Penitenciária de Potim instala oficina e montagem para capacitar detentos



Presidiários produzem até 40 móveis por dia, os quais são vendidos para órgãos da administração estadual

A auto-estima do detento da Penitenciária II de Potim teve acentuada melhora desde o mês passado, quando foi inaugurada a oficina de tapeçaria e montagem de cadeiras estofadas dentro do presídio. Além de receber salário mínimo, quem trabalha reduz a pena a que foi condenado, na proporção de 3 por 1 (um dia a menos de pena para cada três dias trabalhados). A fábrica custou R$ 30 mil à Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel (Funap), ligada à Secretaria de Estado da Administração Penitenciária.

Potim é uma pequena cidade de 13,5 mil habitantes, ao lado de Aparecida, no Vale do Paraíba. As unidades I e II, inauguradas em 2002 e administradas separadamente, são de segurança máxima, regime fechado e se localizam numa área deserta, em meio a uma planície, o que é comum na geografia do Vale. Cada uma abriga aproximadamente 1,3 mil detentos.

O diretor de Potim II, Fábio Brandão Martins, conta que atualmente existem três frentes de trabalho na unidade, que empregam quase 240 presos, sem contar o serviço interno (limpeza, manutenção). Trinta deles estão na fábrica de cadeiras recém-inaugurada pela Funap, 136 na montagem de prendedores de roupas e o restante dos encarcerados num trabalho iniciado há pouco: confecção de terços (rosários) usados em orações, e outros artefatos religiosos, a pedido de um fabricante de Aparecida.

Como a cidade vizinha é uma das mais religiosas do Brasil, Martins acredita que durante muito tempo haverá rosário para o interno de Potim II montar. O trabalho, que pode ser feito nos raios (área onde o presidiário passa o dia e toma banho de sol), é pago por produtividade e não por salário fixo como na oficina de cadeiras.

Até inglês – Metade dos presos da unidade foi condenada pelo Artigo 157 (roubo com violência), encontra-se na faixa etária de 25 anos e transgrediu a lei pela primeira vez. O restante da população carcerária praticou tráfico de drogas e outros ilícitos com violência contra a pessoa ou o patrimônio. Não há estrangeiros, criminosos sexuais e nem ex-policiais ou parentes de funcionários do sistema prisional do Estado.

O diretor substituto de trabalho e educação, Claudinei Morais D’água, conta que 63 detentos de Potim freqüentam o curso de alfabetização, equivalente ao primeiro ciclo do ensino médio (1ª a 4ª série), 101 estão entre a 5ª e a 8ª e 32 cursam o médio. Nas próximas semanas, promete Morais, terá início o curso de inglês com 40 alunos já selecionados.  

Craques nas funções

O mestre da Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel em Potim II, Valdecir Afonso de Moura conta que apesar de inaugurada em agosto a tapeçaria já funcionava desde janeiro. Os 30 presos trabalhadores montam de 35 a 40 cadeiras por dia em quatro modelos básicos: fixas, de rodinhas, com e sem braços, nas cores preta e azul.

Moura informa que boa parte da produção tem como destino os escritórios e instalações da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô. As demais seguem para escolas e órgãos da administração estadual. As matérias-primas utilizadas são madeira, tecido, espuma, ferro, cola, tinta e grampos; e os equipamentos, tesoura, martelo, furadeira e máquina grampeadora.

No início, os detentos tiveram dificuldade para entender o trabalho, mas hoje todos estão craques em suas funções. O maior problema é a alta rotatividade de Potim II, onde as penas são mais amenas, em relação a outras de regime fechado. E todo momento tem gente entrando e saindo de volta para casa ou para prisões com regimes mais liberais.

“Mente ociosa, oficina do diabo”

● Carlos Alberto Prestes de Lara (36) e César Augusto de Souza (24 anos) formam a dupla do buraco. Eles fazem dois orifícios na placa de madeira que servirá como encosto na cadeira. Os furinhos têm de sair simétricos e sempre no mesmo lugar para que o encosto não fique torto e prejudique as costas de quem se acomoda. Souza foi condenado a 20 anos por assalto e seu colega Prestes de Lara, a 3,5 anos, pelo mesmo crime.
● O trabalho de Alexandre dos Santos, de 35 anos, é colar a espuma e depois o tecido na madeira do assento. Parece simples, mas exige cuidado para a espuma não entortar e o pano não ficar enrugado. “Aqui na oficina o tempo passa mais rápido”, avalia Santos, que cumpre pena de 30 anos por assalto.
● Ele é considerado um dos reis do grampo, uma das fases mais complicadas da tapeçaria. Afinal, são centenas de grampos em cada um dos quatro lados do assento da cadeira. Nenhum pode ficar torto ou mal-fixado. Este é o trabalho meticuloso feito por Donizete Prestes (34 anos), pena de cinco anos. Resume a importância da fábrica de cadeiras na região: “Mente ociosa, oficina do diabo”.
● Edvaldo Ferreira de Moraes (63 anos) é o preso mais antigo, com sete anos em Potim II. Condenado a 72 anos por seqüestro, Edvaldo é um dos líderes entre seus colegas e está sendo treinado para se tornar oficial, um multiplicador dos trabalhos na tapeçaria. Ele já passou por todas as fases da oficina e hoje cuida do controle de qualidade. Procura eventuais defeitos de fabricação nas cadeiras para verificar a segurança do usuário. “Esta fábrica é a melhor coisa que já fizeram em Potim. Vai ajudar principalmente os mais jovens”.

Otávio Nunes, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



09/11/2008


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