Pessoas que usam excessivamente fones de ouvido podem sofrer danos auditivos



Médicos consideram esses equipamentos prejudiciais porque descarregam sons de até 120 decibéis diretamente no tímpano

Um dos entretenimentos favoritos dos jovens é ouvir música em modernos aparelhos eletrônicos, como o MP3, sem desconfiar do perigo que correm. “O fone de ouvido tem um tipo de ruído que provoca zumbido, sinal de alerta precoce de perda auditiva, especialmente quando o equipamento é utilizado no volume máximo e em longo tempo de exposição direta no tímpano”, avisa a otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Zumbido é um ritmo acelerado que se manifesta na cabeça ou no ouvido para compensar a perda auditiva. A sensação é de chiado, som de apito ou cigarra. Pode ser contínuo ou intermitente.

O Grupo de Pesquisa em Zumbido do HC constata que quase 35% dos casos de problemas auditivos diagnosticados na unidade relacionam-se a ruído por exposição prolongada a sons potencialmente lesivos. A incidência aumenta gradativamente em crianças e jovens.

“Os mais novos não acreditam que a falta de cuidados com os ouvidos leva a problemas futuros, por isso precisam de muita orientação para mudar a conduta”, salienta a médica. No caso dos adultos, ela diz que aceitam a orientação e previnem-se.Insônia e ansiedade – Os médicos consideram os fones de ouvido prejudiciais à saúde auditiva porque descarregam sons de até 120 decibéis (dB) diretamente no tímpano. Os brinquedos eletrônicos vendidos no comércio chegam a emitir ruídos de 82 dB a 130 dB – intensidades maiores do que as preconizadas para um trabalhador (de 80 dB a 85 dB).

“O uso do fone de ouvido não resulta na perda total da audição, mas a lesão adquirida dificilmente será recuperada”, adverte a médica.

Os dados que seguem na tabela (Recomendação sonora) foram obtidos do Grupo de Pesquisa de Zumbido da FMUSP. Para evitar problemas auditivos, o estudo recomenda o tempo máximo de exposição relacionado (na tabela) de acordo com o nível de ruído.

A médica recomenda que ao primeiro sinal de um zumbido deve-se procurar um otorrino, pois barulho estranho no ouvido pode prejudicar a qualidade de vida das pessoas: provoca alteração emocional, irritabilidade, insônia, falta de concentração, desestabilização do convívio social, agitação, taquicardia e ansiedade.

“Jamais espere deixar de escutar bem para procurar o médico. Nesse momento a pessoa já perdeu bastante a audição, isso é irreversível”, orienta. Aconselha que quanto mais cedo começar o tratamento, melhor será o resultado.Festas barulhentas – Não são apenas os jovens que gostam de se distrair com fone de ouvido que correm perigo. Danceterias, shows e festas de carnaval com trio elétrico são exemplos de ambientes com altos níveis de ruído, prejudiciais ao sistema auditivo.

Quem adora shows e assiste a uma apresentação de banda de rock, por exemplo, receberá nos ouvidos 120 dB. Num aeroporto, em especial na pista de pouso e decolagem, a turbina de avião emite 110 dB. Uma motosserra ligada responde por 100 dB; o cortador de grama, 90 dB.

Veja alguns exemplos de ruídos, cujos níveis de som são considerados toleráveis: cachorro latindo (80 dB), bebê chorando (60 dB), voz cochichada (40 dB) e folhas caindo (10 dB). “As pessoas não precisam parar de se divertir, mas é necessário ter bom senso”, recomenda a otorrino. Ela aconselha usar protetor de ouvido nas festas “barulhentas” e retirar-se desse local, por algum tempo, a cada hora de exposição.

Aos viciados em fones de ouvido sugere evitar contato com o aparelho durante mais de uma hora seguida. Ajuste seu volume na potência média ou um terço do total. Pensando em sua saúde, opte por abolir o volume máximo.

A doutora destaca essas advertências porque 28 milhões de brasileiros sofrem de zumbido nos ouvidos. O mal atinge pessoas de todas as idades, porém é mais freqüente em idosos.

A médica Tanit explica que, além do ruído provocado pela exposição a sons estrondosos, há outros fatores que resultam no zumbido, como envelhecimento natural, labirintite e má alimentação.

Recomendação sonora

Nível de ruído (dB) Tempo máximo de exposição diária permitida

85    8 horas

90    4 horas

95    2 horas

100    1 hora

105    30 minutos

110    15 minutos

(Fonte: Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP)

Doença tem tratamento

O Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP foi criado em 1994 para investigar as principais causas do zumbido e propor tratamento específico. O serviço é pioneiro no Brasil e foi idealizado pela otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez.

Antes disso, “poucos profissionais se sentiam à vontade para falar sobre zumbido, pois na época eram bastante comuns as idéias do tipo ‘zumbido não tem cura’, ‘não há nada que possa ser feito para ajudar’ e ‘não adianta investir no tratamento de zumbido’”, relembra.

Por esse motivo, a médica iniciou seus estudos, inclusive no exterior, para desvendar as causas da doença. Descobriu que há várias opções de tratamento, de acordo com a origem do zumbido. Tanit coordena uma equipe de pós-graduandos, médicos, dentistas, fonoaudiólogos e psicólogos que se dedicam à pesquisa dos casos graves de problemas auditivos atendidos no serviço.

Gapz faz palestras grátis sobre zumbido

Em 1999 foi criado o Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido (Gapz), formado por equipe multidisciplinar voluntária liderada pela otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez. O Gapz dissemina conhecimentos sobre zumbido a outros profissionais do País e oferece palestras gratuitas ao público em geral.

A Fundação Otorrinolaringologia atua na cidade de São Paulo, num espaço do HC. Desde 2004, existem unidades do Gapz em Campinas, São José do Rio Preto, Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro. No segundo semestre chegará ao Maranhão.

As reuniões gratuitas de esclarecimento sobre o zumbido, orientações e noções de tratamento são promovidas toda semana, duram 120 minutos e ocorrem de março a dezembro. Na cidade de São Paulo, o público interessado deve reservar sua vaga pelo telefone (11) 3068-9855. Capacidade: 80 vagas semanais.

Desde 2006, 11 de novembro é lembrado como Dia Nacional de Conscientização do Zumbido. Nessa data, sugerida e oficializada pelo Gapz, os voluntários do grupo organizam eventos informativos – teatro, caminhada temática e distribuição de folders.

Em 2006, a atividade ocorreu no Parque do Ibirapuera e, no ano seguinte, no Parque Villa Lobos. Os dois eventos, juntos, reuniram mais de mil pessoas.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)