Presidente do Flamengo fala e não convence, garante o senador Althoff



Uma gestão temerária com indícios de evasão de divisas e sonegação fiscal. Foi como o relator da CPI do Futebol, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), classificou a administração do atual presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, que depôs nesta terça-feira (30) por mais de quatro horas na comissão parlamentar de inquérito que investiga irregularidades no futebol brasileiro. Para Althoff, o depoimento do presidente do Flamengo não convenceu. Pelo contrário, aprofundou a certeza de que Edmundo Santos Silva, com apoio de alguns dirigentes do clube, fez de tudo para obstruir os trabalhos da CPI.

Edmundo Santos Silva negou que qualquer tentativa de obstrução e assegurou que o Flamengo não faz remessas ilegais de recursos ao exterior.

- O clube pode ter erros formais de interpretação da legislação, mas jamais promoveu evasão de divisas e sonegação fiscal - disse o dirigente. Segundo ele, todas as operações estão registradas nos livros contábeis. Além disso, acrescentou, o clube vem realizando uma auditoria externa. Ele deu essas informações para tentar justificar uma conta aberta nas Ilhas Caymann, no valor de US$ 908 mil. Edmundo disse que a conta foi transferida de um banco de Nova York para o paraíso fiscal e encerrada em janeiro de 1999, tão logo ele assumiu a presidência do Flamengo.

A pedido da CPI, Edmundo Santos Silva se comprometeu a apresentar à comissão os extratos da conta, desde 1° de janeiro de 1989 até a data do encerramento. O dirigente informou que US$ 750 mil, do total de US$ 908 mil, foram usados para pagar o passe do jogador Beto. Mas o senador Geraldo Althoff estranhou que, ao encerrar a conta, a diretoria tivesse depositado US$ 750 mil na conta da empresa Gortim. Para Althoff, somente com a apresentação dos extratos bancários os fatos poderão ser esclarecidos.

Geraldo Althoff disse que Edmundo não enviou à comissão informações solicitadas pela relatoria em 30 de agosto, quando o presidente do Flamengo depôs na CPI pela primeira vez. Na ocasião, ele assumiu o compromisso de enviar os documentos, incluindo a sua declaração de Imposto de Renda. De acordo com Althoff, os valores declarados não correspondem a movimentação bancária do dirigente. O fato de não entregar os documentos solicitados indicaria, segundo Althoff, a falta de vontade do dirigente em colaborar com os trabalhos da comissão. Além disso, lembrou o relator, o dirigente vem recorrendo à Justiça para tentar bloquear os trabalhos da CPI.

A comissão também havia solicitado o contrato do jogador sérvio Petkovic. Recursos relacionados com a contratação do jogador teriam sido depositados em paraísos fiscais. Os senadores consideram nebulosa a negociação. Althoff exibiu uma entrevista gravada com o empresário Luiz Carlos Medeiros, um dos responsáveis pela contratação do jogador, na qual ele admite que a empresa Picoline recebeu do Flamengo a quantia de US$ 1,5 milhão pelos 15% a que teria direito o jogador. Edmundo Santos Silva informou que o contrato de Pet incluía a renúncia dos 15% do jogador. Tanto Althoff quanto o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PDT-PR) classificaram de nebulosa a transação, por não existir, inclusive, um contrato sequer. O relator disse ainda que o presidente do Flamengo não conseguiu acrescentar nada de novo e que caberá ao Ministério Público aprofundar as investigações, tão logo a CPI conclua os trabalhos.

Edmundo Santos Silva começou o depoimento assegurando que todas informações solicitadas haviam sido enviadas à CPI. No entanto, diante da negativa do relator, apresentou a justificativa de que cabe ao conselho deliberativo do clube aprovar as solicitações de documentos. "Não cabe somente ao presidente a decisão", justificou, garantindo que toda a documentação seria entregue dentro de 48 horas.

O presidente do Flamengo disse que,ao assumir a presidência do clube,herdou uma dívida de US$ 85 milhões de dólares, na maior parte contraída na gestão de Márcio Braga, agravada com as inúmeras transações de compra e venda de jogadores na gestão Kléber Leite.

30/10/2001

Agência Senado


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