O presidente pede ajuda








O presidente pede ajuda
Fernando Henrique Cardoso reúne-se com os principais candidatos à Presidência para discutir o acordo com o FMI e obter deles gestos de apoio que acalmem o mercado

Um de cada vez, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebe hoje os quatro principais candidatos à sua sucessão. Os encontros giram em torno do acordo assinado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Fernando Henrique pretende explicá-lo pessoalmente aos presidenciáveis. E aproveita a ocasião para começar a desempenhar um papel encomendado a ele pelo próprio FMI: o de gestor da crise econômica na transição de governo.

O primeiro visitante no Palácio do Planalto será Ciro Gomes (PPS), ao meio-dia. Em seguida, o presidente receberá Luiz Inácio Lula da Silva (PT), às 13h. Anthony Garotinho (PSB) está marcado para as 14h. E José Serra (PSDB), às 15h, fecha a rodada.

O presidente estará acompanhado do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que já afirmou que não admitirá sugestões. ‘‘O acordo já foi firmado’’, justificou Malan. O ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, também deverão estar presentes, assim como Euclides Scalco, ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência. Cada candidato pode levar dois assessores.

Além do empréstimo de US$ 30 bilhões concedido pelo FMI, a pauta do encontro também trata dos acordos com o Banco Mundial e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Outro tema será a minirreforma tributária, que está na lista de prioridades do governo. Fernando Henrique defenderá também a manutenção da alíquota do Imposto de Renda (27,5% até o final deste ano) e mudanças no Programa de Integração Social (PIS) e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Crítico ferrenho do governo, Ciro Gomes chega a Brasília falando macio. Diz estar disposto a ouvir o que seus anfitriões têm a dizer. Mas também espera falar. Ontem à noite, o candidato da Frente Trabalhista reuniu-se com os assessores econômicos em seu apartamento no Rio de Janeiro. O economista José Alexandre Scheinkman (leia entrevista na página 9) , recente reforço da tropa cirista, participou da conversa por telefone, direto de Nova York.

Antes de receber os assessores, Ciro fez caminhada pelo calçadão de Copacabana ao lado de Leonel Brizola, candidato ao Senado pelo PDT fluminense, e de sua namorada Patrícia Pillar. Na praia mais famosa do Rio, Ciro deu a entender o que acha do acordo com o FMI. ‘‘Posso lhes dizer com muita tristeza que o nosso país, rico e cobiçado no mundo inteiro, está posto de joelhos diante da agiotagem internacional’’, diagnosticou.

Teoricamente mais à vontade com Fernando Henrique, o ex-ministro José Serra passou o final de semana fazendo campanha em Minas Gerais. Jurando que concordou com a iniciativa do presidente Fernando Henrique de conversar com os candidatos. ‘‘É hora de pensar no Brasil. Não é um problema eleitoral ou partidário’’, repetia.

Mas, durante a semana passada, a assessoria de Serra trabalhou para melar a rodada de conversações no Planalto. Entendia-se que tal tática enfraqueceria a candidatura oficial, dando a impressão de que FHC não confia mais na vitória tucana. Os solavancos do mercado financeiro, porém, empurraram o governo para os encontros de hoje.

Ao contrário de Serra, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas de opinião, concordou imediatamente em se encontrar com Fernando Henrique. Ontem, em Campinas (SP), Lula prometia aproveitar a visita para apresentar propostas de mudança na política econômica. ‘‘Não vou a Brasília tomar café.’’

Quem também espera falar bastante é Anthony Garotinho. Para a tarde de hoje, o candidato do PSB preparou um documento no qual critica o aumento da dívida pública e o piso de reservas cambiais fixado com o FMI. ‘‘Não vou referendar uma política da qual discordo’’, disse. Garotinho, no entanto, considerou positiva a intenção do governo de promover uma minirreforma tributária. Mas ironizou o fato de Fernando Henrique estar pensando nisso agora, depois de quase oito anos de governo.


Agenda dos candidatos a presidente

Lula - PT
Encontra-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, às 13h.

Ciro - PPS
Encontra-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, ao meio-dia.

Serra - PSDB
Encontra-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, às 15h.

Garotinho - PSB
Encontra-se com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, às 14h.

José Maria - PSTU
O candidato não divulgou a sua agenda

Rui Pimenta - PCO
O candidato não divulgou a sua agenda


Agenda dos candidatos a governador

Benedito Domingos - PPB
Dedica a manhã a reuniões internas de campanha. À tarde, trata de assuntos da vice-governadoria. Participa de coquetel promovido pelo Conselho de Pastores do Riacho Fundo 2 às 20h.

