Patrões viam abono de Natal como gorjeta, diz ex-metalúrgico de 83 anos



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O Jornal do Senado localizou em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, um ex-metalúrgico que participou das grandes passeatas nos anos 1950 e 1960 pela obrigatoriedade do 13º salário.

Hoje com 83 anos, Miguel Terribas Rodrigues trabalhou de 1943 a 1985 na siderúrgica Aliperti, na capital paulista. Foi seu primeiro e único emprego. Entrou aprendiz, numa época em que os salários eram semanais, e saiu aposentado.

Por telefone, ele concedeu a seguinte entrevista:

Antes da lei do 13º, como era o fim de ano na siderúrgica em que o senhor trabalhava?

O abono de Natal dependia do humor da chefia. Alguns chefes não davam nada. Outros até davam alguma coisa, por livre e espontânea vontade, mas costumava ser muito pouco. Os patrões entendiam que o abono de Natal era uma gorjeta — não era obrigatória e era no valor que mais lhes fosse conveniente. Foi nas assembleias do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que surgiu a ideia de incluir o abono de Natal na pauta de reivindicações dos trabalhadores. Assim, toda vez que pressionávamos os patrões por aumento de salário, pedíamos também o abono. Mais tarde, passamos a lutar para que o abono de Natal se tornasse lei, direito. Participei de passeatas no bairro da Liberdade, onde ficava a sede do sindicato, na Praça da Sé e na Avenida Paulista.

O que mudou quando o 13º se tornou obrigatório?

Foi ótimo para os trabalhadores. Hoje, quem não conta os dias para receber o abono de Natal? Porém, como naquela época era novidade e não estávamos acostumados a tanto dinheiro, muitos companheiros não souberam aproveitar. Gastavam tudo de uma vez, desperdiçavam. Mas eu não. Eu soube tirar proveito. É claro que com o abono de Natal eu também tomava uma cervejinha e comprava o presente de Natal das crianças, mas não jogava fora. Guardava a maior parte, economizava. Com ele, comprei um terreno e construí minha casa humilde. Agora que estou velho e não posso trabalhar, vejo que foi importante ter usado bem os abonos de Natal.

O que o senhor sente quando lembra que participou de passeatas históricas pelo 13º?

Aquelas passeatas mostram a força dos metalúrgicos. Nós sempre dávamos o primeiro passo, e as demais categorias nos acompanhavam depois. Eu me sinto muito satisfeito de ter participado disso tudo, muito orgulhoso.



17/07/2012

Agência Senado


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