Detentos da Penitenciária de Tremembé aprendem técnicas de reciclagem de papel
Em curso, presos aprendem a produzir papel artesanal e recebem bolsa-auxílio de um salário mínimo
Dez detentos do regime semi-aberto e egressos da Penitenciária II de Tremembé, no Vale do Paraíba, aprendem técnicas de reciclagem para a produção de papéis artesanais. Esta é a primeira vez que o sistema prisional paulista integra o projeto Reciclando Papéis e Vidas, criado em 2003 pela Universidade de Brasília (UnB) para qualificação profissional de presos do regime semi-aberto e egressos.
Em São Paulo, é resultante do trabalho conjunto da Associação Brasileira de Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap), UnB e KSR Distribuidora.
A ABTCP é responsável pela informação técnica e suporte na produção do papel artesanal, enquanto a KSR cuidará da comercialização do material produzido na oficina. A receita do papel e produtos comercializados será revertida para a própria oficina. “A importância do apoio a um projeto desta envergadura traz benefícios para a sociedade como um todo”, afirma o gerente geral da KSR, Dárcio Berni. “Todas as pessoas têm direito a uma chance de reinserção na sociedade e este projeto dá aos detentos e egressos a possibilidade de exercer um novo ofício e ter um meio de subsistência”, destaca.
Para o gerente institucional da ABTCP, Francisco Bosco, a proposta do Reciclando Papéis e Vidas é possibilitar o aprendizado de um ofício e despertar a visão empreendedora, assim como contribuir para o retorno dos presos à vida em sociedade.
Planos para o futuro – Para Ezequiel Rosendo, o projeto está sendo muito importante neste momento da sua vida. “Eu quero-me aperfeiçoar e usar a sabedoria deste aprendizado para reabrir meu negócio, uma fábrica de tapeçaria. Futuramente pretendo iniciar o processo de produção de folhas de papel”, anuncia.
Alexandre Faustino, casado e pai de quatro filhos, destaca que este projeto é um incentivo para enfrentar a vida em liberdade. “Este projeto está sendo maravilhoso, pois nos incentiva a viver dignamente e nos deixa mais preparados para trabalhar”, conta. “Tenho muitos planos para o momento em que sair daqui, entre eles, concorrer a uma vaga no Estado e me tornar servidor público; futuramente, quero abrir um negócio próprio”.
As atividades na oficina contemplam ainda o ensino de conceitos de cidadania, humildade, respeito, organização e obediência.
“Queremos que este projeto se multiplique, que novas turmas sejam formadas e outros reeducandos tenham oportunidade de participar para recomeçar sua vida”, diz o gerente institucional da ABTCP, Francisco Bosco. Ele conta que a Funap tem recebido pedidos para abertura de novas turmas. Hoje já existem 40 novos detentos interessados em participar do programa.
Fumo e cana – A língua tupi-guarani inspirou não só o nome da linha de papéis Iepê – palavra que significa liberdade – como também os outros seis tipos que serão produzidos no projeto Reciclando Papéis e Vidas. “A escolha do nome combina com o objetivo do projeto, que pretende estimular o recomeço de uma vida em liberdade, com perspectivas de inserção social e profissional para os detentos”, explica Berni.
Inicialmente, a comercialização dos produtos estará restrita às cidades de São Paulo e Campinas, junto ao segmento gráfico e promocional, devido à produção artesanal. A capacidade de produção é de cerca de 300 folhas diárias.
Critérios: tempo de pena e boa conduta
Na Penitenciária II de Tremembé, a primeira turma participante do projeto é formada por dez homens que passaram por processo seletivo de avaliação, considerando o tempo de pena e a boa conduta. O lançamento do projeto ocorreu dia 4 de setembro.
O curso dura de três a 12 meses e, nesse período, o aluno recebe bolsa-auxílio de um salário mínimo. Além disso, reduz um dia na pena a cada três de atividade.
O trabalho é desenvolvido num galpão da Funap, na área externa do presídio e inclui oficinas práticas e teóricas, coordenadas por um profissional técnico da ABTCP. O local dispõe de equipamentos e materiais adequados.
Os presos aprendem diversas técnicas de produção de papéis, entre elas a separação dos materiais recebidos e aparas, cozimento, trituração, amaciamento, lavagem, prensagem, secagem e, finalmente, embalagem e controle da produção. Os alunos recebem, por exemplo, o sisal puro e aprendem a cortar as fibras, macerá-las, amaciá-las e triturá-las para incluir no processo de produção do papel artesanal.
Futuramente o projeto será ampliado com o ensino de técnicas para a produção de embalagens, envelopes, agendas e outros materiais.
Linha de papéis
Os papéis que compõem a linha Iepê são:
Caaóba (folha de fumo) – produzido a partir de bitucas de cigarro
Caiana (cana) – obtido da cana do reino
Cauassu (bananeira) – é originado da folha de bananeira silvestre
Itá (pedra) – vem de saco de cimento
Itajuba (ouro) – surge do papel-moeda, fornecido pelo Banco Central
Ymbira (sisal) – resultante de fibras do sisal
Da Secretaria de Administração Penitenciária
(M.C.)
09/26/2008
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