Carlos Alberto - PPS
Passa a manhã em reunião interna de campanha. À noite, participa de debate no Café com Letras, na 203 Sul.

Geraldo Magela - PT
Lança programa de governo para a área de segurança pública às 11h30, no auditório da Confederação dos Vigilantes (Setor de Diversões Sul, edifício Venâncio Júnior).

Joaquim Roriz - PMDB
Informou que fará apenas reuniões internas.

Rodrigo Rollemberg - PSB
O candidato não tem agenda pública hoje.

Expedito Mendonça - PCO
Passa o dia em São Paulo gravando programa par o horário eleitoral gratuito.

Orlando Cariello - PSTU
Dedica o dia a gravações do programa para o horário eleitoral gratuito.

Guilherme Trotta - PRTB
Não forneceu.


Juros sugam o Tesouro Nacional
Encargos da dívida pública chegam a meio trilhão de reais desde a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso. Analistas dizem que economia levará anos para se recuperar

Pela primeira vez desde que assumiu a presidência do Banco Central, em março de 1999, o economista Arminio Fraga perdeu a calma num evento público. Junto com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ele dava uma entrevista, no último dia 8, e irritou-se quando uma repórter da rádio Jovem Pan perguntou-lhe se o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) abria espaço para a queda dos juros. ‘‘Essa pergunta é uma perda de tempo’’, atacou, enfurecido, diante da platéia surpresa e paralisada.

Fraga, explicam amigos, está deixando escapar o estresse que o acomete desde março passado, quando surgiram os primeiros sinais de que o BC vem fracassando nas tentativas de deter o crescimento da dívida pública. Como a dívida incha sem controle, o país paga cada vez mais dinheiro à banca nacional, a título de juros. Todos os esforços em estancar a hemorragia deram em água até aqui.

Numa conta simples, o Tesouro Nacional desembolsou R$ 1,266 bilhão por semana para pagar juros aos bancos e fundos de investimento desde a posse de Fernando Henrique Cardoso, em 1º de janeiro de 1995, até junho passado. Esse montante é pouco menor do que todo o Orçamento anual do bolsa-escola, principal programa social da administração federal.

Para efeito de comparação, o bolsa-escola destina mensalmente entre R$ 15 e R$ 45 para cada família carente cadastrada, que tenha filhos entre seis e 15 anos na escola. Já a despesa do governo com juros garante uma ração mensal de R$ 29,35 milhões para cada um dos 181 bancos autorizados a funcionar no Brasil — isso se os pagamentos fossem repartidos igualmente no sistema financeiro.

À beira da falência
‘‘Os juros da dívida brasileira são de países à beira da falência, cujos reflexos, perversos, serão sentidos por muito tempo na economia’’, diz o economista Alexandre Fischer, da Consultoria RC, especializada em medir os riscos de se investir em países e empresas.

A dívida líquida do setor público, raiz dos gastos astronômicos com juros, beira R$ 850 bilhões atualmente. Ela representa 64% de todas as riquezas geradas em um ano, medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB). Em janeiro de 1995, essa relação era de 30%. Tal crescimento foi sustentado pela incapacidade de o governo gerar receitas para cobrir seus gastos e ainda pagar aos credores.

A dívida custou, em sete anos e meio de governo FHC, quase meio trilhão de reais só em juros. O número exato é R$ 493,99 bilhões. Metade dessa montanha de dinheiro foi reincorporada ao endividamento por meio da emissão de títulos públicos. Ou seja, mesmo com o governo economizando o equivalente a 3,75% do PIB por ano — algo como R$ 49 bilhões —, o caixa fica no vermelho e o Tesouro Nacional é obrigado a pedir empréstimos para pagar a diferença, gerando novos compromissos futuros com juros.

‘‘O governo vem refutando a análise de que os juros não foram os responsáveis pela explosão da dívida. Mas os números são incontestáveis’’, ressalta o professor Lauro Vieira de Faria, da Fundação Getúlio Vargas. Entre janeiro e junho deste ano, a dívida pública custou R$ 46,27 bilhões. Foram, em média, R$ 7,711 bilhões por mês em encargos nesse período. Se esse custo se mantiver pelo resto do ano, as despesas com juros no último ano de Fernando Henrique será de R$ 92,54 bilhões. Um recorde sem margem para comemoração.

Sócio-diretor da MCM Consultores, José Júlio Senna afirma que os juros são altos no Brasil porque o país é visto com desconfiança pelos agentes econômicos daqui e do exterior. Motivos não faltam. O país ficou com fama de caloteiro ao suspender por duas vezes o pagamento da dívida externa na década de 80. E, no plano doméstico, ao confiscar o dinheiro dos brasileiros, no malogrado Plano Collor, em março de 1990.


