Novo terremoto no mercado



 





Novo terremoto no mercado
A divulgação de mais um relatório de um grande banco estrangeiro menos otimista em relação ao Brasil, citando o crescimento do pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas eleitorais, derrubou os mercados brasileiros ontem. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 4,17%, na maior queda em seis meses, e o dólar comercial subiu 1,48%, fechando a R$ 2,397 para venda. O relatório, do banco holandês ABN-Amro, revê a classificação dos títulos da dívida externa brasileira de uma recomendação de compra ( overweight ) para neutra. Na segunda-feira, os bancos americanos Merrill Lynch e Morgan Stanley já haviam divulgado relatórios a seus clientes com a mesma mudança na classificação do Brasil, mencionando também o desempenho de Lula nas pesquisas.

Um anúncio, feito pela Petrobras, de que vai adiar uma captação de US$ 500 milhões no exterior, também afetou o mercado financeiro, com impacto principalmente sobre as cotações do dólar. Repercutiu ainda uma pesquisa de opinião divulgada pelo instituto GPP na terça-feira, em que Lula aparece com 38,7% das intenções de voto.

O ABN-Amro, em seu relatório, afirma que o resultado de Lula nas pesquisas não é surpreendente e deve melhorar. O que preocupa, diz o texto, é o fato de o pré-candidato José Serra (PSDB) não apenas ter estagnado nas pesquisas como também precisar ainda estabelecer uma forte coalizão nacional. O relatório lembra que o apoio do PMDB a Serra está enfrentando dificuldades nos estados. Os obstáculos à coalizão, mais do que o fraco desempenho do tucano nas pesquisas, seria o motivo, na opinião do banco, para os rumores de que Serra seria substituído pelo ex-governador Tasso Jereissati na chapa governista.

Apesar de citar o crescimento de Lula e a estagnação de Serra nas intenções de voto, o relatório do ABN faz uma ressalva: “Reiteramos nossa recomendação de que os investidores não devem reagir exageradamente às pesquisas agora no começo do jogo”.

Títulos brasileiros voltam a baixar
O cenário político é um dos quatro motivos citados pelo banco para rebaixar a classificação do Brasil. Os outros fatores levados em consideração foram o baixo nível de atividade econômica, os resultados fiscais abaixo do esperado e a alta do petróleo no mercado internacional.

O relatório foi elaborado pela equipe de analistas econômicos do ABN e divulgado de manhã, em Nova York.

À tarde, depois do mau desempenho do mercado brasileiro, a diretoria do ABN no Brasil distribuiu uma nota à imprensa em que afirma não compartilhar das opiniões expressas no relatório. Segundo a nota, os analistas do banco têm independência para fazerem suas recomendações. “Entendemos que a economia brasileira tem fundamentos sólidos e defendemos o pluralismo de idéias como sendo vital no processo de evolução democrática”, diz a nota, que é assinada pelo presidente do ABN-Amro no Brasil, Fábio Barbosa. O texto afirma ainda que o banco continuará investindo “em recursos humanos, financeiros e tecnológicos” no Brasil.

Mas, a essa altura, o relatório da equipe econômica do banco já tinha provocado estragos no mercado. Os títulos da dívida externa brasileira voltaram a registrar perdas. O C-Bond, principal papel do Brasil, recuou 1,48% e fechou abaixo de 78% de seu valor de face, no menor nível desde fevereiro. Os títulos brasileiros influenciaram papéis de outros mercados emergentes, que também sofreram perdas. A taxa de risco do Brasil — que mede a confiança dos estrangeiros no país, ou seja, quanto maior a taxa, pior a percepção dos investidores — subiu 3,40%, para 883 pontos. O dólar, que durante o dia chegou a bater R$ 2,40, fechou na maior alta desde 10 de janeiro.


