Pesquisa da Unicamp mostra como os computadores influenciaram a música
Trabalho nasceu no fim da década de 90 e envolveu diversas instituições e pesquisadores
O computador modificou a música de forma profunda e definitiva, seja como ferramenta para composição, para tratamento de material sonoro, para aprimoramento de técnicas instrumentais tradicionais ou simplesmente como instrumento musical. O estudo dessa transformação foi o eixo central de um projeto de pesquisa recém-concluído que envolveu diversas instituições e gerou amplos resultados no campo da criação musical e mais de 20 teses, dissertações e trabalhos de iniciação científica, além de publicações, concertos, palestras, workshops e interação internacional.
O projeto temático O Espaço de Composição e Performance Musical: Computador e Ambiente Acústico, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi coordenado pelo professor e compositor Silvio Ferraz Mello Filho, do Departamento de Música da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
De acordo com Ferraz, desde o fim da década de 1960 previa-se que o computador seria de grande utilidade para os músicos. Atualmente, a relação entre a máquina e música se tornou uma realidade incontornável. “Observando o desenvolvimento da música eletroacústica e eletrônica, depois da popularização do computador, verificamos que ele se tornou um instrumento quase obrigatório. E não se trata apenas de fazer partituras no equipamento. O músico trabalha de fato com linguagem de programação”, assegura.
O trabalho nasceu no fim da década de 1990, a partir de um projeto do Programa Jovem Pesquisador desenvolvido na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Ali, trabalhando com o professor Fernando Iazetta, que hoje atua na Universidade de São Paulo-USP, Mello iniciou pesquisas que relacionavam música e tecnologia usando dois laptops em diversos concertos.
“Concebemos o temático com o objetivo de atualizar os estudantes da Unicamp em relação aos novos softwares de performance musical, permitindo que pudessem desenvolver estudos nesse campo, tanto na criação musical como na criação de aplicativos, isto é, de instrumentos digitais”, explica.
Adequação acústica – Além de abordar o uso do computador para composição e execução, o projeto se dedicou a estudar o que a presença da máquina teria alterado na concepção da música acústica, escrita em partitura. O estudo verificou que a alteração foi radical, porque o computador agiliza cálculos e facilita a análise de sons.
Além dessas vertentes, uma linha desenvolvida pela professora Denise Garcia, também da Unicamp, aprofundou-se em estudo ligado à história da música eletrônica e eletroacústica no Brasil.
“Envolvemos pesquisadores de todos os níveis da pós-graduação de diversas áreas de graduação, e com bolsas de iniciação científica. Acabamos tendo intensa atividade de graduação dentro do projeto. Promovemos intercâmbio com outros centros de pesquisas brasileiros e internacionais”, conta Ferraz.
“No espaço estrito do temático, um dos principais resultados foi uma patente do professor José Augusto Mannis, que desenvolveu sistema de adequação acústica para ambientes de performance musical. O primeiro protótipo dessa patente foi a sala do laboratório em que instalamos o projeto”, recorda Mello.
Experimental – Atualmente, Mannis, também da Unicamp, trabalha no projeto de adequação do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em parceria com uma equipe de arquitetura.
“Tivemos bons resultados no campo da criação musical: concertos, palestras, workshops, participação em encontros internacionais e nacionais, como o Festival de Música Nova e a Bienal Brasileira de Música Contemporânea”, diz Sílvio Ferraz.
O projeto resultou em diversos concertos com o uso de computador como instrumento musical. “Temos na Unicamp um grupo bem grande de estudantes que utiliza o computador como ferramenta de análise musical, criação musical e performance, com softwares de última geração”, afirma.
As modalidades musicais são muito variadas: desde instalações sonoras desenvolvidas por Mannis, que também é compositor, até a composição escrita erudita com cálculos feitas no computador, pelo grupo de Ferraz e pelo professor Jônatas Manzolli, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora na Unicamp.
Atualmente, o grupo reunido em torno do projeto trabalha em tentativa de desdobramento dos estudos. “Queremos utilizar a máquina para ampliar algumas técnicas utilizadas em instrumentos como violino, clarinete e flauta, sempre com o propósito composicional experimental. Mesmo que acabemos fazendo instalações sonoras, com um efeito mais próximo da música popular, o objetivo é um resultado experimental”, destaca.
Da Agência Fapesp
(M.C.)
07/09/2008
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