Entrevista - José Alexandre Scheinkman
Às vezes as pessoas falam do mercado como se ele fosse um monstro do cinema japonês. Isso não existe

José Alexandre Scheinkman, o novo colaborador do programa econômico de Ciro Gomes (PPS/Frente Trabalhista), refere-se ao candidato sempre como governador. E esclarece: ao contrário do que chegou a ser divulgado, não vai coordenar o programa econômico de Ciro nem voltar ao Brasil para tomar parte na campanha.

Scheinkman vai continuar a viver em Nova York, a dar aulas de economia na Universidade de Princeton e a trabalhar na França, onde é detentor, até dezembro, da cobiçada Cátedra Blaise Pascal de pesquisas. Fez questão de lembrar que suas idéias são dele mesmo, e não fala em nome de Ciro: ‘‘quem tem de dizer se concorda com elas é o candidato’’.

O professor vai participar pela Internet e em eventuais vindas ao Brasil das discussões no comitê de campanha sobre as propostas que apresentou a Ciro na longa conversa que tiveram na quarta-feira, e que podem ser resumidas assim:

1 - O Brasil precisa de uma reforma tributária que desestimule a economia informal, pois ela aumenta a carga (de impostos) sobre o setor formal e causa também problemas fiscais para o governo, prejudicando a arrecadação da Previdência Social.

2 - O Brasil precisa aumentar o comércio com o resto do mundo. O país exporta e importa muito pouco comparado a outros países em desenvolvimento.

3 - O Brasil precisa aumentar sua poupança doméstica. O país necessita de investimentos próximos a 25% do PIB e investe só 20%. Mas quatro pontos percentuais são financiados com poupança externa. Esse é o déficit da conta corrente. O governo tem que diminuir suas despesas e investir mais para reduzir esse déficit sem prejudicar o crescimento econômico.

4 - O Brasil deve ter uma política de criação de ciência e tecnologia. O país tem centros de excelência, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Mas precisa fazer mais para que outras entidades ganhem eficiência.

5 - É importante distribuir melhor a renda, melhorando a qualidade da educação e facilitando o acesso ao crédito pessoal para as camadas mais pobres, o que passará provavelmente pela regularização dos direitos de propriedade de uma grande faixa da população.

Scheinkman falou ontem por telefone ao Correio. Destacou que apresentou a Ciro políticas de longo prazo, mas comentou a presente crise de confiança dos mercados no Brasil. Afirmou que a dívida brasileira é administrável e disse que Ciro lhe garantiu que não vai romper contratos nem dar o calote nos credores do país. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Vices agem como dublês dos presidenciáveis
TV Bandeirantes promove inédito encontro com os companheiros de chapa dos candidatos à Presidência. Eles, porém, preferiram repetir as táticas dos parceiros

Nada de José Serra atacando Ciro Gomes. Nada de Anthony Garotinho como franco-atirador. Por uma noite, os candidatos a vice-presidente da República foram as estrelas principais. Mas preferiram agir como dublês dos protagonistas. Repetiram as idéias e as táticas usadas por seus companheiros de chapa. Na ausência do candidato do PPS, Ciro Gomes, a artilharia pesada voltou-se para Paulo Pereira da Silva, o presidente da Força Sindical, filiado ao PTB. Sem Garotinho, a distribuição de caneladas generalizadas ficou para o deputado José Antônio Almeida (PSB-MA). O senador José Alencar (PL-MG) procurou repetir o ar sereno e risonho do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. E a deputada Rita Camata (PMDB-ES) atacou o vice de Ciro e flertou com o vice de Lula, exatamente como fez Serra no debate da Bandeirantes com o candidato do PT à Presidência há duas semanas.

O debate foi aberto com o tema único de segurança pública — justamente um dos assuntos que fez falta no debate anterior. Por sorteio, José de Alencar foi o primeiro a tomar a palavra. E fez como Lula, gastando preciosos segundos ao cumprimentar os presentes. Então, o empresário defendeu o projeto de segurança elaborado pelo PT.

José Antônio Almeida lembrou que trabalhou na CPI do Narcotráfico e se queixou da omissão de parte do Congresso, do Executivo e do Judiciário. Como ‘‘propostas concretas’’, defendeu as realizações de Garotinho no Rio. Paulinho também não saiu da sombra de seu companheiro, Ciro Gomes. Defendeu que a solução é baixar os juros e deixar o país crescer para gerar empregos. Rita Camata lembrou que José Serra elegeu emprego e segurança como prioridades.

