PFL adota mão-de-ferro para impedir dissidências









PFL adota mão-de-ferro para impedir dissidências
Cúpula quer se prevenir contra tentativas de aliciamento

Numa tentativa de evitar debandada no partido, enquanto mantém ofensiva contra o governo e busca um rumo na sucessão presidencial, a Executiva Nacional do PFL decidiu ontem que os congressistas terão de seguir a orientação do partido ao votar -seja a favor ou contra propostas de interesse do Palácio do Planalto em tramitação no Congresso.

O PFL tem 96 deputados e 17 senadores. Pelo estatuto do partido, quem desobedecer estará sujeito a advertência, suspensão e até expulsão, como afirmou o presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC). "Mas ninguém será expulso, porque todos sabem que, neste momento, o mais importante é a unidade do partido", disse Bornhausen.

A cúpula pefelista quer se prevenir de tentativas de aliciamento do governo e evitar dissidências no partido, favorecidas pela queda de sua pré-candidata à Presidência, a governadora Roseana Sarney (MA), nas pesquisas.

No Congresso, o primeiro teste será a medida provisória que corrigiu a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física em 17,5%. O PFL é a favor da correção, mas quer derrubar a parte da MP que eleva a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de empresas prestadoras de serviço (de 1% de sua receita bruta para quase 3%).
O presidente FHC vetou o projeto de lei aprovado pelo Congresso que se limitava a corrigir a tabela do IR e, em janeiro, baixou uma MP incluindo o aumento da CSLL, como forma de compensar a perda na arrecadação do IR (de cerca de R$ 3,8 bilhões anuais).

A posição do PFL contrária ao aumento da CSLL não é novidade. Assim que a MP foi baixada, PFL e PMDB anunciaram que votariam contra, entendendo que o governo não perderia receita com a correção da tabela do IR, mas deixaria de receber o que arrecadara a mais. A tabela estava congelada desde 1996.

Sucessão
Sem outra alternativa, a cúpula pefelista continua mantendo apoio a Roseana, embora ela tenha caído nas pesquisas de opinião após a Polícia Federal ter encontrado R$ 1,34 milhão na empresa Lunus, de sua propriedade e de seu marido, Jorge Murad.

Mas o partido tem sinalizado que não dará trégua ao pré-candidato tucano à Presidência, senador José Serra (SP).

A Executiva decidiu que os líderes do partido na Câmara e no Senado irão convocar o ministro da Saúde, Barjas Negri, para explicar no Congresso o contrato de R$ 1,87 milhão feito pela pasta -na gestão de Serra- com uma empresa privada para a realização de detecção de escuta telefônica.

Na avaliação dos pefelistas, o afastamento da governadora da disputa presidencial beneficiaria principalmente o tucano, apontado por eles como um dos responsáveis por uma suposta armação para desestabilizar Roseana.
O pai da governadora, senador José Sarney (PMDB-AP), atacou Serra da tribuna do Senado, responsabilizando-o por uma suposta rede montada para espionar e montar dossiês contra seus adversários na corrida sucessória.

Bornhausen afirmou ontem que Roseana tem condições de se recuperar, já que ela se encontra tecnicamente empatada com Serra, de acordo com pesquisas, apesar do "massacre" ao qual foi submetida.


Câmara arquiva investigação contra tucano
A Mesa da Câmara arquivou ontem o pedido de investigação contra o deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ) apresentado pelo líder da bancada do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), e por mais dez deputados pefelistas.

O corregedor da Casa, deputado Barbosa Neto (PMDB-GO), considerou que não havia fato a ser investigado, depois de ouvir o depoimento do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), e do deputado estadual do Rio Sérgio Cabral Filho.

Para entrar com o pedido na corregedoria da Casa, Inocêncio juntou cópias de reportagens publicadas em jornais e revistas que atribuíam a Fortes a elaboração de um dossiê, que teria sido oferecido a Garotinho, contra a governadora do Maranhão e presidenciável pefelista, Roseana Sarney,
"Não há fato concreto. O processo só se justifica se tiver um dossiê e se a pessoa que levou o suposto dossiê for anunciada", disse o corregedor. No depoimento, Garotinho não disse o nome da pessoa que o procurou para lhe oferecer o dossiê.

