Pesquisa cataloga duas novas espécies de cipó
Ao visitar a casa de algum ribeirinho ou até mesmo pessoas que vivem nas cidades da Amazônia, é comum encontrar cestas, vassouras, amarrações de embarcações, artigos de decoração e móveis produzidos com um tipo bem comum de planta: os cipós-titica, um dos produtos florestais não-madeireiros com significativo potencial econômico na região. O vegetal é cientificamente conhecido como pertencente ao gênero Heteropsis e a espécie mais utilizada é H. flexuosa.
A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Maria de Lourdes Soares, fez uma revisão do gênero e com isso descobriu mais dois tipos novos de variantes do cipó-titica: a Heteropsis reticulata e Heteropsis vasquezii perfazendo 18 espécies do cipó. A descoberta foi descrita no artigo “A Preliminary Taxonomic Revision of Heteropsis (Araceae)” (Revisão Taxonômica Preliminar de Heteropsis, em tradução livre), de autoria de Soares, Simon Mayo (Herbarium, Royal Botanic Gardens Kew) e Rogério Gribel (Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro), publicado na Systematic Botany, revista científica da Sociedade Americana de taxonomistas de plantas.
De acordo com Soares, a espécie Heteropsis reticulata foi descoberta em florestas inundadas em Várzea alta e se difere por possuir as nervuras reticuladas nas folhas bem curtas e visíveis, com frutos bem desenvolvidos diferentemente dos demais. Já a espécie Heteropsis vasquezii é reconhecida pela largura de sua folha, em formato elíptico, que possui uma cor marrom escura e pela infrutescência (conjunto de frutos) bem desenvolvida.
Levando em conta tanto a importância científica dessas espécies de planta – que teve seu último estudo de reconhecimento de espécie datado há mais de cem anos – quanto à questão cultural e econômica, a pesquisadora viu a possibilidade de retomar os estudos taxonômicos das espécies, ou seja, descoberta, descrição e classificação das espécies e grupos de espécies, com suas normas e princípios.
O processo inicial de catalogação dessa planta se deu pelo auxílio de mateiros, que, mesmo entre eles, já faziam uma diferenciação. “Apesar de todas as espécies serem conhecidas por cipó-titica, alguns dos coletores davam nomes populares como, titiquinha, no caso de um exemplar de diâmetro menor”, comenta a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora, o fato desta planta emitir raízes que lembram os cipós, trouxe a ideia de que poderia realmente ser um cipó. Em suas pesquisas, Maria de Lourdes realizou estudos anatômicos na Heteropsis, pelos quais constatou que se trata na verdade de uma raiz.
“Todas as espécies de Heteropsis emitem essas raízes, que são fonte de fibra utilizadas no artesanato. São fibras tão fortes que parecerem cipó”, explicou Soares.
Exploração sustentável
Confundidas com o cipó, as raízes crescem em direção ao solo em busca de água e nutrientes. Depois que atingem o solo com cor geralmente cinza, essas raízes se endurecem, e é quando podem ser usadas para a fabricação de cestas, móveis e outros objetos de decoração.
Em outras partes do Brasil, o cipó-titica é conhecido como junco e rattan (embora sejam de outra família), no sul e sudeste do País, e como vime no Nordeste. A fibra é muito valorizada nessas regiões pelas indústrias moveleiras.
O Amapá é o maior exportador do cipó-titica. No estado vizinho, desde 2001 existe uma Lei estadual na qual prevê o manejo florestal para que o cipó-titica possa ser exportado, tendo inclusive Instrução Normativa para essas práticas de manejo e mais recentemente a instituição de uma licença ambiental para os pequenos e médios extrativistas, em áreas previamente delimitadas.
A preocupação da pesquisadora Maria de Lourdes Soares vai ao encontro da necessidade de ensinar o reconhecimento das espécies, já que os povos tradicionais utilizam o cipó-titica. De acordo com as experiências vistas no manejo da planta, a pesquisadora revela que a pesquisa também oferece o ensinamento na hora do mateiro retirar a raiz.
“Pendurados cerca de quinze metros de altura, para retirar o cipó, os mateiros não se preocupavam em saber se estavam arrancando plantas novas, flores ou folhas. O estudo vai ajudar os povos que a utilizam a reconhecerem a planta ainda no seu estado juvenil e a usarem de forma consciente”, explica Maria de Lourdes.
Fonte:
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
06/02/2014 15:41
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