FH avisa que responderá a ataques e que não aceita interferência externa
BRASÍLIA. Depois do tom mais agressivo nos discursos dos últimos dias, o presidente Fernando Henrique Cardoso manda avisar, por seus interlocutores, que não deixará sem reposta qualquer crítica dos candidatos à Presidência, a ele ou ao governo, nem aceitará que instituições financeiras no exterior continuem dando palpites e tentando interferir no processo eleitoral.

Fernando Henrique tem manifestado uma grande preocupação, em conversa com auxiliares no Palácio do Planalto, com a onda de especulação no mercado financeiro, em conseqüência das pesquisas de intenção de voto que mostram o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 15 pontos à frente do candidato do PSDB, José Serra.

Temor com dólar e queda da bolsa
Preocupado em manter a governabilidade e a estabilidade econômica, Fernando Henrique tem dito que não admitirá que bancos de investimento ou agências de classificação de risco dos países continuem provocando turbulências na economia, com previsões pessimistas sobre a situação do Brasil caso Lula vença a eleição.

Assessores do presidente disseram ontem que ele está muito preocupado com os efeitos que as avaliações de instituições financeiras estão tendo no mercado, como queda nas bolsas e oscilação do dólar.

Para o presidente, a prioridade é encerrar seu governo com a manutenção do ajuste fiscal e da estabilidade econômica. Assessor lembra que já houve pressões externas no caso da Venezuela, onde o presidente Hugo Chávez foi vítima de um golpe frustrado, e um efeito devastador sobre a economia da Argentina.

— Eles têm que respeitar a democracia. No Brasil o que manda é a democracia. O povo é que vai decidir, no voto, o que deve ser feito, o que é bom ou não para o país — disse um assessor de Fernando Henrique.

Começa ofensiva de campanha
Mas a ofensiva do presidente não se limitará a tentar barrar as ações especulativas no mercado. Em dois episódios, na semana passada e nesta, Fernando Henrique abandonou o discurso tradicionalmente moderado em relação aos candidatos e partiu para a ofensiva, entrando de cabeça na campanha. No domingo, pediu humildade a Lula, que estaria com “salto alto”.

— Isso é desespero! A opinião do Fernando Henrique não conta. Ele está tentando polarizar com Lula para ver se tira algum ponto do PT, já que o candidato do governo não sobe nas pesquisas. Nós nunca colocamos o salto alto, costumamos andar de chinelo — reagiu o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).

Na terça-feira, Fernando Henrique apoiou o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que, em entrevista ao jornal espanhol “El Pais”, afirmou categoricamente que o candidato governista vencerá.

Na mesma ofensiva, criticou bancos estrangeiros por terem recomendado o rebaixamento dos títulos brasileiros no mercado externo em razão do desempenho de Lula.

— O presidente tem o dever de responder a todos os ataques ao seu governo. Sempre que houver ataques a ele, haverá uma resposta por parte do presidente — disse um assessor direto de Fernando Henrique.

Mas Fernando Henrique, segundo o assessor, não se envolverá na troca de farpas entre candidatos. O presidente acredita que cabe ao próprio candidato do governo revidar os ataques. Por isso, o Palácio do Planalto se calou diante das provocações do candidato do PSB, Anthony Garotinho, sobre a campanha de Serra.

— O Serra que responda quando for atacado. Esse não é papel do presidente — disse um integrante do Palácio.

A avaliação de Fernando Henrique é que o bom desempenho do governo será fundamental para o crescimento de Serra nas pesquisas. Para o Planalto, é impossível descolar a imagem do governo da do candidato tucano.

— Se o governo melhora seus índices, o Serra também melhora — disse um assessor do presidente.


PT prepara estratégia para tentar atrair Ciro
BRASÍLIA. O PT já tr açou sua estratégia para tentar uma aproximação com o PPS e com Ciro Gomes sem atropelar a candidatura do ex-ministro pela Frente Trabalhista. Sem investir diretamente na crise que a frente atravessa, o comando petista decidiu construir uma ponte, usando como tática um convite a Ciro e ao PPS para discutir as decisões de bancos e corretoras estrangeiras de rebaixar a classificação do Brasil diante da possibilidade de vitória de um candidato de oposição. O debate seria o ponto de partida para um diálogo mais amplo sobre a união das esquerdas ainda no primeiro turno da disputa.

