Pesquisa vai avaliar impacto da indústria sucroalcooleira sobre os recursos hídricos



Estudo faz parte do Projeto de Pesquisas Ambientais, um dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos do Governo do Estado

A indústria sucroalcooleira vem apresentando crescimento expressivo, com a multiplicação das usinas em funcionamento no Estado, que passaram de 70 para cerca de 160 em um espaço de tempo relativamente curto. Com base nas estimativas de produção, este ano o setor vai gerar 120 bilhões de litros de vinhaça, como subproduto da produção de 11 bilhões de litros do álcool.

A ampliação do cultivo da cana em todo o Estado e o crescimento da produção do setor motivaram o desenvolvimento do trabalho coordenado pelo Projeto de Pesquisas Ambientais, que visa a avaliação dos impactos da atividade sucroalcooleira sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, apresentado na segunda reunião do Conselho Científico, integrado por pesquisadores das instituições vinculadas à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e de outras entidades de pesquisa que têm interface com as questões ambientais.

Presente à reunião, o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano fez uma estimativa rápida, com base na exposição de Dorothy Casarini, gerente da Divisão de Qualidade de Solo, Água Subterrânea e Vegetação da CETESB, indicando que a proporção da geração de vinhaça em relação à cana equivale a 300 ml por m2, o que ele considerou como uma situação ainda confortável para a sua utilização como fertilizante na própria lavoura.

O secretário do Meio Ambiente destacou, porém, que o trabalho pode contribuir para as políticas públicas que tenham como objetivo reduzir o impacto ambiental das atividades produtivas da indústria de açúcar e álcool. Ele lembrou dos outros projetos que envolvem o setor sucroalcooleiro, como o Etanol Verde e o Projeto de Recuperação das Matas Ciliares, sugerindo que os efeitos da revegetação das margens dos corpos de água nas áreas canavieiras também sejam avaliados pela pesquisa, verificando se contribuem para a qualidade dos recursos hídricos.

Segundo Vera Bonomi, coordenadora do Projeto de Pesquisas Ambientais, o estudo é um projeto conjunto do Instituto de Botânica, Instituto Geológico e CETESB, vinculados à SMA, além do Instituto de Pesca e o Instituto de Geociências da USP, e está aberto a contribuições de outras entidades interessadas em ampliar os conhecimentos sobre os impactos ainda não conhecidos da indústria sucroalcooleira.

A reunião contou também com a exposição de Dácio Matheus, diretor do Jardim Botânico, que apresentou os objetivos do projeto de pesquisa, e de Roberta Buendia, da Assessoria do Gabinete da Secretaria do Meio Ambiente, que fez um balanço dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos.

Dados Apresentados

Ao fazer a apresentação dos dados relativos aos impactos já conhecidos e os procedimentos que o estudo pretende implementar nos próximos 3 anos, Dorothy Casarini destacou que a tarefa dos órgãos ambientais é permitir que a atividade produtiva ocorra sem causar impacto ambiental, reconhecendo que até agora não se tem o controle do que está atingindo as águas subterrâneas e superficiais e é isso que o projeto pretende equacionar.

Além do uso da vinhaça sem controle adequado, a gerente da CETESB listou como fontes de poluição do solo e águas o manuseio e uso inadequado de agrotóxicos, o armazenamento e disposição inadequados dos efluentes líquidos e dos resíduos sólidos. Dorothy detalhou os tipos de efluentes líquidos gerados no processo produtivo da indústria sucroalcooleira, origem, composição e destinação final, fazendo também uma retrospectiva histórica do tratamento dado aos resíduos de produção.

Segundo ela, na década de 70 o principal destino da vinhaça era o lançamento “in natura” em corpos d’água, causando a mortandade de peixes. Em razão desse impacto mais visível, a disposição passou a ser efetuada no solo, em muitos casos sem critérios definidos, prática que passou a ser questionada a partir de estudos realizados na década seguinte, comprovando os impactos na qualidade do solo e das águas subterrâneas. As mesmas pesquisas indicaram, porém, que a vinhaça possui benefícios agronômicos e econômicos, o que resultou no interesse em efetuar a sua aplicação, com base em critérios de fertilidade e do custo do transporte.

Entre os desafios a serem enfrentados, Dorothy incluiu a necessidade de se rever o controle dos resíduos sólidos e líquidos, estabelecer a caracterização química desses resíduos e levantar as informações sobre os efeitos de sua disposição na qualidade das águas, diante do crescimento da produção do açúcar e do álcool, assim como da área plantada.

Dácio Matheus, do Jardim Botânico, informou que a Bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí foi escolhida como a área para a implementação do projeto. Ao explicar os procedimentos que deverão ser adotados na avaliação do impacto da atividade sucroalcooleira nos recursos hídricos, destacou a necessidade de padronizar as metodologias analíticas e de integrar os dados de monitoramento de qualidade das águas, realizados por diferentes instituições.

Segundo o diretor do Jardim Botânico, a padronização deve ser realizada ainda este ano, quando também serão estabelecidas as áreas e pontos para coletas de amostras de indicadores do impacto, realizados os levantamentos do uso e destino de agroquímicos na região escolhida, assim como a instalação de poços de monitoramento em área com cultivo de cana e em área ainda não plantada. A coleta de amostras e a realização das análises continuam em 2009 e a previsão é que a avaliação esteja concluída em 2010, quando seus resultados serão publicados e divulgados.

Da Secretaria do Meio Ambiente

C.M.



03/24/2008


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