Presidente do Novartis nega pressão para liberação de medicamento contra a leucemia



Em depoimento nesta quarta-feira (3) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades na atuação de organizações não-governamentais (ONGs) no Brasil, o presidente do laboratório farmacêutico Novartis, Andreas Strakus, negou que sua empresa tenha influenciado a decisão da ONG Núcleo de Apoio ao Paciente com Câncer (Napacan) de acionar o Ministério da Saúde para aquisição do medicamento Glivec, usado no combate à leucemia mielóide crônica.

Strakus confirmou que a empresa faz contribuições anuais de R$ 50 mil à Napacan, mas, na sua opinião, isso não determina a ação da ONG nem de sua presidente, Graça Marques, que, em depoimento na última reunião da CPI, também negou manter ligação com a empresa Novartis, admitindo receber recursos do laboratório.

Segundo Strakus, o resultado da atuação da ONG, que demandou na Justiça que o Sistema Único Saúde (SUS) incluísse o Glivec entre os medicamentos sujeitos a reembolso pelo Ministério da Saúde, causou problemas à Novartis. Ele informou que, à época, o medicamento ainda se encontrava em fase de testes e não estava disponível no Brasil em quantidade suficiente para atender à população.

O presidente da Novartis, maior indústria da área farmacêutica e de defensivos agrícolas no Brasil, informou que a ação do Glivec contra a leucemia foi divulgada pelo episódio de um brasileiro, que já havia sido desenganado pelos médicos. Esse paciente entrou em contato com o laboratório da empresa em Filadélfia (EUA) e foi enquadrado para testes do medicamento. Como o paciente foi curado, seu caso foi noticiado pela revista Veja, o que fez com que o remédio ganhasse notoriedade, desencadeando um processo de pressão para sua liberação junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Ministério da Saúde.

Esse clamor de familiares de doentes e até de políticos, disse Strakus, assim como a ação movida pela Napacan aceleraram o processo de compra do medicamento pelo SUS. Por cada frasco fornecido pelas secretarias estaduais de Saúde, o SUS reembolsa US$ 1.620, valor negociado pelo Ministério junto à empresa em setembro do ano passado. O governo conseguiu nesse processo uma redução de 33% no valor inicial apresentado pela Novartis. De acordo com Strakus, esse é o preço mais baixo de venda do remédio no mundo inteiro.

O presidente da Novartis também negou que o lobista Alexandre Paes dos Santos, investigado pelo Ministério Público por ação suspeita junto ao Ministério da Saúde para liberação de medicamentos, tenha feito contatos em nome do laboratório.




03/04/2002

Agência Senado


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