Freire e Jefferson voltam a bater boca
A trégua anunciada na terça-feira entre as cúpulas de PPS e PDT e PTB, para manter a candidatura Ciro, mostrou-se ontem ainda mais frágil. Ao saber que o presidente do PPS, Roberto Freire (PE) , havia negado a desistência de Ciro, mas deixara uma brecha, ao dizer que uma aliança com o PT é sempre uma possibilidade, o líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), voltou a acusar o senador de tentar bombardear a candidatura sustentada pela frente. Jefferson acrescentou que, se isso acontecesse, o PTB apoiaria a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

— Ainda não houve qualquer contato, mas, diante do movimento de terrorismo que atinge as candidaturas de oposição, temos condições objetivas de abrir o diálogo com o PPS e com Ciro. A idéia é iniciar uma reflexão sobre o atual cenário econômico — disse o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).

Considerado pivô da crise instalada na Frente Trabalhista, Freire disse estar aberto ao diálogo com o PT:

— Dialogar, dialogamos a qualquer hora. Não temos qualquer incompatibilidade com o PT. Há dois anos, chegamos a propor um diálogo e o PT não quis. Hoje temos um candidato competitivo. Por isso, acho pouco provável fechar aliança no primeiro turno. No segundo, porém, estaremos juntos.

— Se Freire destruir a candidatura de Ciro, nós vamos conversar e decidir o nosso caminho. Aposto que esse caminho não será o Serra, e é até capaz de nós irmos de Lula — afirmou Jefferson.

PTB quer que Ciro tenha autonomia total
Para o deputado, o PTB adota uma estratégia muito clara: quer que Ciro tenha total autonomia sobre a campanha e, se preciso, que o PPS tire Freire da presidência do partido.

— Freire fala em não fazer exclusão, mas exclui o PFL. Também tentou jogar o PDT para fora da aliança no Rio Grande do Sul. Garupa não manda na rédea. Presidente de partido é garupa. O candidato é quem vai dizer qual aliança convém ou não — disse Jefferson.

O líder do PTB na Câmara não se opõe ao diálogo com o PT. Mas acha que Ciro e Lula teriam de se sentar à mesa em condições de igualdade.

— Sou favorável à discussão sobre a tentativa de desestabilização das candidaturas de oposição, mas Ciro é quem deve estar à frente das conversas — afirmou Jefferson.

Freire disse que não vai alimentar a polêmica e garantiu que seu partido sustentará a candidatura de Ciro até o fim.

— Diante da decisão do PTB e do PDT de não permitir que divergências nos estados contaminem a aliança nacional, a Frente Trabalhista tende a se estabilizar — previu o senador, sem, contudo, mostrar disposição de intervir no Rio Grande do Sul, onde Antônio Britto deverá prosseguir na negociação para viabilizar sua candidatura buscando, inclusive, o apoio do PFL.

Até a vaga de vice pode ser negociada com PPS
Aberto um canal de diálogo, o PT pretende avançar nas negociações. O primeiro passo seria estabelecer uma base programática conjunta e fazer um balanço sobre a situação político-eleitoral de PT e PPS nos estados.

Embora a discussão de uma aliança com o PL inclua a oferta da vaga de vice ao senador José Alencar (PL-MG), os petistas acreditam que a chapa sofreria alterações se a aliança com o PPS for oficializada.

— Muito nos honraria ter Ciro na chapa do PT. Seria vital para uma vitória da esquerda no primeiro turno e para o projeto de Brasil que queremos. Afinal, são duas candidaturas absolutamente preparadas — observou João Paulo.


PSDB e PFL fecham acordo em São Paulo
SÃO PAULO. O PSDB e o PFL de São Paulo fecharam ontem uma aliança. Os tucanos receberão apoio para a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin. Já os pefelistas terão a vaga para o senador Romeu Tuma tentar um novo mandato. Os dois partidos vão se coligar no estado também nas eleições proporcionais.

