o exterior. Para confirmar isso, ele cita que o Produto Interno Bruto (PIB) de São Paulo praticamente não se alterou nos últimos anos, apesar da transferência de indústrias para outras regiões.
Segundo o professor, o raciocínio dos empresários é simples: se o transporte do produto final ficar mais barato que o incentivo, a indústria pode mudar de estado. E se outro estado oferecer novos incentivos mais atraentes, a fábrica pode mudar novamente de localização. A história recente que envolveu a Ford revelou isso na prática - a montadora optou pelos incentivos do Rio Grande do Sul mas acabou instalando-se na Bahia.
11/04/2001
Agência Senado
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