Prefeito de Palmas na CPI do Cachoeira: ‘Infelizmente fui gravado’
Flagrado em um vídeo negociando com Carlinhos Cachoeira apoio financeiro para a campanha da prefeitura de Palmas em 2004, o prefeito da capital de Tocantins, Raul Filho (PT), reconheceu a existência da conversa, mas negou qualquer relação com o empresário, preso desde fevereiro pela Polícia Federal, acusado de comandar uma organização criminosa responsável pela exploração de jogos ilegais, tráfico de influência e fraudes em licitações públicas.
Em depoimento nesta terça-feira (10) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações de Cachoeira com agentes públicos e privados, Raul Filho disse não ter recebido qualquer doação do empresário para campanha política, mas admitiu ter errado ao procurá-lo e considerou que teve a “infelicidade” de ter sido filmado. A afirmação do prefeito provocou a reação imediata de alguns parlamentares.
- Infelicidade sua e felicidade da sociedade brasileira – respondeu o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Terceiro chefe de Executivo a depor na CPI – os dois primeiros foram Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal – Raul Filho disse ter se encontrado com Cachoeira em 2004 por intermédio de seu amigo e colaborador Silvio Roberto, que lhe informou que ambos iriam a Anápolis para encontrar com um empresário para conseguir recursos para a campanha eleitoral do PT.
– Naquela época eu era apenas candidato. Só soube que esse empresário era Carlinhos Cachoeira no carro a caminho de Anápolis e, honestamente, não me lembro em que setor ele atuava – afirmou.
O desconhecimento gerou desconfiança de alguns integrantes da CPI.
– O senhor vai se encontrar com alguém que vai financiar sua campanha e sequer procura saber qual o ramo de atuação desta pessoa? Sinceramente, é muito descuido – questionou Randolfe Rodrigues.
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) não poupou críticas ao prefeito e ressaltou um trecho do vídeo em que Raul Filho aparece dizendo a Cachoeira ter um “projeto de poder” e que Palmas seria apenas um estágio. Segundo Kátia Abreu, tal frase foi a que mais indignou o povo de Palmas.
– Quando eu disse estágio, estava me referindo à ascensão política, para galgar outros postos. Foi no melhor sentido da palavra, e a cidade não se ofendeu por isso – justificou o prefeito.
Raul Filho negou também que Cachoeira tivesse pago um show do cantor Amado Batista para sua campanha. Segundo ele, a atração custou R$ 30 mil e foi paga por uma empresa de Araguaína, de cujo nome não se lembra.
– Mas posso garantir que a empresa não tem qualquer relação com o esquema de Cachoeira – afirmou.
Delta
Questionamentos em relação ao trabalho da construtora Delta para a prefeitura de Palmas tomaram boa parte da reunião. A Delta é apontada pela Polícia Federal como participante do esquema de Cachoeira, para o qual transferiria recursos, por meio de empresas fantasmas. De acordo com a imprensa, o governo do prefeito petista firmou contratos sem licitação com a Delta, em valor total superior a R$ 100 milhões.
Raul Filho informou que a administração municipal fez seis contratos com empresa, para recolhimento de lixo, varredura das ruas e outros serviços na área de limpeza urbana, sendo que quatro desses termos foram sem licitação para serviços emergenciais.
– A Delta só começou a fazer serviços de limpeza um ano e dois meses após início do meu governo e por vencer licitação. Como é comum em licitação de grande porte, questionamentos surgiram, mas todos foram superados. Procurei evitar dispensas de licitação no meu governo. Somente houve dispensa quando não havia alternativa. Quem é gestor sabe que isso às vezes acontece – afirmou.
Deputada estadual
O prefeito também respondeu denúncia da Polícia Federal de que R$ 120 mil haviam sido depositados na conta de uma assessora da deputada estadual Solange Duailibe (PT) por Cláudio Abreu, diretor regional da Delta na região Centro-Oeste. Solange é mulher de Raul Filho.
Segundo o prefeito, o valor referia-se a uma venda de uma máquina a uma empresa por parte de Pedro Duailibe, irmão e ex-chefe de gabinete da deputada, que, por responder a um processo, não pode ter conta bancária.
– Por que o pagamento foi feito por Cláudio Abreu, isso só o Pedro poderia responder – resumiu.
Cronograma
A reunião desta terça-feira foi a última destinada a depoimentos neste primeiro semestre. Nesta quarta-feira (11) a CPI não se reunirá, por ser o dia da votação do pedido de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) pelo Plenário do Senado. Acusado de ligações com Cachoeira, Demóstenes responde a processo disciplinar.
Com isso, ficarão para depois do recesso parlamentar, que começa na próxima semana, os depoimentos do dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
10/07/2012
Agência Senado
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