O acordo, no entanto, só será oficialmente homologado depois de segunda-feira, quando a direção nacional do PFL anunciar oficialmente que não terá candidato a presidente, liberando as direções estaduais para alianças regionais.

— Essa aliança representa um enorme peso eleitoral. Nós já estamos com o PTB e o PPS. Agora, com o PFL, demos um passo muito importante — disse o presidente do PSDB de São Paulo, deputado estadual Edson Aparecido.

Tucanos precisam escolher outro candidato ao Senado
Para que a chapa liderada por Alckmin fique completa, falta o PSDB decidir quem será o outro candidato ao Senado. Até agora, pelas negociações internas, a vaga deverá ficar com o deputado José Aníbal, presidente nacional do partido. Os tucanos também deverão indicar o candidato a vice-governador.

— A indicação do vice nós só vamos decidir no momento oportuno, sem intransigência — afirmou o presidente do PFL paulista, Cláudio Lembo.

Com o acordo firmado ontem, Alckmin poderá contar com o tempo de rádio e televisão do PFL no horário eleitoral gratuito. De acordo com líderes pefelistas, não há outra hipótese para o partido no estado, maior colégio eleitoral do Brasil, a não ser o apoio a Alckmin.

— Estamos absolutamente fechados. A decisão, que ainda depende da homologação do diretório nacional, está sendo tomada com muita serenidade — disse Lembo.


Ciro recorre a Malan antes de palestra nos EUA
WASHINGTON. Crítico do governo e de sua política econômica, o pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, ligou para o ministro da Fazenda, Pedro Malan, pouco antes de embarcar para os Estados Unidos, na quarta-feira, para obter os indicadores mais recentes sobre o Brasil e também alguns dados do relacionamento entre os países.

Ontem, depois de fazer uma palestra para executivos e representantes do governo dos EUA, na capital americana, Ciro negou-se a detalhar o teor da conversa com Malan — “Eu não devasso as minhas conversas” — mas disse que se tratou de um gesto de educação política de quem quer manter o debate político em alto nível:

— Já havia mandado um ofício ao governo informando a agenda que teria nos Estados Unidos. Apesar de ser oposição ao governo no Brasil, aqui eu sou estrangeiro. Estou fazendo um enorme esforço para não evidenciar tantas divergências e procurar um máximo de convergência para defender o interesse nacional brasileiro.

Ciro criticou protecionismo comercial americano
Ciro falou durante um almoço promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-EUA e pelo jornal “Valor Econômico”. Ao apresentá-lo à platéia, o vice-presidente de Relações Governamentais da Whirpool Corporation, Tom Catani, cometeu, sem perceber, uma gafe: disse que Ciro representava o Partido Socialista e Populista. O ex-governador do Ceará aproveitou a sua palestra para criticar o protecionismo comercial dos EUA, que prejudica as exportações brasileiras de aço:

— É preciso ponderar com veemência que não compreendemos essa restrição ao aço ao mesmo tempo que nos cobram o dogma do livre mercado. É muita retórica!

Ao falar de política, Ciro disse que a paciência da sociedade brasileira hoje é pequena, assim como a sua crença nos políticos em geral. Isso, a seu ver, seria um ponto positivo:

— É possível que a sociedade esteja mais madura e mais disposta a ouvir um discurso mais cru, mais moderado e menos populista.

Perguntado por um empresário sobre qual a expectativa do povo brasileiro em relação às eleições, Ciro respondeu que “o pior dos mundos seria a vitória de alguém que simplifique demais os problemas, acenando com soluções, mágicas, rápidas”. Em entrevista, depois da palestra, Ciro aproveitou para dar uma alfinetada no candidato do PSDB, José Serra, ao responder à pergunta sobre qual dos dois teria mais compromisso com o Plano Real:

— Historicamente? Claro que eu! Ele sempre foi contra. Trabalhou contra. Sabotou o quanto pôde. Pergunte para o Fernando Henrique. Se ele tiver um mínimo de sinceridade e de memória, ele vai dizer!