Desvio do FAT
No segundo bloco, José Antônio Almeida tentou esquentar o ambiente. Seguiu o exemplo de Garotinho e foi ao ataque. Lembrou as acusações de desvio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pela Força Sindical.

Paulinho acabou escorregando na resposta. Mencionou documentos que isentavam a Força Sindical de irregularidades, mas não os mostrou. E também não conseguiu esclarecer porque a empresa contratada pela Força Sindical colocou o mesmo número de CPF para todos os alunos dos cursos que a central administrava com recursos do FAT, o que levantava a suspeita de que esses alunos, na verdade, não existiam. Paulinho respondeu dizendo que o Ministério do Trabalho concluiu, em nota, que Anadyr Mendonça, corregedora da União, tinha errado em sua denúncia. Não foi essa a conclusão do ministério. Não houve qualquer crítica ao trabalho de Anadyr. A nota dizia que não se podia concluir pela existência de uma ilegalidade, mas que a empresa contratada pela Força Sindical tinha, pelo menos, errado.

Rita teve a primeira oportunidade de bater em Paulinho. Os dois dis cutiram quanto à política de responsabilidade fiscal. Paulinho respondeu que o país precisava crescer e baixar a taxa de juros. Rita comentou que essa resposta era preocupante, porque menosprezava a necessidade de o governo gastar menos que arrecada. Paulinho reagiu, afirmando que a crise econômica é conseqüência da política do governo que tanto Rita como José Serra apóiam.


Israel começa retirada de tropas
O plano Gaza Primeiro começa a funcionar hoje na Faixa de Gaza e na cidade de Belém (Cisjordânia), segundo comunicado do Ministério da Defesa israelense divulgado ontem à noite. O plano consiste numa retirada gradual do exército israelense dos territórios palestinos ocupados desde o início da Intifada, em setembro de 2000.

O acordo foi alcançado em uma reunião de quatro horas entre o ministro da Defesa, Benjamin Ben-Eliezer, e uma delegação palestina liderada pelo ministro do Interior, Abdal Razzak al-Yahya, e o assessor de segurança de Yasser Arafat, Mohammed Dahlan, encerrada ontem à noite em um hotel de Telavive.

Segundo o comunicado, os palestinos serão responsáveis por preservar a calma e reduzir a violência nessas áreas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Ben-Eliezer, que elaborou o plano, quer impedir que os territórios sirvam de base de preparação de ataques antiisraelenses.

O ministro da Defesa, em troca, se esforçará para suavizar as condições da população palestina. O acordo é um primeiro passo para uma trégua depois de 22 meses de violência, que já causaram a morte de mais de duas mil pessoas.

‘‘Isto nos permitirá ajudar os palestinos do ponto vista humanitário e alcançar a fase decisiva de reformas e reorganização de modo que possamos entrar em um diálogo até o fim’’, afirmou.

As imagens da reunião — considerada construtiva pelos dois lados — foram as primeiras de um encontro entre israelenses e palestinos em vários meses. O gabinete palestino havia aprovado o plano Gaza Primeiro, em 7 de agosto.

Acordo de paz
Para reforçar a reaproximação, representantes da oposição de esquerda em Israel e dirigentes palestinos pediram ontem um reinício o mais rápido possível do diálogo político para se chegar a um acordo de paz entre os dois povos.

Depois de uma reunião conjunta no norte de Jerusalém, as duas partes reunidas numa ‘‘coalizão da paz’’ afirmaram a necessidade de voltar à mesa de negociações sem condições prévias.

Eles se mostraram favoráveis à reforma da Autoridade Palestina (AP), mas estimaram que isso não podia ser uma condição prévia à abertura das negociações, como exige o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon.

A coalizão da paz denunciou os ataques palestinos ou israelenses contra as populações civis e exigiu uma retirada do exército israelense das localidades palestinas reocupadas nestes últimos meses.

O apelo foi lançado, entre outros, pelo ex-ministro trabalhista da Justiça israelense Yossi Beilin, deputados do partido de esquerda Meretz e, do lado palestino, pelo ministro da informação Yasser Abed Rabbo.

Entretanto, Israel continuou suas operações contra militantes palestinos. O exército israelense deteve ontem 16 suspeitos na Faixa de Gaza e em Ramallah e Qalqilya, na Cisjordânia.


Artigos

Quem sabe, o Zé Maria, do PSTU...
José Negreiros

No início do ano, um amigo tucano me chamou para uma conversa séria e contou que tomara uma decisão muito importante. Mudara de candidato à Presidência. Resolvera votar em Lula, do PT. Parecia aliviado.