O deputado Márcio Fortes afirmou que se julga "justiçado" pela Câmara pelo fato de a Casa ter arquivado a representação contra ele. O deputado, que é secretário-geral do PSDB, sempre negou a autoria do dossiê.
Em seu discurso no Senado anteontem, José Sarney (PMDB-AP) revelou trechos de conversas que manteve com o general Alberto Cardoso, que, segundo ele, teria admitido poder ""ser possível" que Fortes tivesse contratado agentes do ex-SNI para fazer uma devassa na vida de Roseana.

Além do pedido contra Fortes, a Mesa da Câmara arquivou outros dez processos contra deputados que estavam na corregedoria.


Viagem põe CPMF em segundo plano
Em plena votação da emenda que prorroga a cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), um grupo de 11 deputados deixou o plenário da Câmara para uma viagem ao continente africano, paga com dinheiro público.

Cem deputados estavam ausentes anteontem à noite na segunda votação de dispositivos da emenda da CPMF -em uma quarta-feira, dia que tradicionalmente tem quórum mais elevado.

Em conversa com o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e o ministro Arthur Virgílio (Secretaria Geral), o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a fazer uma cobrança dura a respeito do que chamou de "bobeada" na votação.

A viagem e a antecipação da campanha eleitoral foram apontadas por líderes governistas como as vilãs do atraso na conclusão do segundo turno de votação da CPMF na Câmara.

Por falta de governistas no plenário, a votação teve de ser suspensa anteontem à noite e deverá ser retomada apenas na segunda semana de abril.

Nas próximas duas semanas, a Câmara terá de votar 11 medidas provisórias. Só depois dessas votações poderá retomar o segundo turno da emenda que prorroga a cobrança da CPMF. Ainda faltam duas votações para a conclusão do segundo turno na Câmara.

"É injustificável cem deputados não estarem presentes à votação", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).

A missão tem como destino o Marrocos e saiu de Brasília no final da tarde de anteontem, para participar de conferência da União Interparlamentar, que reúne congressistas de vários países.

As despesas são custeadas com dinheiro orçamentário destinado ao Grupo Brasileiro da União Interparlamentar. No Orçamento de 2002 há R$ 743,5 mil para a entidade, sendo que R$ 300 mil se destinam às despesas com a participação de congressistas na conferência em Marrakech (Marrocos).

Integram a missão os deputados Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), líder do partido, Efraim Moraes (PFL-PB), vice-presidente da Câmara, Robson Tuma (PFL-SP), Ana Catarina Alves (PMDB-RN), Leur Lomanto (PMDB-BA), Benito Gama (PMDB-BA), Zé Gomes da Rocha (PMDB-GO), Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP), João Almeida (PSDB-BA), José Thomaz Nonô (PFL-AL) e Cunha Bueno (PPB-SP).

"Deputado 24 horas"
Aécio afirmou que a viagem não é responsabilidade da Casa, mas da União Interparlamentar. Ainda assim, disse que tomará "medidas duras" para garantir a presença de deputados em Brasília e concluir a votação da CPMF.

Segundo líderes partidários, neste ano está surgindo a figura do "deputado 24 horas". Ou seja, aquele que chega a Brasília no final da tarde de terça-feira e volta ao seu Estado na quarta à noite.

O governo avalia que vai perder a próxima semana por causa do feriado de sexta, o que aumenta a previsão de corte no Orçamento para compensar a perda de arrecadação com o atraso.

A previsão do governo é que o atraso na votação da CPMF, que também terá de ser apreciada em dois turnos no Senado, provocará uma perda de arrecadação de pelo menos R$ 1,6 bilhão.

O governo não descarta aumentar outros impostos para compensar a perda de receita. "Infelizmente, se a demora for enorme e o buraco, irreversível, é um caminho [aumentar impostos". Espero que não", afirmou Aécio.