Assessor econômico de Lula diz que os bancos erram ou agem de má-fé
SÃO PAULO. O economista Guido Mantega, principal assessor econômico do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse ontem que os analistas do ABN-Amro, que reduziram a recomendação de investimentos no Brasil, podem ter cometido um equívoco ou mesmo ter agido de má-fé, para tentar interferir no processo eleitoral e fortalecer a candidatura do senador José Serra (PSDB). Mantega afirmou que os economistas do banco holandês vivem distantes da realidade nacional.

— Achei satisfatória a nota da diretoria do banco, dizendo que discorda da análise — disse o economista, referindo-se a um comunicado do presidente do ABN-Amro no Brasil, Fábio C. Barbosa.

Mantega lembrou que Lula tem ressaltado que, caso seja eleito, vai honrar os compromissos já firmados. Ele não acredita que o mercado entrou em uma “onda de pessimismo” em relação ao Brasil:

— Não sabemos se essa reação será a ponto de atingir a candidatura de Lula.

Decisão da ABN-Amro é minoritária, diz Mantega
Para Mantega, a decisão do ABN-Amro é minoritária, apesar de os bancos americanos Morgan Stanley e Merrill Lynch terem rebaixado os títulos do Brasil segunda-feira. Ele lembrou que as agências de risco Moody’s e Standard & Poor’s reafirmaram a avaliação positiva do país.

— As agências de rating, que têm por ofício fazer avaliações, sustentaram a avaliação do Brasil — disse.

Lula criticou o alarmismo dos bancos estrangeiros:

— O Brasil é grande economicamente, viável, e estamos mais preocupados em fazer um projeto de desenvolvimento para o país voltar a crescer do que com relatórios de bancos estrangeiros — disse.

O deputado Aloizio Mercadante, um dos principais economistas do PT, acusou o governo de permitir a alta do dólar e a queda da Bolsa para prejudicar Lula e beneficiar Serra.

— O governo está apostando no quanto pior melhor e não está atuando, pois interessa o ataque à candidatura de Lula. Quem está pagando por isso não é o PT, é o Brasil — afirmou Mercadante.

O deputado diz que o rebaixamento do Brasil é estimulado por bancos que perderam dinheiro com a crise argentina e fazem pressão para que o FMI e os EUA intervenham na Argentina e reduzam seus prejuízos, com a ameaça de a crise econômica se espalhar para o Brasil. Outro motivo, disse, é a piora de fatores econômicos como inflação, aumento do petróleo e atraso na aprovação da prorrogação da CPMF.

Para Suplicy, análise foi um desrespeito
O senador Eduardo Suplicy (PT), professor de economia na Fundação Getúlio Vargas e possível vice de Lula, não crê que a candidatura do petista sofrerá abalos por causa da reação do mercado. Para ele, a análise foi um desrespeito com o povo brasileiro. Suplicy disse que análises como essas só consideram o ponto de vista da rentabilidade, sem levar em conta a saúde social do país. Segundo ele, os eleitores não estão preocupados com os que só pensam na própria rentabilidade financeira:

— O governo Fernando Henrique não tirou o Brasil da posição de campeão da desigualdade social. O PT, no governo, vai construir uma sociedade mais justa. Eles vão aplicar até mais dinheiro aqui, porque o país estará mais estável.


Artigos

Salvar o Mercosul
Aloizio Mercadante

Longe da passividade que tem caracterizado a ação de líderes mundiais, a crise argentina, a um só tempo, indica a necessidade premente de auxílio concreto e representa oportunidade ímpar de inserção global do Brasil.

Além da solidariedade, é preciso afinar a visão pragmático-econômica, pois o default de nosso maior parceiro comercial na América Latina indica o declínio, senão a extinção, do Mercosul. E, por conseguinte, fragilização de nosso poder de negociar acordos maiores como a Alca e a União Européia.

