Pesquisa: Alunos de escolas públicas têm melhor desempenho em 31 dos 55 cursos analisados pela Unica



Estudo mostra que os estudantes oriundos da escola pública tiveram desempenho superior ao dos demais alunos

O desempenho acadêmico dos alunos contemplados pelo Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) ao longo de 2005 foi melhor do que o dos demais colegas em 31 dos 56 cursos da Unicamp. Os números foram apresentados nesta sexta-feira, dia 9, pelo reitor José Tadeu Jorge em entrevista coletiva na qual foi feito o balanço do primeiro ano de funcionamento do programa, instituído em 2004 e implantado no vestibular de 2005.

Pioneiro no país, o PAAIS prevê que estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio na rede pública recebam, na segunda fase do vestibular, 30 pontos a mais na nota final. Acresce também 10 pontos à nota final de candidatos autodeclarados negros, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas.

O reitor José Tadeu Jorge, que presidiu o grupo de trabalho que formulou o programa, há dois anos, destacou que os números da pesquisa demonstram que é possível fazer inclusão social adotando-se modelos alternativos àqueles propostos pelo sistema de cotas. Na opinião do reitor, a reserva de vagas traz embutido o risco da piora na qualidade do ensino.

De acordo com Tadeu, a Unicamp caminha na direção oposta ao comprovar que o nível de ensino não só tem preservado seu patamar de qualidade como também faz dos beneficiados pelo PAAIS um dos vetores dessa mesma excelência. O raciocínio do reitor fundamenta-se no desempenho acadêmico dos contemplados pelo programa, melhor do que o de seus colegas na maioria dos cursos. “Trata-se de uma garantia de que vamos formar profissionais ainda mais qualificados”.

A performance dos incluídos no programa de ação afirmativa, de acordo com Tadeu, dirime algumas dúvidas recorrentes à época da implantação do programa. A maior sombra pairava justamente sobre a capacidade que esses alunos teriam de acompanhar, em pé de igualdade, os demais graduandos.

Não foram poucos aqueles que duvidavam do desempenho dos egressos da escola pública. “Essa pergunta era sempre colocada”, revela o reitor. Embora ache prematuro afirmar que o quadro já esteja escorado em verdades definitivas devido ao pouco tempo de funcionamento do programa, Tadeu arrisca um palpite. “Por enquanto, a resposta é sim. E, creio, essa convicção ficará ainda mais forte na medida em que ampliarmos nossa coleção de dados”.

Na opinião do reitor, o balanço também tem o condão de tornar concretas as bases teóricas do projeto, pavimentada, segundo ele, em pressupostos que não podiam ser provados. No bojo do ineditismo da iniciativa, irrompia um desafio do tamanho da desigualdade social do país: o de buscar o equilíbrio, segundo Tadeu, entre as curvas da renda familiar e do número de jovens que ingressam na universidade pública.

O reitor ressalva que a distorção é secular e que, por mais bem-sucedido que seja o programa de inclusão, ele precisa ser acompanhado pelo aumento do número de vagas. Modestamente, porém, não esconde sua satisfação com a materialização de um velho sonho. “O ponto fundamental da existência do PAAIS é promover a inclusão social. E temos agora dados que mostram que a nossa teoria estava correta”.

Números

O levantamento, solicitado pelo Conselho Universitário (Consu) e feito por meio de parceria entre a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares) e DAC (Diretoria Acadêmica), privilegiou a análise comparada de números vinculados ao desempenho acadêmico do conjunto de alunos que cursam a graduação na Universidade.

Dois aspectos mereceram atenção especial dos formuladores do levantamento, de acordo com o professor Maurício Kleinke, coordenador de pesquisa da Comvest. O primeiro refere-se à seguinte indagação: “os alunos bonificados pelo PAAIS classificaram-se melhor que seus colegas no primeiro ano cursando a Unicamp, quando comparados com sua classificação do vestibular?”.