Roseana endossa Murad e ataca "hipocrisia"
"Campanha se faz assim", diz governadora ao justificar que dinheiro da Lunus seria para sua candidatura

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), reafirmou ontem a versão de que o R$ 1,34 milhão apreendido pela Polícia Federal na Lunus era para financiar a campanha de sua candidatura à Presidência e disse considerar "hipócrita" o político que não assume que "campanha se faz é assim", com dinheiro vivo.
"O dinheiro que foi encontrado na firma, na empresa [Lunus", era dinheiro de campanha. Vocês, os políticos que estão aqui, sabem que se faz campanha é assim, sabem que quem está duvidando é hipócrita, todos os políticos vivem dessa hipocrisia", disse em discurso que fez na inauguração de um centro tecnológico em Santa Inês, a 245 km de São Luís.

Sem citar a origem das 26.800 notas de R$ 50 encontradas na empresa -que é de propriedade dela e do marido, Jorge Murad-, Roseana declarou estar tranquila, pois não teria cometido nenhum crime. "Continuem confiando na Roseana, porque sou uma mulher séria", afirmou ao público que se aglomerava no centro para assistir ao seu discurso.

Contradição
A declaração de ontem da governadora contradiz a que ela própria deu no mesmo dia em que os policias cumpriam o mandado de busca e apreensão na Lunus, no último dia 1º. Na ocasião, ela afirmou não ter certeza sobre o montante, mas disse ser normal o fato de haver dinheiro no cofre, já que seria dia de pagamento dos funcionários.

Depois de versões controversas, como a apresentada pelo advogado e por um amigo da família, de que o dinheiro seria fruto da venda de 20 chalés em Barreirinhas, na região dos Lençóis Maranhenses, Murad veio a público no dia 12 afirmar que a quantia seria usada na campanha da governadora, sem, contudo, revelar sua origem (veja quadro ao lado).

Ela evitou, durante a viagem, comentar o discurso de anteontem de seu pai no Senado, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), e pesquisas que indicariam novas quedas suas na preferência do eleitorado.

Roseana cumpriu ontem mais um dia do que chama de "governo itinerante", ou seja, visita e acompanhamento em obras do interior. Além do centro de ensino tecnológico em Santa Inês, ela esteve em Igarapé do Meio (a 20 km de Santa Inês), onde visitou o prédio da prefeitura.

Nas duas cidades, Roseana foi recebida por políticos e moradores locais, incluindo muitas crianças. Na inauguração do centro, chegou a chorar quando um aluno leu uma poesia em sua homenagem. "Os que te perseguem te multiplicarão", foi a estrofe que arrancou algumas lágrimas da governadora.

Nas duas cidades por que passou, a governadora fez questão de reafirmar à população local que não teme investigações, incluindo as do projeto Usimar (aprovado em reunião presidida por ela), porque seu governo teria sido conduzido de forma "limpa".

Destino político
Ela confirmou que se desincompatibiliza do governo no próximo dia 5 e voltou a transferir para a cúpula do PFL a decisão sobre seu destino político, se a candidatura à Presidência ou ao Senado.

Inflada desde agosto como uma das principais concorrentes à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, Roseana teve a candidatura fortemente abalada desde o episódio envolvendo sua empresa, fator que causou o rompimento do PFL com o governo.

Nos discursos, ela deu novas indicações de que, por via das dúvidas, já está tentando consolidar no seu Estado o caminho para tentar uma vaga no Senado.

"Estão tentando macular minha imagem, mas não importa, o que importa é o povo do meu Estado. Meu único erro foi sair do meu Estado e mostrar o meu trabalho (...) tenho certeza de que minhas mãos são limpas", afirmou.

Ela voltou ontem a chamar o grupo do presidente Fernando Henrique Cardoso de "corriola que não quer largar o poder de jeito nenhum". Hoje, Roseana inaugura outro centro tecnológico em Pinheiro (a 340 km de São Luís). O evento pode contar com a presença do senador José Sarney.


Paulo Renato acusa Sarney de mentiroso
Em nota divulgada no final da tarde de ontem, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, disse que "são mentirosas" as afirmações feitas em discurso pelo senador José Sarney (PMDB-AP), segundo as quais ele teria sido vítima de espionagem feita a pedido do Ministério da Saúde.