É essa visão político-estratégica que deve nos orientar. Nossa ação deve antever atitude que evite o aniquilamento do comércio bilateral — em queda de 70% — corte de investimentos por parte de companhias presentes lá e aqui, esfacelamento do Mercosul e perda deste poderoso instrumento de negociação. Também é crucial encarar a política de monólogo do governo Bush. Os EUA protegem cada vez mais setores não competitivos, oferecendo pouco ou quase nada na consolidação da Alca. Como competir com um gigante que detém 76% do PIB das Américas se, em segundo lugar, representamos apenas 6%?

Ou nos inserimos no comércio mundial calçados em um Mercosul forte e ampliado, ou aceitamos a anexação comercial. E, assim, abrimos mão de ampliar nossa indústria, ganhar competitividade e buscar novos parceiros mantendo nossa vocação multilateral de comércio.

O Congresso Nacional já aprovou, e o ministro Celso Lafer deu seu aval, a realização de sessão solene de solidariedade à Argentina, com a presença do presidente Duhalde. Outra sugestão que apresentei, com apoio também unânime, cobra maior empenho do FMI e do Banco Mundial na solução da crise argentina.

Como alternativa concreta, sugeri a criação temporária de uma câmara de compensação comercial. Com ela, os importadores argentinos pagariam suas dívidas em pesos, enquanto os exportadores brasileiros receberiam em reais. E vice-versa.

O momento requer atitudes imediatas e práticas do governo brasileiro, agora respaldadas pelo apoio unânime do Legislativo. Nossa ação é indispensável para a estabilidade econômica do Cone Sul e da América Latina.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

A volta do susto
“Não estão agindo corretamente com o Brasil. O país tem uma saúde institucional e uma estabilidade econômica que não justificam previsões catastrofistas. Muitas dessas agências de avaliação parecem estar operando mais com interesses de seus clientes do que com os dados da realidade”. Não vem de um petista, mas do vice-presidente Marco Maciel, essa condenação ao nervosismo financeiro-eleitoral.

Maciel lembra que pesquisas a cinco meses da eleição não podem ser tomadas ainda como tendência segura. Infelizmente, diz brincando com o paradoxo, neste caso as conseqüências vêm antes. Mesmo que o resultado eleitoral seja outro, os danos ao país já terão sido causados.

Ontem foi o Banco ABN que agitou o mercado ao recomendar a redução de investimentos no Brasil a seus clientes. A Bovespa caiu 4% e o dólar foi a R$ 2,40. Maciel, como fez antes o deputado Paulo Delgado, lembrando o silêncio das agências de risco diante da turbulência eleitoral francesa, aponta outros países que passaram recentemente por eleições que resultaram em alternância sem despertar temores. Mais recentemente o PS do então primeiro-ministro António Guterres perdeu a eleição em Portugal para o direitista Durão Barroso. Antes houve o ascenso de um nazista na Áustria, a vitória da direita na Itália e mudanças significativas na Bélgica, na Austrália e na Dinamarca. Muda nças pela direita e em países não-periféricos.

Mas operar com a insegurança pode ser novamente a opção do PSDB, embora os tucanos por ora façam conveniente silêncio ante o alarido dos prognósticos, pois danos tão precoces à confiabilidade do país afetariam também o atual governo e mesmo seu candidato. É do presidente Fernando Henrique, em entrevista ao GLOBO no fim do ano passado, esta frase: “Em 1994 fui eleito pela esperança, em 1998 fui reeleito pela insegurança diante da crise externa”. O último programa de José Serra fez clara referência ao risco de, em conseqüência da escolha do presidente, repetirmos o infortúnio da Argentina. O PT, que não deveria estar surpreso, reage com apatia ou com mera irritação.

As turbulências de hoje são diferentes da crise da Ásia de 1997. O eleitorado mudou de humor, mas não perdeu o amor pela estabilidade. Cedo ainda para saber o peso da insegurança na campanha.