A resposta impressiona: em 53 cursos, os bonificados “avançaram na fila”, ou seja, foram melhor ranquedados na Unicamp do que no vestibular. Em 31 desses 53 cursos, esse ganho de posição não poderia ocorrer por acaso, isto é, os resultados são estatisticamente significativos.

O segundo aspecto diz respeito ao desempenho acadêmico ao longo do ano letivo 2005. A resposta, no caso, é mais direta. Os alunos do PAAIS apresentaram uma média anual mais alta (conhecida como CR) que a de seus colegas em 31 dos 56 cursos, alguns dos quais de alta demanda, incluindo na relação o de Medicina, no qual os egressos da escola pública tiveram 7,9 de média, enquanto a nota de seus colegas ficou em 7,6. “O objetivo do vestibular Unicamp e do PAAIS é encontrar as diversas excelências pessoais distribuídas pela população em geral, e trazê-las para ampliar os horizontes de nossa universidade”, prega Kleinke.

O sucesso do programa de inclusão pode ser atestado, da mesma forma, no aumento do número de alunos cuja renda familiar vai até cinco salários mínimos. A média bianual demonstra que este número saltou de 301 (2003/04) para 340 (2005/2006). Aumentou também – e ainda mais significativamente – o total de alunos que se autodeclararam negros, pardos e indígenas. Antes da introdução do programa, no biênio 2003/04, ingressaram 90 estudantes. Na média dos anos de 2005 e 2006, depois portanto da introdução do PAAIS, este número pulou para 141 alunos.

Exemplos

Pamela de Almeida Resende, estudante de História, encaixa-se em todos os parâmetros mencionados acima. Paulistana, autodeclarou-se preta (conforme definição do IBGE), cursou escola pública da 5ª série ao final do colegial e testemunhou o empenho dos pais para que chegasse à universidade. “Foi a realização do sonho de meu pai, que trabalha como porteiro”, revela Pamela. Na opinião da estudante, o resultado da pesquisa coroa o esforço dos jovens contemplados pelo programa, os quais são vistos muitas vezes, segundo ela, como beneficiários de vagas que poderiam ser destinadas a outros alunos.

A opinião de Pámela é compartilhada por Luciana Cristina Correia, também aluna de História e contemplada no PAAIS pelos dois quesitos. “Existe aquela visão, equivocada, de que o estudante de escola pública é despreparado. Fiquei muito feliz porque a pesquisa mostra exatamente o contrário. Mostra ainda que é muito mais eficaz que o sistema de cotas”. Campineira, Luciana sempre estudou em escolas públicas, “mora” na biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e pretende ficar na Unicamp “até o pós-doc” em história da arte.

Enrico Silva Miranda, matriculado no curso de Engenharia de Controle e Automação, é outro aluno egresso de escola pública que pretende fazer pós-graduação na Unicamp. Nascido em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, seu caso é emblemático de outra característica do programa: o PAAIS firmou-se para além das fronteiras paulistas.

O QUE É O PAAIS

O PAAIS é o primeiro programa de ação afirmativa sem contas implantado em uma universidade brasileira. Instituído em 2004, após aprovação pelo Conselho Universitário da Unicamp (Consu), o PAAIS visa estimular o ingresso de estudantes da rede pública na Unicamp ao mesmo tempo que estimula a diversidade étnica e cultural. O aspecto mais importante do programa é a adição de pontos à nota final dos candidatos no vestibular.

Quem pode participar

Todos os estudantes que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas da rede pública de ensino. São consideradas escolas públicas apenas aquelas mantidas pela administração municipal, estadual ou federal. A participação no programa é opcional e deve ser indicada no formulário de inscrição no vestibular.

Como funciona

Os estudantes que optarem pelo PAAIS na inscrição para o vestibular receberão automaticamente 30 pontos a mais na nota final, ou seja, após a segunda fase. Candidatos autodeclar ados pretos, partos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas terão, além

06/11/2006


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