Ele classificou da mesma maneira as insinuações de que o senador José Serra (SP), pré-candidato do PSDB à Presidência, teria feito um dossiê sobre ele: "Sou amigo de José Serra há 30 anos. Tenho o maior respeito pela sua integridade e sei que ele é incapaz de ações desse tipo".

A amizade entre Paulo Renato e Serra ficou abalada durante a escolha do candidato do PSDB à Presidência: ambos postulavam a indicação. Paulo Renato contava com um trunfo: bom trânsito no PFL, que sempre rejeitou Serra.

Como alternativa, Paulo Renato cogitava disputar o governo do Estado ou uma vaga de senador por São Paulo. O projeto foi por água abaixo quando Serra fechou um acordo com Geraldo Alckmin, pelo qual o governador apoiaria a sua candidatura e receberia o apoio dele no Estado.


Serra acena a Itamar e desagrada a Pimenta
Presidenciável diz que eventual apoio facilitaria aliança com PMDB; ministro é adversário de governador

O pré-candidato do PSDB a presidente, senador José Serra (SP), disse ontem que eventual apoio do governador peemedebista Itamar Franco (MG) facilitaria a aliança do PMDB com o PSDB em torno de sua candidatura.

A aproximação do tucano com Itamar desagradou ao ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, anunciado como futuro coordenador da campanha de Serra e adversário do governador em Minas Gerais.
""O governador Itamar Franco é uma pessoa de peso no PMDB e, sem dúvida, se ele apoiar essa aliança, facilitará que ela venha a ocorrer", disse Serra.

Em rápida passagem pelo Senado ontem, o presidenciável do PSDB confirmou ter conversado com Itamar por telefone, no final da semana passada, mas afirmou não ter visto ""nenhum sinal" de que o governador de Minas tenha decidido apoiá-lo.

Um dos compromissos de Serra em Brasília foi um encontro com Pimenta da Veiga. A Folha apurou que Pimenta manifestou a Serra contrariedade com a tentativa de aproximação com Itamar, alegando que seria uma traição ao ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB), que é pré-candidato ao governo do Estado.

PMDB e PFL
Mesmo após a reunião com Pimenta, o pré-candidato tucano defendeu a aliança com o PMDB. O governador mineiro integra uma ala do PMDB que faz oposição à cúpula do partido, responsável pela articulação da aliança com o PSDB. ""Estamos com muito interesse em uma aliança com o PMDB, inclusive para governar", disse Serra.

O presidenciável tucano também atirou para outro lado, manifestando expectativa em uma reaproximação com o PFL, partido que o tem acusado de envolvimento em suposta armação para desestabilizar a governadora do Maranhão e pré-candidata pefelista, Roseana Sarney.

""A minha posição sempre foi ter uma aliança com o PFL. Ultimamente houve problemas, mas eu espero que essa proximidade reapareça. Face aos últimos acontecimentos, foram criados problemas para essa aproximação. Espero que eles, no futuro, se atenuem e até desapareçam", disse.

Pesquisas
O tucano foi cauteloso ao comentar as últimas pesquisas de opiniã o, que o colocam em segundo lugar nas intenções de voto do eleitorado, dizendo que é prematuro comemorar.

Serra não quis responder aos ataques feitos pelo senador José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana, no dia anterior, da tribuna do Senado. O peemedebista levantou suspeitas de que o tucano estaria por trás de uma operação de investigação e montagem de dossiês contra adversários na disputa presidencial.

Serra chegou ao Senado por volta das 17h30. Ele era aguardado em seu gabinete desde às 15h30 pelo prefeito de João Pessoa, Cícero de Lucena, com quem havia marcado audiência.

Uma hora depois, o presidenciável tucano deixou o Congresso apressado, mas, antes, fez questão de marcar presença no sistema eletrônico do Senado. Serra não participou da sessão plenária, que acontecera pela manhã.


Artigos

Crime por omissão
Clóvis Rossi

MONTERREY (México) - É espantosa a passividade com que a comunidade internacional acompanha o processo de derretimento de um país chamado Argentina.

O mundo mandou cerca de 6.500 representantes para Monterrey para discutir o financiamento do desenvolvimento, mas é incapaz de mover um dedo para ajudar uma Argentina que precisa de algo muito mais urgente e dramático: financiamento para a sobrevivência.