Lula mereceria o seu voto, explicou, porque além de honesto, depois de 12 anos e três tentativas, era como se houvesse terminado com louvor um curso sobre Problemas Brasileiros. Estava preparado para governar. Além disso, propunha mudanças, principalmente na área social, que Fernando Henrique prometera e não cumprira.

Na semana passada, meu amigo me chamou para outra conversa. Desta vez sobre sua jovem experiência como eleitor petista. Encontrei o mais perplexo dos brasileiros. Depois do debate da Bandeirantes, a ficha caiu para Mário. Contou-me que estava com Lula atravessado na garganta. Mudara-se para o PT para votar na oposição, na esquerda, e agora se deparava com Fernando Henrique. Baixinho, barbudo, rouco, mas Fernando Henrique.

Lembrou-me que, em 1994, quando o atual presidente resolveu se aliar a Antônio Carlos Magalhães, sua mulher, Raquel, devolveu imediatamente a plumagem e a carteirinha verde, amarela e azul. ‘‘Tudo bem que na história do Brasil todo mundo fez conchavo e eu própria engoli o Sarney para elegermos Tancredo no Colégio Eleitoral. Mas ACM é demais!’’

A maioria dos amigos teve o comportamento de Raquel, enquanto ele ficou ali, se explicando. Agora, para sua surpresa e pânico interior, Lula considerou banal o acordo do PT com Orestes Quércia, perto de quem ACM parece Toninho Ternura. ‘‘Perdi três eleições e não quero perder outra’’, disse Lula na TV. Só faltou completar: para ganhar, faço qualquer negócio.

Mário ficou vermelho. Porém, nada supera o que ouviu de um amigo novo, petista carioca, sobre a eleição no Rio. ‘‘A gente tem que votar no Jorge Silveira, do PDT, para dar ele e a Rosinha no segundo turno. Aí, a gente apóia a Rosinha e, em troca, o Garotinho apóia Lula’’.

O ex-tucano perdeu todas as referências. Ele convencera os pais, conservadores eleitores do Rio, a votar na Benedita da Silva. ‘‘O que a Bené fez para ser traída por nós?’’ — perguntou ao amigo, depois de criar coragem, no quinto chope. O velho petista encheu de novo o copo e arrematou: ‘‘Mário, tu não entende mesmo de política, hein?’’


Editorial

NÃO À QUEIMA DE ARQUIVO

Não há pena de morte no Brasil. Na opinião da grande maioria dos legisladores e dos especialistas em segurança, esse não é o caminho. O bandido já sabe que a perda da vida é um risco que ele corre cotidianamente. Portanto, já não a teme nem se inibe por isso. Além disso, a morte é irreversível. Não há como corrigir um erro processual que resulte nesse tipo de condenação. Assim, o caminho que se deve seguir é o da busca de recuperação do preso para a sua reintegração à sociedade. É sempre importante lembrar que essa é a regra seguida pela legislação brasileira e que, por mais revoltante que seja a ação criminosa e por mais inseguros que estejamos com o aumento da violência urbana, no mínimo por respeito à lei tem de ser sempre a opção da polícia nas ações de repressão ao crime.

Preocupa, portanto, a impressão de que não esteja sendo esse o caminho seguido pela polícia do Rio de Janeiro na busca dos assassinos do jornalista Tim Lopes. A morte de Tim Lopes chocou o país. O jornalista foi submetido a um bizarro ‘‘julgamento’’. ‘‘Condenado’’, sofreu torturas antes de ser barbaramente assassinado. Submetida à pressão da opinião pública, a polícia do Rio saiu à caça dos responsáveis. Em menos de duas semanas, porém, três dos dez criminosos envolvidos na tragédia de Tim Lopes estão mortos. Dois deles seguramente foram mortos pela polícia. O terceiro morreu no hospital em circunstâncias suspeitas.

Que as mortes tivessem ocorrido em conseqüência do açodamento da polícia, já seria grave. O preocupante, no entanto, é a suspeita de que os bandidos tenham sido mortos em um processo de ‘‘queima de arquivo’’. Para evitar que, vivos, os bandidos pudessem dar depoimentos que corroborassem a existência de uma convivência promíscua entre a polícia e o narcotráfico.

Seja por um ou por outro motivo, o fato é que a morte dos criminosos prejudica a própria investigação policial. As informações dos traficantes sobre a rotina e a organização do crime contribuiriam no se u combate. Os bandidos mortos jamais serão um bem para a sociedade. Constituem, sim, um desserviço. Principalmente se de fato servirem para encobrir irregularidades da própria polícia.


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08/19/2002


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