Pesquisa da Unicamp cria tecido que reduz casos de infecção hospitalar
Material poderá ser usado na confecção de uniformes de médicos e enfermeiros, nas roupas dos pacientes e nas camas
A tecnologia acaba de dar mais um passo para reduzir os efeitos da infecção hospitalar. Trata-se do tecido impregnado com nanopartículas de prata, com propriedade bactericida, desenvolvido no Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp). O produto deverá ser utilizado na confecção de jalecos e uniformes para médicos e enfermeiros, bem como roupas dos pacientes e das camas, como lençóis e fronhas. A prata penetra na célula e mata a bactéria.
O professor e pesquisador Owaldo Luiz Alves, do Laboratório de Química do Estado Sólido, do IQ, coordenador dos estudos, explica que as partículas de prata têm de três a quatro nanômetros de tamanho. Cada nano é 70 mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. A utilização de materiais nestas dimensões é chamada de nanotecnologia, um ramo novo da ciência que se desenvolve rapidamente.
O tecido com partículas de prata deverá ser usado também para fabricação de gaze, material que por estar em contato com feridas é constantemente contaminado por microorganismos. O professor Oswaldo assegura que foram feitos vários testes de laboratório para comprovar a ação bactericida do tecido impregnado de nanopartículas de prata.
Ele contou com a ajuda do pesquisador Nelson Duran, que também trabalha na Universidade de Mogi das Cruzes, parceira nas pesquisas das nanopartículas de prata. Duran observa que as principais bactérias encontradas em ambiente hospitalar (Escherichia coli e Staphylococcus aureus) não resistiram ao tecido impregnado de partículas de prata.
Duran exemplifica que outra utilização do tecido será na confecção de meias para diabéticos, os quais costumam sofrer com feridas nos pés. “Essa peça já existe nos Estados Unidos, porém é feita com prata obtida por método químico, diferente da técnica que nós desenvolvemos, a partir de fungos.”
Para chegar às partículas, o professor Oswaldo e sua equipe utilizaram o fungo Fusarium oxysporum em solução de nitrato de prata (AgNO3). Nesse ambiente ocorre uma reação química (a oxi-redução) que produz a prata em estado metálico. “Trata-se de método bioquímico, diferente dos demais”, diz Oswaldo. O Fusarium utilizado nas pesquisas foi cedido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba.
Ação bactericida – Eufórico pelo êxito científico, o professor da Unicamp ressalta a repercussão obtida pela publicação da pesquisa no Journal of Nanobiotechnology, no ano passado. “Está entre os 10 artigos mais lidos no site da publicação, com 9,5 mil acessos”, diz. Tudo isso porque eles descobriram o mecanismo biológico de como o fungo age na formação de nanopartículas de prata.
A possibilidade de aplicação desse metal como bactericida já era conhecida pela comunidade científica. No entanto, ressalva o pesquisador, utilizava-se a prata obtida pelo método tradicional, em que as partículas apresentavam tamanho e forma variados. “Em nosso processo bioquímico, as nanopartículas são uniformes”.
Outra vantagem desta técnica em relação às demais, assegura o professor Oswaldo, é que as partículas de prata são envoltas por camada de proteína. Este material adere com firmeza as nanopartículas na trama do tecido, o que aumenta a vida útil do produto. Pelo outro método, o tecido perde prata a cada lavada.
A técnica, já patenteada, se encontra atualmente sob os cuidados da Agência de Inovação da Unicamp, à espera de empresas do setor privado interessadas. Nesses casos, realizam-se licitações para escolher quem levará à frente a pesquisa, já em processo produtivo.
Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial
11/06/2007
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