Fiz ontem uma pergunta com esse espírito aos chefões das quatro grandes organizações internacionais (ONU, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio). Todos manifestaram a sua mais profunda simpatia pelo drama do país, mas lavaram as mãos e jogaram a batata quente na panela dos próprios argentinos.

"Sabemos que a situação é muito difícil. Estamos preocupados com a crise social. Mas ninguém tem um remédio rápido para uma situação tão complexa. A verdadeira responsabilidade é dos próprios argentinos", diz, por exemplo, Horst Koeller, diretor- gerente do FMI.

Ora, o Fundo cansou-se de financiar os governos de Carlos Menem e de Fernando de la Rúa, que foram, afinal, os que jogaram a Argentina nessa "situação tão complexa" e nessa "crise social".

Sem o respaldo do FMI (e dos países desenvolvidos) ao modelo cambial que arruinou a Argentina, os próprios argentinos teriam sido obrigados a procurar antes e com menos pressão as respostas que agora não encontram em parte alguma.

O engraçado é que Mike Moore, diretor-geral da OMC, disse em seu discurso na conferência de Monterrey que "a pobreza, em todas as suas formas, é a maior ameaça individual à paz, à democracia, aos direitos humanos e ao ambiente. É uma bomba de tempo contra o coração da liberdade".

Pois bem: a Argentina está produzindo pobreza a cada minuto, não a cada dia, a cada mês ou a cada ano. E os donos do mundo ficam olhando. Dá para levá-los a sério?


Colunistas

PAINEL

Terreno alheio
Além do PTB, o PL é um dos próximos alvos da ofensiva do PSDB de José Serra. O tucanato quer o apoio dos liberais, há meses em negociação com Lula. Objetivo: montar uma ampla frente partidária para tentar vencer no primeiro turno.

Artilharia pesada
Argumentos tucanos para convencer o PL a trocar Lula por Serra: boa parte do PT tem vergonha de se aliar ao partido e será mais fácil reeleger deputados numa ampla coligação. Liberação de emendas, novos cargos e até auxílio oficial à Igreja Universal não estão descartados.

Surpresa geral
No dia 23 de maio, se não ceder realmente aos apelos do governo e do PSDB, o PTB terá completado um ano ao lado de Ciro Gomes. José Carlos Martinez, presidente da sigla, diz que fará uma festa em Brasília com direito a bolo de aniversário.

Mãos à obra
José Sarney mandou traduzir seu discurso para dezenas de línguas. Enviará cópias a todos os membros do Interaction Council, formado por ex-presidentes, com um pedido de fiscalização da eleição brasileira.

Piada maranhense
Tem pai que é cego.

Agenda externa
Mesmo sabendo que sua candidatura presidencial não tem futuro, o PFL insistirá com Roseana para ganhar tempo e manter um certo poder de barganha. A pefelista cumprirá sua parte: na segunda, fará um discurso de candidata em Salvador.

Até ele
ACM ficou contrariado ao descobrir que Roseana não desistiu de ir a Salvador para participar da entrega do prêmio Luís Eduardo Magalhães, na segunda-feira. O pefelista, que deixou o Senado para não ser cassado, teme ser contaminado pelo desgaste da maranhense.

Síndrome de 89
Lula esteve três vezes nos últimos meses com João Roberto Marinho, da Rede Globo. Encontrou-se também com outros empresários de TV. Seu recado: o PT vai reagir sempre que enxergar editorialização na cobertura da campanha eleitoral.

Observador celestial
A Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB preparou uma cartilha eleitoral com 1 milhão de exemplares. No verso, há a "Oração do Eleitor": "Senhor, iluminai-nos na hora de votar. Não deixe o nosso coração se enganar por falsas promessas nem por anúncios bem feitos".

Papel passado
Roberto Freire apresentará amanhã no congresso do PPS em Niterói um documento sobre política de alianças pelo qual, se aprovado, ficará descartada formalmente a hipótese de Ciro receber o apoio do PFL.

Defesa prévia
Como vacina a possíveis investigações e denúncias da equipe da vice Benedita da Silva (PT), ao deixar o governo do Rio, Garotinho (PSB-RJ) vai apresentar uma auditoria da empresa Ernest & Young.

