PARA LAURO CAMPOS, BRASIL CONTINUA NA SUA ROTA DE PERIFERIA MUNDIAL



Em balanço geral dos rumos em que o país foi colocado pelo Plano Real, o senador Lauro Campos (PT-DF) concluiu que o Brasil manteve-se onde sempre esteve, sem recolher vantagens das relações internacionais, ou seja, na periferia. A "ciência" (as aspas são do senador) econômica pátria, nesse contexto, só fez repercutir internamente os interesses dos países ricos, disse Lauro Campos.

Assim, para Lauro Campos, num primeiro momento o Plano Real sobrevalorizou a moeda nacional para estimular as importações, que reduziram a inflação interna, mas ao custo da destruição da produção e do emprego e do crescimento exponencial da dívida externa. A fórmula, chamada pelo senador de "mágica de Gustavo Franco", só se sustentou enquanto foi possível aumentar o endividamento externo. O resultado foi que a dívida externa total saltou de US$ 148,3 milhões em dezembro de 1994 para US$ 243,2 milhões em dezembro de 1998, contabilizou o senador.

No âmbito internacional, Lauro Campos analisou que o surto importador brasileiro - e os déficits comerciais dele decorrentes - não teve o mesmo significado dos déficits registrados nos balanços dos países ricos. Nestes, "o déficit comercial é a expressão do poder de sua moeda, de seus exércitos, de sua capacidade de espoliação e de exploração da periferia". Já em países periféricos como o Brasil, as importações impõem aumento da dívida externa, explicou.

O esgotamento da fórmula inicial explodiu na maxidesvalorização da moeda brasileira ocorrida no início do ano passado e, agora, a palavra de ordem passou a ser "exportar é o que importa", conforme o senador. O que os ideólogos brasileiros escondem atualmente, na opinião de Lauro Campos, os mercantilistas do século 19 também omitiam: um país que se empenha em aumentar seus saldos comerciais reduz os bens consumíveis internamente e, ao mesmo tempo, aumenta a base monetária, gerando pressão inflacionária e aumento da dívida pública, dado que as autoridades monetárias têm que cobrir com reais os dólares acumulados com as exportações.

Ou aumenta a dívida pública ou a inflação dispara, segundo o senador. "Para evitar que a inflação dispare, a dívida líquida total do setor público se elevou de R$ 152,4 milhões em dezembro de 1994 para R$ 516,6 milhões em dezembro de 1999".

Esses números, na análise de Lauro Campos, demonstram que, a partir de certo montante quantitativo de importações, "uma nação percebe que está se empobrecendo, transferindo riqueza real para o exterior". Foi o que os mercantilistas ingleses perceberam entre 1565 e 1566, relatou o senador, e fizeram aprovar uma lei proibindo a exportação de ovelhas vivas. A infração à lei redundaria em confisco da propriedade, um ano de prisão e decepação da mão esquerda. A reincidência, em pena de morte. "Se os presidentes do Brasil, do Banco Central e os ministros tecnocratas exportadores de nossas riquezas in natura e de nossas commodities não fossem americanos de dupla nacionalidade, estariam todos com suas mãos esquerdas cortadas, e os reincidentes, sem pescoço", concluiu.

11/12/2000

Agência Senado


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