Pesquisa busca agregar valor ao abacaxi



Apesar de estar entre os dez maiores produtores mundiais do fruto, o Brasil importa a bromelina empregada nas indústrias farmacêutica e alimentícia

Quando veio para cursar o doutorado na Unicamp, Luiz Carlos Bertevello, professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), sugeriu como tema a extração e purificação da bromelina, uma família de enzimas presentes na polpa e na casca do abacaxi. A proposta foi prontamente aceita por seu orientador, professor Elias Basile Tambourgi, do Departamento de Engenharia e Sistemas Químicos da Faculdade de Engenharia Química (FEQ). A razão: apesar de estar entre os dez maiores produtores mundiais do fruto, o Brasil importa a bromelina empregada nas indústrias farmacêutica e alimentícia ao preço de R$ 25,00 o grama. A bromelina é usada em medicamentos devido aos seus efeitos digestivos, diuréticos, laxantes e cicatrizantes e, também, na indústria alimentícia, na clarificação de cervejas ou como amaciantes de carnes.

País está entre os dez maiores produtores

O objetivo fundamental da pesquisa, da qual participa também o professor da FEQ Flavio Vasconcelos da Silva, é o desenvolvimento de uma metodologia de uso industrial para a produção da bromelina pura, utilizando como matéria-prima o subproduto oriundo do processamento industrial da polpa do abacaxi. Pretende-se, com isso, agregar valor ao produto, principalmente a partir de resíduos como casca e talo mais ricos em bromelina.

Bertevello diz que a colocação de um dos professores que participava de um exame de qualificação constituiu o grande elemento motivador. “Na ocasião, ele afirmou que no Brasil mostramos capacidade para realizar coisas que já existem lá fora em termos de controle, automação e processos de separação, mas deixamos de desenvolver metodologias com vistas ao aproveitamento da matéria-prima nacional. Esta constatação foi um dos motores que motivou e impulsionou nosso trabalho”.

Tambourgi acrescenta que outros países vendem tecnologias através de produtos que as demandam, obtidos a partir de produtos primários que compram do terceiro mundo. “Perseguimos o desenvolvimento de metodologias que nos permitam obter produtos com valor agregado, utilizando processos mais baratos e que os tornem competitivos”.

O pesquisador explica que existem processos convencionais conhecidos para obtenção de bromelina. Neles, são utilizados processos convencionais de purificação e posteriormente a cromatografia, que encarece o produto. A linha de pesquisa adotada por ele envolve a separação por precipitação e a purificação por extração líquido-líquido. “Feita a precipitação das várias famílias de enzimas, procede-se à purificação da bromelina, utilizando-se sua separação por extração líquido-líquido, cuja seletividade preferencial se dá em uma das fases liquidas”, explica ele.

Flávio Silva esclarece que as pesquisas têm se concentrado no resíduo descartado da utilização da polpa, resultante do processamento industrial do abacaxi, constituído de casca e talo, embora a bromelina esteja presente em qualquer parte da fruta verde ou madura e encontra-se mais concentrada no fruto verde.

Há necessidade de controlar a precipitação, realizada a frio (5,0 graus), para que as enzimas não se desnaturem por ação da temperatura. O estudo visa determinar as formas de controle que revelem as condições operacionais ótimas em termos de tempo e rendimento. Ele afirma que o processo permite a extração de 70% da bromelina presente no resíduo, transformado inicialmente em um caldo.

Segundo os pesquisadores, desde o início, o trabalho orientou-se por três vertentes. Primeiro, sua extração. Depois, sua purificação. Mas, ainda, paralelamente procurou-se o desenvolvimento de processo que lhe viabilizasse a produção industrial com vistas ao mercado nacional e até internacional. Em vista disso, consideram importante o concomitante detalhamento das fases que descrevem a melhor forma de automação e os tipos de controle necessários à obtenção do produto, pois um processo se vende desde que completo.

Tambourgi lembra que o processo por precipitação tem uma série de complicadores e os controles convencionais industrialmente utilizados não funcionam bem, o que os levou a estudar técnicas de automação inteligente para sua viabilização industrial. “Hoje detemos dados e conhecemos as condições que devem ser observadas para manter a bromelina armazenada, pois desenvolvemos o processo, do qual se conhecia pouco, e estudamos as formas de preservar as suas características”, revela.

Para exemplificar a preocupação com a diminuição dos custos de produção, Tambourgi lembra o processo de purificação: “Para extração na fase líquida, utilizo duas fases – uma constituída de um polímero e outra de vários polímeros e sal. Usando um polímero barato como goma de caju ou goma de mutamba, conseguimos alternativas mais econômicas”.

O pesquisador acrescenta que, variando a constituição dessas fases líquidas, abriram-se novos leques de possibilidades para a metodologia estudada e a tornam aplicável na obtenção de outros produtos de interesse nacional, além da bromelina. (C.G.N.)

Da Unicamp

C.M.



09/09/2007


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