Matemática bilionária
O principal número da auditoria, feita por encomenda de Garotinho, diz respeito ao caixa. O relatório apontará que, sem contar o pagamento da dívida estadual, o Rio tem um superávit de R$ 1,097 bi. Petistas dizem que o governador deixará rombo de valor próximo a esse.

Agradecimento em voto
Paulo Delgado (MG) teve 22 votos para presidente nas prévias do PT. Todos em uma urna que ficava próxima ao Hospital Psiquiátrico Anchieta, em São Vicente (SP). Ele é o autor da lei que aboliu os manicômios.

Memória do Senado
O procurador Luiz Francisco deve escapar da acusação de ter divulgado a conversa com ACM sobre o caso do painel. A sessão no TRF que analisa a denúncia foi suspensa ontem com o placar de seis votos a um. Mais dois (dos oito restantes) o absolvem.

TIROTEIO

De João Herrmann (PPS), sobre as pré-candidaturas Lula (PT) e José Serra (PSDB):
- Um é o incapaz. O outro, o capaz de tudo.

CONTRAPONTO

Pecado da sinceridade
Prefeito entre 1996 e 2000 de Paulista (PE), uma das maiores cidades da Grande Recife, Geraldo Pinho Alves despachava pelo menos três vezes por semana no gabinete de algum de seus secretários.
Certo dia, o prefeito foi ao gabinete da Secretaria da Administração para uma reunião de trabalho.
Antes de entrar, Pinho Alves pediu à secretária:
- Se ligarem para mim, diga que não estou. Não quero atender a ninguém.
A secretária retrucou:
- Não vou fazer isso, eu não posso mentir.
- Mas por que você não pode mentir? - quis saber o prefeito.
- Sou crente.
Irritado, Pinho virou-se para o secretário e deu uma ordem:
- Demita essa menina imediatamente e contrate alguém, não importa a religião, que saiba mentir!


Editorial

O ATAQUE E AS PROVAS

O discurso proferido da tribuna do Senado por José Sarney (PMDB-AP) não surpreendeu. A peça retórica se manteve coerente com a linha de defesa escolhida pelo grupo da governadora do Maranhão desde o momento em que a Polícia Federal executou mandado de busca e apreensão na empresa Lunus. A estratégia consiste em tentar convencer o público de que os acusados foram, na verdade, vítimas de conspiração. A tática é perfeitamente válida. Mas, para que cumpra o seu objetivo, precisa satisfazer alguns requisitos.

O primeiro, em ordem de importância, é oferecer uma versão não comprometedora sobre o fato que gerou a suspeição. O que sustentou a expedição do mandado de busca apreensão foram suspeitas de envolvimento da empresa de Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad, em fraudes na Sudam. Mas o assunto não é o que mais desperta interesse neste momento. Fica em segundo plano diante da necessidade de explicar as 26.800 notas de R$ 50 com que a PF deparou na Lunus.

O pronunciamento do senador Sarney acolhe a explicação dada por Murad. O marido de Roseana assumiu a responsabilidade pelo R$ 1,34 milhão alegando que o montante resultaria de recolhimento antecipado de fundos de campanha. Trata-se da confissão de um delito eleitoral e do reconhecimento de que as versões anteriores não eram para valer.

Sem desvencilhar-se da nódoa de ilegalidade acerca do dinheiro que estava na Lunus, a estratégia política dos Sarney fica bastante comprometida. Podem, no máximo, tentar "empatar o jogo". Para tanto, precisam convencer o público de que, se o que foi encontrado na empresa não é abonador, há vícios graves nas circunstâncias que envolveram a operação policial. Esse foi o mote do discurso do ex-presidente Sarney.
Foram graves os ataques contra FHC, o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e o pré-candidato José Serra. Mas Sarney não logrou sustentar suas acusações com provas ou com indícios cuja contundência se assemelhasse à imagem das notas de dinheiro sobre a mesa. Para surtir algum resultado político, a estratégia de defesa dos Sarney depende, portanto, de que surja um fato novo.


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03/22/2002


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