Parque Estadual Jaraguá tem trilha especial para deficientes



Além do percurso adaptado, visitante encontra galpão de convivência e banheiros especiais

Grupo de 60 pessoas com deficiência visitou o Parque Estadual do Jaraguá para conhecer uma trilha especialmente adaptada para eles. O percurso de 400 metros já existia, mas passou por reformas para ser utilizado por quem anda em cadeira de rodas, deficientes visuais, pessoas com pouca mobilidade e idosos. Chamada de Trilha do Silêncio, foi inaugurada no Dia Mundial da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro).

O diretor do parque, Vladimir Arraes, recorda que a idéia surgiu há quatro anos, quando 20 peruas apareceram de surpresa no parque. Eram dezenas de deficientes dispostos a aproveitar a natureza nesse pedaço de Mata Atlântica na zona oeste, onde também está o ponto mais alto da capital, o Pico do Jaraguá. “Notei, então, que não havia estrutura adequada para atender aquelas pessoas”, lembra.

Começou então a idealizar adaptações com apoio de entidades especializadas e do Conselho Municipal da Pessoa Deficiente. Vladimir percebeu que a empreitada exigiria mais que trilha. Era preciso criar espaço de convivência, banheiros especiais e cursos de capacitação para os funcionários.

As madeiras vieram gratuitamente de uma estação experimental da Secretaria de Meio Ambiente e a mão-de-obra do próprio parque. Além da trilha, foi erguido um galpão de madeira (Espaço Conviver) e construídos novos banheiros. “É um parque onde o deficiente tem sexo”, brinca Vladimir, porque os banheiros especiais são divididos em masculino e feminino. 

Na Trilha do Silêncio, acidentada por causa da topografia natural, foram montadas pontes de madeira nos pontos íngremes, para torná-los mais planos. O solo é de terra batida e há corrimão de madeira num lado para guiar deficientes visuais. Do outro, madeiras rentes ao chão auxiliam quem anda em cadeira de rodas. Em tocos de madeira há placas de metal com textos em braile. Sãoinformações sobre árvores, animais e outras a respeito do parque.  

Figurinhas carimbadas

O vigilante Paulo Sérgio da Silva explica que, à medida que se avança no percurso, a temperatura cai e o barulho da Rodovia dos Bandeirantes some aos poucos. Escuta-se apenas o vento nas árvores e o canto dos pássaros. “Por isso, chama-se Trilha do Silêncio”, desvenda Paulo. No final do percurso, há uma pracinha com bancos, onde o visitante descansa antes voltar.   Com sorte, observam-se quatis, serelepes, pequenos veados, porco-espinho, macacos, cutias, tucanos e lagartos.

Paulo Sérgio conta que durante a semana a trilha atrai idosos, de bairros próximos, como Jaraguá, Pirituba, Sol Nascente, Perus. Alguns tão assíduos que se tornaram figurinhas carimbadas do parque. Além de entrada e estacionamento gratuitos, há ponto de ônibus perto do portão principal.

A trilha fica na parte baixa do parque. Para chegar ao pico de carro, o caminho é outro, pela Estrada Turística do Jaraguá, num trajeto que se assemelha à subida da Serra do Mar.  

 Jô, a perseverante 

As 20 peruas que apareceram no parque, há quatro anos, foram levadas por Juvelina Nunes, a Jô, presidente da Associação Brasileira da Síndrome de Williams. Na época, Jô pertencia ao Conselho Municipal da Pessoa Deficiente. No domingo, ela levou sua turma para percorrer a trilha.

No passado, ela visitou vários parques e verificou que nenhum tinha instalação adequada a deficiente. No Jaraguá, encontrou gente disposta a procurar soluções.  “Pedi à diretoria a criação de infra-estrutura”, recorda.

Jô fundou a associação em 2002. Sua filha Jéssica, de 17 anos, nasceu com a síndrome de Williams-Beuren. “Demorei sete anos para saber e desde então minha vida mudou”, recorda-se Jô, que se dedica totalmente à sua e a outras entidades. Ela recebe ajuda de empresários e organiza bazares beneficentes e almoços.    

O portador da síndrome apresenta características faciais típicas, cardiopatia congênita, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, deficiência mental leve, déficit no crescimento, anormalidades oculares e urinárias e personalidade marcante, alegre e amigável. Existe tratamento de fisioterapia, fonoaudiologia e estimulação psicomotora. Não há cura.   

Pé na trilha    

Antônia Moreira da Silva percorreu parte da trilha empurrando a cadeira de rodas de seu filho Anderson, de 18 anos, que nasceu com paralisia cerebral. Antônia, que veio com a turma de Jô, elogiou o trajeto: “Nunca vi nada igual”.

A deficiente visual Alcione Maria Lourenço estava ansiosa para percorrer a trilha, após ouvir as boas-vindas do diretor Vladimir. Ela perdeu a visão num acidente de trânsito. “Disseram-me que não encontrarei obstáculos.”

O jovem Leandro Araújo, de 21 anos, já conhecia a Trilha do Silêncio, antes da adaptação. “Gosto do contato com a natureza e de conversar com amigos.” Ele tem a Síndrome de Williams-Beuren.     

Embora não fosse deficiente nem fizesse parte da turma alegre da Jô, o vendedor Ronei Gomes Cecam levou a família e aprovou a reforma na trilha. “Freqüento o parque desde criança”, diz Ronei, hoje com 46 anos. 

Everest paulistano 

Quem subir ao Pico do Jaraguá, a 1.135 metrosde altura, terá a capital a seus pés e área verde de 4,5 mil hectares. Há outras duas trilhas, além da do Silêncio. A Trilha da Bica tem um quilômetro com dificuldade média. Na do Paizé, mais dificultosa, a pessoa percorre 1,8 mil metros de subida até o Pico.

Vladimir Arraes informa que até setembro de 2008 estará concluído o Plano de Manejo do parque, com dados sobre fauna e flora, proteção, fiscalização e normas para uso público.

A escalada do pico foi proibida há dois anos. Ele conta que muitas pessoas se aventuravam sem habilidade ou equipamento de segurança. “Com o Plano de Manejo, poderemos autorizar a escalada, desde que supervisionada por entidades do ramo”, adianta Vladimir.

O parque recebe escolas e entidades o ano inteiro. Mas quem tiver interesse em marcar passeio monitorado tem de se apressar, pois o agendamento é disputado. O telefone é (11) 3945-4532.

O parque fica na Estrada Turística do Jaraguá, entre esse bairro e Pirituba. De carro, deve-se acessar a Avenida jornalista Paulo Zingg, no quilômetro 18 da Via Anhangüera (Trevo do Jaraguá) e pegar a Turística. De ônibus, as linhas são 8040 (Lapa-Sol Nascente), 8048 (Lapa-Jaraguá) e 8696 (Praça Ramos-Jaraguá).

 

Otávio Nunes

Da Agência Imprensa Oficial 

(I.P.)



01/04/2008


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