Lula, sendo de novo o alvo, traz à lembrança a idéia do eterno retorno, de Nietzsche: “E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez mais e inúmeras vezes...’” (“A gaia ciência”). Mas este é um filósofo que não tenta o PT.Através de Malan, Ciro Gomes mandou um recado a FH. Se for presidente, não brigará com o passado. As diferenças nunca lhe tiraram o respeito pelo “professor Cardoso”.

Maio começa atrasado
A semana parlamentar foi enforcada pelo Primeiro de Maio. Para a próxima, vencida a obstrução da pauta por uma medida provisória, o presidente da Câmara, Aécio Neves, anuncia uma única mas vasta agenda: segurança, segurança, segurança. Entram em pauta os projetos selecionados pela comissão mista encarregada do assunto. O Senado volta à peleja para aprovar logo a CPMF, sob a ameaça de cortes orçamentários feita pelo governo. Ainda em maio, Aécio promete retomar os entendimentos para aprovar a microrreforma tributária, o projeto que elimina algumas incidências cumulativas de impostos. Em comum acordo com o presidente do Senado, Ramez Tebet, também disposto a pegar esse pião na unha.Neoterrorismo

O vice-presidente Marco Maciel condena o terrorismo financeiro, mas há um outro no ar, o de que no poder o PT adotaria o revanchismo contra o presidente Fernando Henrique. É resumido por uma frase do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen:

— Quem não dá pão faz circo. E circo bom é o que se faz com o passado.

Por isso Bornhausen declara-se favorável ao mandato de senador vitalício para ex-presidentes, assunto que os tucanos querem enfrentar depois da eleição, ganhe quem ganhar.Atraso e castigo

O ministro do Planejamento, Guilherme Dias, pede para esclarecer: o anúncio do aumento de IOF para compensar a perda de receita com o atraso na aprovação da CPMF não foi bode. De algum lugar, a compensação terá que sair.

— Cada um com seu trabalho. O de ajustar as contas não é agradável, mas tem que ser feito.

Da mesma forma, nega que esteja fazendo terrorismo contra os senadores com a ameaça de cortes no Orçamento. Se for preciso, serão feitos.

Então a tesoura está sendo amolada mesmo.DO DEPUTADO Agnelo Queirós sobre os cortes anunciados pelo governo. "É bom que cortem mesmo, mas nas despesas do Executivo. No ano passado foram gastos R$ 59,5 milhões com passagens aéreas. Este ano, até agora, R$ 84,3 milhões." Como voa, esta gente do governo.

GAROTINHO começou a gravar ontem seu programa de dez minutos que vai ao ar no dia 16. Nas horas vagas, ajuda seu coordenador, Marcio França, a procurar candidatos a governador para o PSB. Quer ter palanques nas 27 unidades da Federação.


Editorial

LIÇÕES

Oaumento de produtividade é o denominador comum das economias que conseguiram vencer o atraso. Em muitos casos, esse processo foi acompanhado por sistemas de câmbio fixo. A Argentina teve de recorrer a essa ferramenta para se livrar de um processo de hiperinflação que quase arruinara sua economia entre o fim da década de 80 e o início dos anos 90. A estabilidade monetária permitiu à Argentina crescer a taxas elevadas durante nove anos. Tal recuperação acabou acomodando o país, e assim reformas fundamentais não tiveram continuidade.

Quando os mercados financeiros internacionais começaram a enfrentar sérias turbulências em 1997, a Argentina continuou presa a um câmbio rígido sem que tivesse construído defesas contra a especulação.

As reformas foram postergadas — especialmente no caso das finanças das províncias — e o país mergulhou em forte recessão, da qual não mais se livrou. O custo social dessa crise tem sido tremendo e a saída não será fácil.

O que vem se passando no país vizinho permite tirarmos algumas lições. Tais como: a relevância da Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga todos os governantes a manterem as finanças públicas em ordem; a necessidade de se fazer o mais rápido possível a reforma tributária e retomar outras (a previdenciária, por exemplo); a economia brasileira fez com acerto a transição para o câmbio flutuante.


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05/03/2002


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