Política externa de novo governo une pragmatismo e idealismo, avalia Patriota
Os primeiros 100 dias da política externa da presidente Dilma Rousseff foram marcados pela combinação de uma construção "pragmática" de parcerias para o desenvolvimento com uma busca mais "idealista" por avanços sociais. A avaliação foi apresentada nesta quarta-feira (26) à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) pelo ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
Segundo o ministro, Dilma demonstrou seu estilo ao buscar "resultados concretos" em setores nos quais o Brasil precisa estabelecer parcerias para alcançar o que chamou de "próximo estágio de desenvolvimento". Em encontros com os presidentes dos Estados Unidos e da China, Barack Obama e Hu Jintao, Dilma deu ênfase ao comércio e a investimentos em inovação, ciência e tecnologia, exemplificou Patriota.
Por outro lado, observou, a presidente demonstrou, em seus primeiros dias, uma preocupação "mais idealista com a qualidade e o tipo de sociedade que queremos construir". Nesse sentido, recordou o ministro, houve forte ênfase nos primeiros dias do novo governo brasileiro em temas como o combate à fome e à pobreza, a promoção dos direitos humanos e as questões de gênero. Além disso, ressaltou, o governo brasileiro demonstrou atenção aos países com economias menos desenvolvidas.
- Não queremos um mundo que ignore a situação de economias mais vulneráveis. O mundo multipolar que queremos ver emergir só será possível com atenção ao que chamamos de G-172, formado pelos países da ONU que não participam do G-20 - disse Patriota durante a reunião, presidida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL).
Em seu balanço, Patriota ressaltou o "alcance global" da diplomacia brasileira, com o estabelecimento de relações diplomáticas com todos os países do mundo. Mas lembrou a prioridade da relação com os países sul-americanos, a começar pela Argentina, primeiro país visitado por Dilma como presidente. Ele ressaltou ainda a celebração dos 20 anos do Mercosul e a qualidade do comércio com os países do bloco, para os quais o Brasil exporta produtos de alto valor agregado.
Rio+20
Na audiência, o ministro das Relações Exteriores previu que a conferência Rio+20, marcada para 2012, será provavelmente a maior conferência internacional dos quatro anos de mandato de Dilma. Ele observou, porém, que o governo brasileiro não quer ver a defesa do meio ambiente como "pretexto para protecionismo ou entraves ao comércio". Se o conceito de economia verde, a ser discutido na conferência, tiver de emergir como tema universal, alertou, cada país terá que se sentir beneficiado.
- Tem que ser economia verde com combate à pobreza e inclusão social. O Brasil está posicionado como poucos para assumir a liderança desse debate, com seu modelo de crescimento com a matriz energética mais limpa do mundo e progressos em relação ao desmatamento e redução da pobreza. Será uma grande oportunidade para o Brasil demonstrar o que tem conseguido realizar e trabalhar para que objetivos ambientais se sobreponham a clivagens Norte-Sul e sejam globalmente compartilhados - previu o ministro.
Haiti
Primeiro a comentar o pronunciamento de Patriota, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) apresentou sua preocupação com a possibilidade de uma "entrada em massa" de refugiados do Haiti em estados da Amazônia brasileira. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu diálogo permanente sobre os novos rumos da política externa. Por sua vez, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e João Pedro (PT-AM) defenderam a expansão do Mercosul em direção ao norte da América do Sul.
O senador Luiz Henrique (PMDB-SC) lembrou que a África foi "objeto de cobiça" do império inglês e questionou se não haveria reflexo de antigos ressentimentos nas atuais revoltas no Norte do continente. Por sua vez, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) manifestou preocupação com os objetivos do recente acordo comercial entre Colômbia, Chile, Peru e México.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ressaltou as recentes mudanças políticas e econômicas implantadas pelo governo cubano e ouviu do ministro que ainda não há planos para uma viagem de Dilma a Havana. Ao comentar a crise no mundo árabe, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ressaltou o papel dos novos meios de comunicação na organização dos movimentos políticos da região.
O senador Cyro Miranda (PSDB-GO) manifestou sua preocupação com a repatriação de brasileiros que se encontrem em países da região com grande instabilidade política. Por sua vez, o senador Paulo Bauer (PSDB-SC) questionou a criação de novas representações diplomáticas do Brasil em países onde tem havido até diminuição do fluxo de comércio.
Para ver a íntegra do que foi discutido na comissão, clique aqui.
27/04/2011
Agência Senado
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