Para Luciano Coutinho, país pode sair da crise com crescimento maior que média mundial



A crise econômica continuará sendo severa nas economias desenvolvidas pelo menos até 2010, mas o Brasil reúne condições para se descolar desse quadro, garantindo rapidamente o retorno do país a taxas de crescimento superiores à média mundial. A avaliação foi feita pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, nesta quarta-feira (27), em audiência conjunta de comissões técnicas do Senado.

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- O Brasil precisa, em síntese, sustentar a robustez macroeconômica e, fundamentalmente, ampliar a capacidade de poupar e de investir - afirmou.

Ao justificar sua confiança na capacidade de recuperação da economia do país, Coutinho observou que, apesar da crise, os investimentos em infraestrutura - os que sinalizam uma visão de longo prazo - não foram afetados. Destacou, especialmente, as áreas de energia elétrica, com aplicações previstas em R$ 141 bilhões de 2009 a 2013, e a de petróleo e gás, com quase R$ 270 bilhões, graças ao suporte da Petrobras.

Outros R$ 77,8 bilhões serão alocados em telecomunicações no mesmo período, além de uma previsão de R$ 49,9 bilhões na área de saneamento, área favorecida por investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mesmo em setores da petroquímica e da indústria automobilística, como observou, investimentos importantes estão sendo mantidos. Quanto às áreas afetadas, ele observou que são basicamente as que dependem mais acentuadamente do mercado internacional, como a siderurgia e o agronegócio. Ainda assim, disse que mesmo alguns segmentos exportadores foram pouco atingidos.

- Em resumo, o Brasil tem fronteiras de investimento de alto retorno em varias áreas. Parcela importante desses investimentos possui um componente autônomo, o que nos assegura que irão se expandir apesar do cenário mundial adverso - afirmou.

Massa salarial cresce

Do ponto de vista macroeconômico, os dados mostram, conforme o presidente do BNDES, que o potencial da demanda doméstica continuará firme. Apesar da forte retração no quarto trimestre de 2008, ele destacou que o endividamento das famílias é baixo e a massa salarial continua crescendo. Quanto ao desemprego, mesmo com a curva se acentuando em 2009 frente a 2008, também observou que o quadro é positivo quando comparado a 2004, momento em que o país voltou a crescer em ritmo mais firme. Ele lembrou que a taxa de desemprego, que era de 12,1% em abril daquele ano, caiu para 8,9% em abril desse ano.

Coutinho salientou ainda que, apesar da crise, o crédito bancário continua se expandindo, acumulando taxa 25% em 12 meses, até março último. Considerando o período de setembro do ano passado, imediatamente antes da crise eclodir, a março último, o incremento foi de 18,3% no crédito bancário público e de 2,1% no setor privado. Na variação total, os BNDES contribuiu com 34% e os demais bancos públicos com 48%. A questão do crédito, como observou, não está totalmente resolvida. O principal desafio agora, avaliou, será melhorar o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas.

Os dados fornecidos sobre as atividades do banco seguiram a mesma linha otimista da avaliação da economia. Comparado o primeiro quadrimestre de 2009 com igual período do ano passado, ele mostrou que os principais indicadores são positivos: as consultas para novos empréstimos cresceram 34% e os enquadramentos (consultas admitidas para exame) aumentaram em 41%. Mas as aprovações de novas operações, no entanto, recuaram 19%. Já em relação aos desembolsos do primeiro quadrimestre, no entanto, o aumento foi de apenas 2%.

Empréstimo do Tesouro

Coutinho prestou esclarecimentos sobre empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro à instituição, recursos que estão financiando medidas anticrise. Desse montante, R$ 67 bilhões estão sendo aplicados em operações para ampliar a oferta de capital de giro às empresas (financiamento às exportações e empréstimos-ponte), para compensar o aperto de crédito do mercado. R$ 25 bilhões desse bolo couberam à Petrobras. Questionado por diversos senadores sobre esse empréstimo, ele esclareceu que as taxas são as de mercado, não havendo subsídio envolvido. Com a queda da taxa básica de juros (Selic), ele informou que as operações financiadas por essa linha estão tendo seu custo reduzido - os 2,5% acima da TJLP (taxa de Juros de longo prazo) foram rebaixados para 1%.

O debate foi promovido pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), Comissão de Serviços de InfraEstrutura (CI), Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e pela Comissão de Acompanhamento da Crise Financeira e Empregabilidade.

Gorette Brandão / Agência Senado



27/05/2009

Agência Senado


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