Pesquisa mostra que aspecto político dominou notícias sobre Código Florestal na Câmara



A imprensa deu maior atenção à disputa política do que à questão ambiental durante a votação do projeto de reforma do Código Florestal na Câmara. Essa é a conclusão de pesquisa realizada pela organização Andi - Comunicações e Direitos, cujos resultados foram apresentados nesta sexta-feira (18) por Geraldinho Vieira, membro do conselho da entidade, em workshop para jornalistas realizado em parceria com a Secretaria Especial de Comunicação do Senado (Secs).

- Foi uma cobertura que ficou o tempo inteiro sob a névoa do que a gente chama de ambiente político. A política pública em questão ficou sempre em segundo plano - relatou Vieira.

Como exemplo dos embates que dominaram a cobertura, ele citou a troca de acusações entre partidos e as manobras da base aliada do governo durante a fase de votação da matéria. A Câmara aprovou o texto do relatório do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no dia 24 de maio.

Na pesquisa, foram analisadas 973 matérias publicadas entre 1º de abril e 15 de junho de 2011, principal momento da tramitação do projeto (PL 1.876/1999, na Câmara, e PL 30/2011, no Senado). Foram considerados 17 grandes jornais do país, sendo que cerca de 50% das matérias analisadas foram publicadas em cinco jornais: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico e Correio Braziliense.

Na conclusão, a pesquisa mostra que o ambiente político ocupou, como tema principal, 60% de todos os textos analisados. Na semana da votação, a disputa política ficou ainda mais em evidência, predominando em 68% das matérias.

Esse resultado, na avaliação de Geraldinho Vieira, não indica que houve necessariamente excesso de matérias sobre aspectos da tramitação do projeto no Congresso. Para ele, em termos editoriais, o que faltou foi levar para o primeiro plano as matérias que discutiam as mudanças na lei florestal.

A pesquisa revela ainda, conforme Vieira, que a cobertura jornalística apresentou equilíbrio na escolha das fontes, dando visibilidade para opiniões distintas, mostrando ainda boa contextualização e profundidade das informações divulgadas.

Contribuições

Convidado a participar do debate nesta sexta-feira, o consultor Tasso Azevedo disse considerar que a reforma da lei florestal em curso foi motivada pela insatisfação de cadeias produtivas do agronegócio com o Decreto 6.514/2008, que estabeleceu penalidades pelo descumprimento de leis ambientais.

Por conta dessa reação, observou, o texto aprovado na Câmara estabelece que serão regularizadas as atividades agropecuárias consolidadas em áreas protegidas até a data de publicação do decreto (22 de julho de 2008).

Para o especialista, a discussão em torno da reforma do Código Florestal tem se baseado em falsas premissas, como a que afirma ter o Brasil leis ambientais mais restritivas que os demais países, os quais teriam menores áreas com cobertura florestal.

- O Japão, por exemplo, tem 67% de cobertura florestal e o Brasil têm 56%. No pós-guerra, o Japão tinha 29% de cobertura florestal e, no mesmo período em que triplicou a produção de alimentos e se tornou a segunda maior economia do mundo, chegou a 67% de cobertura florestal. Mesmo países emergentes, como China e Índia, têm legislações de florestas mais radicais - disse.

Regularização

Também presente ao debate, Gerd Spavorek, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), apresentou sugestões para aperfeiçoamento do projeto do novo Código Florestal. O pesquisador considera que o texto deve ser mudado para distinguir situações de consolidação do uso em área de preservação com situações de regularização.

- Consolidar significaria apenas que [o produtor rural] está seguro juridicamente. Se ele terá que mudar o uso, se é regular ou não, isso seria decidido num segundo momento, no PRA [Programa de Regularização Ambiental] - sugeriu.

Spavorek também recomendou que o Cadastro Ambiental Rural (CAR) seja inicialmente declaratório, de curto prazo. Conforme explicou, a forma como o cadastro está previsto no projeto requer a realização de um mapeamento exaustivo da propriedade, o que pode levar muito tempo.

- Num primeiro momento, seria feito um cadastro declaratório, usando ferramenta de web, como Google Earth, que o produtor edita ele mesmo e declara. Num segundo momento, ele apresentaria a documentação completa - opinou.

Convidado a abrir o debate, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) ressaltou a importância das contribuições dos cientistas, lembrando as diversas audiências públicas realizadas no Senado. Conforme observou, os senadores têm buscado retirar o "clima de embate" que marcou a votação da matéria na Câmara e construir um texto que seja uma média da representação da sociedade no Congresso Nacional.

O relatório do senador Jorge Viana (PT-AC) ao projeto de reforma do código deve ser lido na Comissão de Meio Ambiente (CMA), presidida por Rollemberg, na segunda-feira (21). A votação na comissão está prevista para quarta (23).



18/11/2011

Agência Senado


Artigos Relacionados


Decisão sobre lei da Copa na Câmara está atrelada ao Código Florestal

Sarney diz ainda acreditar em acordo sobre Código Florestal na Câmara

Portal de notícias sobre pesquisa e desenvolvimento tem novo layout

Senado mostra cautela ao modificar novo Código Florestal

Ana Amélia comemora aprovação de Código Florestal na Câmara

Câmara conclui votação do novo Código Florestal